O dono da bola
Bernardo Mello Franco - FSP
BRASÍLIA - O deputado Eduardo Cunha não se contenta mais em
comandar a Câmara e derrubar ministros do governo. Ele agora quer mandar
nas duas casas do Congresso.
Este é o significado da ameaça que o peemedebista fez ao Senado nesta
quinta, com o objetivo de acelerar a terceirização ampla, geral e
irrestrita da mão de obra no país.
Cunha ficou irritado porque o senador Renan Calheiros, que não é
conhecido pelo empenho em defender os trabalhadores, afirmou que o tema
será analisado sem afobação.
O deputado ameaçou retaliar travando projetos do Senado que tramitam na
Câmara. "Pau que dá em Chico também dá em Francisco. Engaveta lá,
engaveta aqui", disse o deputado à repórter Andréia Sadi.
No início da semana, ele já havia prometido anular eventuais
modificações que sejam feitas pelo Senado. "A última palavra será da
Câmara. A gente derrubaria a decisão se o Senado desconfigurar",
desafiou.
Cunha tem atropelado quem tenta atravessar seu caminho. Na sessão que
librou a terceirização, cortou os microfones para calar ao menos três
colegas que o contestavam, incluindo o líder do governo.
Foi chamado de autoritário e acusado de atropelar o regimento, mas
conseguiu o que queria. Os deputados aprovaram o projeto nos moldes
pregados pelo lobby empresarial, liderado por Fiesp e CNI.
A atitude do presidente da Câmara, que se comporta como dono da bola, já
incomoda alguns senadores. "As declarações dele são no mínimo
desrespeitosas com o Senado", diz o petista Lindbergh Farias.
O clima azedo pode dar impulso a uma novidade. Nos últimos dias,
senadores de partidos como PT, PSB e PDT começaram a articular uma
frente para barrar pautas conservadoras que Cunha faz avançar a toque de
caixa entre os deputados.
Além da terceirização, querem vetar a redução da maioridade penal e o
Estatuto da Família, que ignora direitos de casais do mesmo sexo.
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