O verdadeiro Che
GuevaraHumberto Fontova - IMB
N. do T.: Todas
as informações e citações deste artigo podem ser encontradas em detalhes no
livro do autor: O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis que o Idolatram. Pedimos que o leitor tenha isto em mente antes de nos enviar qualquer
ofensa ou simplesmente postar comentários dizendo coisas vazias e sem substância
como "não concordo com o autor".
Há
quase 42 anos, Ernesto "Che" Guevara recebeu uma grande dose de seu
próprio remédio. Sem qualquer julgamento, ele foi declarado um
assassino, posto contra um paredão e fuzilado. Historicamente falando, a
justiça raramente foi tão bem feita. Se o ditado "tudo o que vai,
volta" expressa bem uma situação, é esta.
"Execuções?", gritou Che Guevara enquanto discursava na glorificada
Assembléia Geral da ONU, em 9 de dezembro de 1964. "É claro que
executamos!", declarou o ungido, gerando aplausos entusiasmados daquele
venerável órgão. "E continuaremos executando enquanto for necessário!
Essa é uma guerra de morte contra os inimigos da revolução!"
De acordo com O Livro Negro do Comunismo,
escrito por estudiosos franceses de esquerda (ou seja, dificilmente uma
mera publicação "direitista" ou de "fanáticos anticastristas de
Miami"), ocorreram 14.000 execuções por fuzilamento em Cuba até o final
de década de 1960. (Slobodan Milosevic, não custa lembrar, foi a
julgamento por ter ordenado 8.000 execuções. A mesma ONU que aplaudiu
delirantemente a orgulhosa declaração de Che Guevara condenou Milosevic
por "genocídio").
"Os fatos e números são incontestáveis", escreveu ninguém menos que o New York Times,
ícone da esquerda, sobre o "Livro Negro do Comunismo". Jose Vilasuso,
um cubano que à época era promotor dos julgamentos comandados por
Guevara, fugiu horrorizado e enojado com o que presenciou. Ele estima
que Che promulgou mais de 400 sentenças de morte apenas nos primeiros
meses em que comandava a prisão de La Cabaña. Um
padre basco chamado Iaki de Aspiazu, que sempre estava à mão para ouvir
confissões e fazer a extrema unção, diz que Che pessoalmente ordenou
700 execuções por fuzilamento durante esse período. Já o jornalista
cubano Luis Ortega, que conheceu Che ainda em 1954, escreveu em seu
livro "Yo Soy El Che!" que o número real de pessoas que Guevara mandou
fuzilar é de 1.892.
Em seu livro, Che Guevara: A Biography,
o autor Daniel James escreve que o próprio Che admitiu ter ordenado
"milhares" de execuções durante o primeiro ano do regime de Fidel
Castro. Felix Rodriguez, o agente cubano-americano da CIA que ajudou a
caçar Che na Bolívia e que foi a última pessoa a interrogá-lo, diz que
Che, em sua última conversação, admitiu "algumas milhares" de
execuções. Mas fez pouco caso delas, dizendo que todas as vítimas eram
"espiões imperialistas e agentes da CIA".
"Eu não preciso de provas para executar um homem", gritou Che para um
funcionário do judiciário cubano em 1959. "Eu só preciso saber que é
necessário executá-lo!"
As vítimas do regime fidelista, os "inimigos da revolução", foram uns
dos mais empreendedores e valentes lutadores do século XX, junto com os
Guerreiros da Liberdade Húngaros. Eles lutaram valente e
desesperadoramente, mesmo sabendo que praticamente não tinham chances.
Eles lutavam até a última bala; e, normalmente, lutavam até a morte. No
final, eram capturados, amordaçados e fuzilados por Che e seus
seguidores.
Os poucos sobreviventes vivem hoje em lugares como Miami e Nova
Jersey, e podem ser considerados os prisioneiros políticos mais longevos
e sofridos da história moderna. Porém, se você procurar sobre a
história deles na grande mídia, sua empreitada será em vão. Afinal,
eles lutaram contra a fina flor do esquerdismo chique. Sendo assim, o
heroísmo deles não é considerado um drama politicamente correto.
Por outro lado, a revista Time, por exemplo, classificou
honrosamente Che Guevara como uma das "100 Pessoas Mais Importantes do
Século". Não satisfeitos com tão incompleto louvor, também o colocaram
na seção "Heróis e Ícones", ao lado de Anne Frank, Andrei Sakharov, Rosa
Parks e Madre Teresa. Daqui em diante, as ironias vão ficando mais
ricas.
