sexta-feira, 24 de abril de 2015

A Suécia se rende à Arábia Saudita
A chamada do embaixador veio um dia depois que o governo sueco anunciou que iria descontinuar as exportações de armamentos para a Arábia Saudita.
A reação árabe diante do que eles entenderam ser denegrir, de forma deliberada, a Arábia Saudita e o Islã foi de indignação. Em uma declaração os ministros das relações exteriores da Liga Árabe disseram: "os países árabes rejeitam totalmente a declaração de Wallström como irresponsável e inaceitável. ... A Constituição da Arábia Saudita se baseia na Sharia que protege o direito das pessoas e salvaguarda seu sangue, bens e honra".
Paralelamente em 9 de março o gabinete saudita, presidido pelo Custodiante das Duas Mesquitas Sagradas, Rei Salman, rejeitou qualquer acusação ao judiciário saudita, cujas decisões têm como base a lei islâmica e são "implementadas com imparcialidade com o intuito de manter a estabilidade e segurança do país".

A Suécia faz emendas

Não está claro o que motivou o rei saudita a reatar as relações diplomáticas com a Suécia. O que se sabe é que a Ministra das Relações Exteriores Wallström e o Primeiro Ministro Stefan Löfven se apressaram em salientar que jamais tiveram a intenção de ofender o Islã, que eles agora dizem ter feito grandes contribuições à civilização humana, nem ao reino saudita.
Três cartas para o Rei Salman, uma do Rei da Suécia Carl XVI Gustaf e duas do Primeiro Ministro Löfven, foram entregues em mãos em Riad por Björn von Sydow, um emissário do alto escalão do governo sueco. O conteúdo não foi divulgado, segundo a decisão do Ministério de Relações Exteriores da Suécia classificando-as como secretas. A decisão veio depois do ministério de relações exteriores ter alegado que não estava conseguindo localizá-las.
O Primeiro Ministro Löfven e a Ministra das Relações Exteriores Wallström disseram, diversas vezes, que as cartas não continham nenhum pedido de desculpas para a Arábia Saudita. De acordo com o jornal Expressen, contudo, a Arábia Saudita exigiu uma série de concessões da Suécia, uma das quais era um pedido de desculpas. Está claro que a impressão no mundo árabe é que a Suécia de fato apresentou um pedido de desculpas.
Afinal houve ou não um pedido de desculpas? O Primeiro Ministro da Suécia Stefan Löfven (direita) e o Rei Carl XVI Gustaf enviaram cartas pessoais ao Rei Salman da Arábia Saudita (esquerda). Löfven diz que as cartas não continham um pedido de desculpas exigido pela Arábia Saudita.
Löfven tem uma explicação um tanto diferente, intrincada talvez.
Em 28 de março o Expressen citou Löfven que teria dito: "nós explicamos (aos sauditas) que lamentamos se houve algo que poderia, porventura, ser entendido com uma crítica ao Islã, o que nunca fizemos". O Primeiro Ministro acrescentou que a Suécia nunca teve a intenção de fazer críticas ao Islã. Ele continua: "nós temos o maior respeito pelo Islã como religião".
Löfven estava ávido para enfatizar que a "Suécia ainda assim defende os direitos humanos. É de suma importância para nós que seja assim. Ao mesmo tempo também desejamos desenvolver a cooperação com a Arábia Saudita".
Como de costume na mídia sueca, o Expressen se absteve de perguntar ao primeiro-ministro se seus comentários devem ser considerados como indício de que a Suécia irá parar de criticar práticas islâmicas como torturar blogueiros, executar infiéis e oprimir as mulheres.

Um possível acordo

Por isso mesmo é difícil saber quais concessões a Suécia pode ter dado ao Rei Salman em troca da normalização das relações entre os dois países.
As seguintes podem ser levadas em consideração:
  • A Arábia Saudita pode dizer que a Suécia se retratou e a Suécia pode dizer que não.
  • A Suécia pode continuar alegando ser defensora dos direitos humanos, em geral, mas se compromete a baixar o tom das críticas aos abusos nos países islâmicos.
  • A Suécia jamais irá criticar novamente as práticas da sharia e jamais associará tais práticas ao Islã.
  • A Suécia pode até ter concordado em favorecer a causa do Islã em casa, prometendo por exemplo construir novas megamesquitas e permitir mais influência dos imãs locais e representantes dos estabelecimentos missionários islâmicos.
Caso a última concessão tiver sido realmente concedida, não será difícil para o governo sueco implementá-la. A Ministra da Cultura e Democracia Alice Bah Kuhnke, já tinha prometido iniciar uma "estratégia nacional contra a islamofobia". Na Suécia onde a "islamofobia" é interpretada como crítica ao Islã e à imigração em massa.
Se o acordo sueco-saudita for o que se supõe ser, a Arábia Saudita terá obtido um poder de veto, de fato, sobre partes da política externa da Suécia e talvez sobre as políticas internas.
Seja como for que se interprete o resultado do desentendimento diplomático, a Suécia sofreu uma imensa perda de credibilidade. De agora em diante será difícil levar a sério as alegações da Suécia de ser uma superpotência humanitária e feminista.
Tradução: Joseph Skilnik

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