Partido sem fundos
FSP
A ampliação do fundo partidário pelo Congresso começou como
impertinência e já vai se transformando numa confusão com lances cada
vez mais patéticos. No centro da farsa, encontra-se o PMDB.
Partiu do relator do Orçamento 2015, senador Romero Jucá (PMDB-RR), a
iniciativa de aumentar o fundo de R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões
(95% dos quais a serem partilhados entre 28 legendas representadas no
Congresso; os 5% restantes se dividem entre todas as agremiações
existentes).
A presidente Dilma Rousseff (PT) poderia ter vetado a cifra triplicada;
não o fez. Teria sofrido forte pressão, acredita-se, das hostes petistas
em pânico pela estiagem do manancial das empreiteiras ora implicadas na
Operação Lava Jato.
Esses foram os atos iniciais, de uma temeridade dramática. Ambos os
protagonistas, afinal, estão submetidos à inevitabilidade de um ajuste
nas contas do governo que deve lançar o país na recessão.
Diante de tamanho aperto, uma despesa adicional superior a meio bilhão
de reais nada tem de desprezível. A não ser, talvez, para o
vice-presidente da República, o também peemedebista Michel Temer.
"Prejudicar o ajuste fiscal não prejudica", afirmou o vice em visita a
Lisboa, após seu partido sugerir a Dilma vetar o novo valor. "O PMDB
teve essa preocupação, tendo em vista o ajuste fiscal. Mas as
importâncias, penso eu, não são tão significativas, mas são relevantes
para a atuação partidária."
Ou seja, um mesmo partido propõe aumentar a verba e depois pede que o
valor seja vetado, apesar de não considerá-lo exorbitante. Temer,
contudo, foi além: disse que parte dos recursos poderia ser
contingenciada pelo Planalto.
Entra em cena mais um peemedebista, Renan Calheiros (AL), presidente do
Senado. Critica Dilma por anunciar cortes nos fundos aprovados, que
deveria ter vetado.
Erram os dois. Calheiros, ao atacar a presidente por proposta feita em
realidade pelo correligionário; Temer, porque o fundo partidário é
despesa obrigatória, não pode ser contingenciada --o vice diz agora que o
PMDB cogita devolver até 25% do que lhe caberia.
Parece inacreditável, mas esse é o espetáculo real em cartaz na capital
do país. E esse é o partido com os atores mais profissionais disponíveis
em Brasília.
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