A mais popular versão da camiseta e do pôster de Che, por exemplo,
ostenta o slogan "Lute Contra a Opressão" sob sua famosa face. Essa é a
face de um homem que fundou um regime que encarcerou mais de seu
próprio povo do que Hitler e Stalin, e que declarou que "o
individualismo deve desaparecer!". Em 1959, com a ajuda dos agentes
soviéticos da GRU, o homem celebrado naquela camiseta ajudou a fundar,
treinar e a doutrinar a polícia secreta cubana. "Sempre interrogue seus
prisioneiros à noite", ordenava Che a seus capangas. "A resistência de
um homem é sempre menor à noite". Hoje, um mural com o retrato de Che —
o maior do mundo — adorna o Ministério do Interior, que é o
quartel-general da KGB cubana — a polícia secreta treinada pela STASI.
Nada poderia ser mais apropriado.
O boxeador Mike Tyson costumava comemorar suas vitórias erguendo seus braços em triunfo. Em
2002, ele visitou Cuba e tatuou uma enorme imagem de Che em seu torso.
Desde então, ele tem sido horrível e impiedosamente surrado em
absolutamente todas as suas lutas, um processo que é uma mímica perfeita
do histórico de combate de seu ídolo. Que Mike Tyson aprenda: Che era
de fato muito proficiente em castigar seus inimigos, milhares deles, mas
somente após estes estarem devidamente amarrados, amordaçados e
vendados — e creio que a Federação Nacional de Boxe não vai permitir
isso.
Quando a intelligentsia e todo o beautiful people
presente no Festival de Cinema de Sundance (que incluía variedades como
Al Gore, Sharon Stone, Meryl Streep e Paris Hilton) explodiu numa
extasiante ovação ao filme Diários de Motocicleta,
eles estavam aclamando um filme que glorificava um homem que havia
encarcerado ou exilado os melhores escritores, poetas e cineastas
independentes de Cuba, ao mesmo tempo em que transformava a imprensa e o
cinema — tudo sob a mira de metralhadores tchecas — em agências de
propaganda do regime stalinista.
O produtor executivo do filme, Robert Redford (que sempre inicia os
festivais discursando longamente sobre a importância da liberdade
artística), foi obrigado a exibir o filme para Fidel Castro e para a
viúva de Che (que chefia o Centro de Estudos Che Guevara, em Cuba) antes
de seu lançamento oficial, para ver se ambos aprovariam o resultado.
Até onde se sabe, não houve gritos e protestos de "censura!" e
"vendido!" para Redford.
As tietes de Che são muitas e variadas. Christopher Hitchens, por
exemplo, se maravilha com a "indomável rebeldia" de Che e nos assegura
em seu mesmo artigo no New York Times que "Che não era um
hipócrita". "1968 na verdade começou em 1967, com a morte de Che",
reconta Hitchens. "Sua morte significou muito pra mim, e para muitos
como eu, na época. Ele era um modelo para todos".
Johnny Depp gosta de ostentar o rosto de Che em seus pingentes,
blusas e bandanas. Tivesse ele nascido duas décadas antes em Cuba e
tentasse ostentar esse estilo rebelde que lhe é peculiar, certamente
teria sido enviado para um campo de concentração, onde seria obrigado a
cavar fossos e túmulos — um sistema que foi criado pela primeira vez na
América Latina exatamente pelo homem glorificado em seus adornos.
Já o célebre historiador Benicio Del Toro, que acaba de estrelar um
filme no papel de seu herói, diz que "Che foi um daqueles caras que
falavam e faziam. Era coerente. Sempre tem algo de cool em pessoas assim. Quanto mais vou conhecendo Che, mais o respeito".
Aparentemente Del Toro se entusiasmou tanto com a imagem cool de Che que esqueceu-se de examinar seu histórico, como comprova esse constrangedor vídeo em que uma jornalista cubana radicada em Miami humilha Del Toro, expondo toda sua ignorância sobre o passado de Che.
Nenhuma pessoa em seu perfeito juízo vestiria uma camiseta estampando
o rosto de Che. E nenhuma pessoa decente toleraria essa camisa em seus
arredores. Porém, a gravura de Che Guevara é considerada a imagem mais
reproduzida do século, embelezando desde camisetas e pôsteres, até
biquínis e skates, passando por celulares e fraldas. Hollywood o
glorifica em grandes produções e a revista Time o celebra como um ícone da mesma grandeza de Madre Teresa.
Quem foi Che Guevara?
Mas como um sujeito horrendo, vazio, estúpido, sádico e epicamente idiota conseguiu um status tão icônico?
A resposta é que esse nômade psicótico e completamente inexpressivo
chamado Ernesto Guevara teve a magnífica sorte de associar-se ao maior
assessor de imprensa da história moderna, Fidel Castro, que por meio
século sempre foi capaz de manter toda a imprensa mundial diligentemente
à espera de diretivas, correndo para ele a cada chamado seu, como
pombos treinados. Caso Ernesto Guevara De La Serna
y Lynch não tivesse se juntado a Raul e Fidel Castro na Cidade do
México naquele fatídico verão de 1955; caso ele não tivesse se
associado, um ano antes, a um exilado cubano na Guatemala chamado Nico
Lopez, que mais tarde o apresentou a Raul e Fidel Castro na Cidade do
México; tudo indica que Ernesto continuaria vivendo sua vida de viajante
vagabundo, mendigando e molestando mulheres, dormindo em albergues
inabitáveis e escrevendo poesia ilegível.
"Estou aqui nas montanhas de Cuba sedento por sangue", escreveu Che
para a sua esposa abandonada em 1957. "Querido pai, hoje descobri que
realmente gosto de matar", escreveu logo depois. O detalhe é que essa
matança de que ele gostava muito raramente era feita em combate; o que
ele gostava mesmo era de matar à queima-roupa homens e garotos amarrados
e vendados.
"Quando você via aquele olhar extasiado em sua face, enquanto as
vítimas eram amarradas aos postes e logo em seguido estouradas", disse a
esse escritor um ex-prisioneiro político, "você percebia que havia
algum distúrbio seriamente grave em Che Guevara".
De fato, a única façanha genuína na vida de Che Guevara foi o homicídio
em massa de homens e garotos indefesos. De sua própria arma, dezenas
morreram. Sob suas ordens, milhares foram aniquilados. Em tudo o mais
que fez, Che fracassou abismalmente, até hilariamente. (Em um episódio
cômico, durante a invasão da Baía dos Porcos, Che e seus homens estavam
em um lugar completamente diferente da parte da ilha em que estava
ocorrendo a ação. Mesmo assim, alguns exilados cubanos mandaram em sua
direção um pequeno barco carregado de fogos de artifício, uma mera
tática de distração. O despreparado Che, liderando seus homens para uma
ofensiva contra um barco completamente vazio, conseguiu a façanha de
atirar em si próprio, acertando sua mandíbula. Deve ser um caso raro de
um soldado que se fere sozinho com sua arma quando não há inimigo algum
por perto...)
Seus escritos revelam um jovem severamente problemático. "Minhas
narinas se dilatam quando aprecio o odor acre da pólvora e do sangue.
Louco de fúria, mancharei de vermelho meu rifle estraçalhando qualquer
inimigo que caia em minha mãos! Com a morte de meus inimigos preparo
meu ser para a sagrada luta, e juntar-me-ei ao proletariado triunfante
com um berro bestial!"
O termo "ódio" era uma constante em seus escritos: "Ódio como um
elemento de luta"; "um ódio que é intransigente"; "um ódio que é tão
violento que impulsiona um ser humano para além de suas limitações
naturais, fazendo dele uma violenta e fria máquina de matar."
Dentre suas perturbadas fantasias, a mais proeminente era a
implementação de um reino continental stalinista. Para atingir esse
ideal, o jovem problemático almejava "milhões de vítimas atômicas".
O perturbado jovem argentino também era arredio e desprezava todos ao
seu redor: "Não tenho casa, não tenho mulher, não tenho pai, não tenho
mãe, não tenho irmãos. Meus amigos só são amigos quando eles pensam
ideologicamente como eu".
Felizmente para ele, quando ainda era um vagabundo na Cidade do
México, teve a sorte de encontrar um homem cujo julgamento sobre a
psique humana era extremamente perspicaz. Este homem, um exilado
cubano, diagnosticou corretamente a psicose do argentino e fez uma
"intervenção" no momento certo, canalizando os talentos e anseios deste
jovem problemático para fins considerados construtivos pela intelligentsia mundial: o estabelecimento do stalinismo.
Rapidamente o argentino se viu lucrativamente empregado em Cuba. Seu
intenso desejo por sangue foi amplamente satisfeito no extermínio de
cubanos anticomunistas, uma espécie mamária que os iluminados de todo o
mundo consideram uma peste insuportável.
De início, o perturbado jovem argentino assumiu o papel de principal
executor dos homicídios em massa de cubanos indefesos, estraçalhando os
crânios de suas vítimas — que jaziam convulsionadas no chão — com tiros
de sua própria pistola. Mas dado o aumento no volume de serviço, a
tarefa acabou se tornando fatigante, o que fez com que o argentino
designasse alguns capangas cubanos para o trabalho, facilitando dessa
forma a matança em série.
Não que ele tenha se distanciado da carnificina. Na realidade, ele
se deliciava tanto com o processo que uma janela especial foi construída
em seu escritório, permitindo que ele visse e se regozijasse com a
orgia sangrenta no campo logo abaixo de sua janela.
Em um famoso discurso em 1961, Che denunciou o "espírito de rebeldia"
como sendo algo "repreensível". "A juventude deve abster-se de
questionar de modo ingrato as ordens governamentais", ordenou Guevara.
"Em vez disso, ela deve se dedicar completamente aos estudos (marxistas), ao trabalho (para o governo) e ao serviço militar (para matar os desobedientes)".
E ai daqueles jovens "que ficarem acordados até tarde da noite e chegarem atrasados para o trabalho (forçado pelo governo)".
Os jovens, escreveu Guevara, "devem aprender a pensar e a agir como uma
massa única". "Aqueles que escolherem o próprio caminho" (como deixar o
cabelo crescer e ouvir música imperialista ianque) serão denunciados
como "dejetos" e "delinquentes". Em seu famoso discurso, Che Guevara
até mesmo jurou "fazer com que o individualismo desapareça de Cuba! É
criminoso pensar como indivíduos!"
Dezenas de milhares de jovens cubanos aprenderam que as ameaças de
Che Guevara eram mais do que mera linguagem bombástica. Centenas de
soviéticos da KGB e "consultores" da STASI da Alemanha Oriental, que
inundaram Cuba no início da década de 1960, encontraram em Guevara um
acólito extremamente zeloso. Já em meados dos anos 60, o crime de se
parecer com um "roqueiro" ou ter um comportamento efeminado fez com que a
polícia secreta cubana retirasse das ruas e parques de Cuba milhares de
jovens e os jogassem em campos de concentração que tinham os dizeres "O
Trabalho Fará de Você um Homem" em seu portão principal, bem como
homens com metralhadoras localizados estrategicamente em torres de
observação. As iniciais desses campos eram UMAP, mas eles em nada diferiam de um GULAG.
Cuba antes da revolução
O mito popular é que Cuba era um país com uma economia desintegrada e que Fidel melhorou a vida dos cubanos. Será?
Nos meses seguintes à revolução cubana, por exemplo, o economista
tcheco Radoslav Selucky visitou Cuba e tomou um susto: "Pensávamos que
Cuba fosse um país subdesenvolvido que tivesse apenas algumas refinarias
de açúcar!", escreveu quando voltou a Praga. "Mas não! Quase 25% da
força de trabalho de Cuba estava empregada na indústria, onde os
salários eram iguais aos salários pagos nos EUA!"
Agora, eis as palavras do próprio Che Guevara em 1961, após retornar a
Cuba, junto com seus subordinados, de uma longa viagem ao Leste
Europeu: "Não podemos dizer que só vimos maravilhas naqueles países",
admitiu Che. (Considerando-se a natural propensão do povo cubano para o
sarcasmo, é provável que Che tenha dito isso em resposta às zombarias e
risadas de seus subalternos, que possivelmente ridicularizaram as —
para eles — patéticas condições socioeconômicas das principais capitais
do Leste Europeu — as quais Cuba deveria emular!)
"É natural que, para um cubano do século XX, acostumado a todos os
luxos que o imperialismo lhe deu", escreveu Che Guevara, "muito do que
ele viu (no Leste Europeu) parecesse-lhe algo típico de países
subdesenvolvidos".
Mas não se intimide! Logo após se tornar ministro da economia de
Cuba, Guevara já tinha planejado como tirar aquele sorriso de escárnio
do rosto dos cubanos.
Como o Czar da economia cubana, Che transformou uma nação que tinha
uma renda per capita maior do que metade dos países da Europa, a menor
taxa de inflação do Ocidente, uma classe média maior que a da Suíça, um
enorme fluxo de imigrantes e cujos trabalhadores desfrutavam a oitava
maior taxa salarial do mundo, em uma nação que causa repúdio até nos
haitianos. E isso mesmo após receberem abundantes subsídios dos
soviéticos, cujo total foi igual a dez Planos Marshall (isso para uma
nação de apenas 6,4 milhões de habitantes) — um feito econômico que
desafia não somente as leis econômicas mas que também parece desafiar a
física. Se tem uma coisa com que os exilados cubanos concordam
inteiramente com Fidel e Che é que eles são ícones do Terceiro Mundo.
Afinal, ambos certamente conseguiram o feito aparentemente impossível de
converter Cuba em uma nação do Terceiro Mundo.
Utilizemos agora um estudo da ONU (ninguém menos!) sobre Cuba, de
1958. "Cuba possui uma enorme vantagem em sua integração nacional — em
comparação aos outros países da América Latina — por causa de sua enorme
e homogênea base de imigrantes espanhóis brancos. A pequena população
negra de Cuba também é culturalmente integrada. Aqueles modos de
produção feudal que existem no resto da América Latina não existem em Cuba. O
camponês cubano não se parece com o camponês do resto da América
Latina, que está preso à terra, é tradicionalista e se opõe às inovações
que o levariam a uma economia de mercado. O camponês cubano, em todos
os aspectos, é um homem moderno. Ele possui um nível educacional e uma
familiaridade com métodos modernos que não é vista no resto da América
Latina".
Outra verdade escondida: "os trabalhadores pobres" não tiveram
participação alguma na Revolução Cubana. A rebelião anti-Batista foi
liderada e composta predominantemente por membros da classe média
cubana, principalmente da classe média alta. Em agosto de 1957, o
movimento rebelde liderado por Fidel organizou uma "Greve Nacional"
contra a ditadura de Batista — e ameaçou matar os trabalhadores que
aparecessem para trabalhar. A "Greve Nacional" foi completamente
ignorada.
Outra greve foi organizada para o dia 9 de abril de 1958. E
novamente os trabalhadores cubanos ignoraram solenemente seus
"libertadores", comparecendo em massa para trabalhar.
Eis um outro relatório, agora da UNESCO, sobre Cuba, em 1957: "Uma característica da estrutura social de Cuba é sua grande classe média",
começa o relatório. "Os trabalhadores cubanos são mais sindicalizados
(proporcionalmente à sua população) do que os trabalhadores americanos.
O salário médio para uma jornada de 8 horas diárias em Cuba em 1957 é
maior do que para os trabalhadores da Bélgica, Dinamarca, França e
Alemanha. A mão-de-obra cubana recebe 66,6% da renda interna bruta.
Nos EUA, esse valor é de 70% e na Suíça, 64%. 44% dos cubanos são
atendidos pela legislação social, uma porcentagem maior que a dos EUA."
Em 1958, Cuba tinha uma renda per capita maior que a da Áustria e do Japão. Os trabalhadores da indústria cubana recebiam o oitavo maior salário do mundo. Na década de 50, os estivadores cubanos ganhavam mais por hora do que seus equivalentes em Nova Orleans e em São Francisco. Cuba
já havia estabelecido a jornada de 8 horas diárias em 1933 — cinco anos
antes de Roosevelt e seu New Deal imporem a mesma regra. E mais: um
mês de férias pagas. As tão aclamadas (pela esquerda) socialdemocracias
da Europa só conseguiram implementar esse sistema 30 anos depois.
A mortalidade infantil em 1958 era a 13ª mais baixa — não da América
Latina ou do Ocidente, mas do mundo. O analfabetismo já estava quase
erradicado. Cuba era o país que mais gastava (23% do orçamento) com
educação pública em toda a América Latina. Mais ainda: os cubanos não
eram apenas alfabetizados; eram também cultos. Podiam ler George Orwell
e Thomas Jefferson, bem como a arrebatadora sabedoria e cintilante
prosa de Che Guevara.
A rebelião anti-Batista (e não revolução), como dito,
estava apinhada de universitários e profissionais liberais. Advogados
desempregados abundavam (Fidel Castro, por exemplo). Observe a
composição do primeiro gabinete da "revolução camponesa", composta pelos
líderes do movimento anti-Batista: 7 advogados, 2 professores
universitários, 3 estudantes universitários, 1 médico, 1 engenheiro, 1
arquiteto, 1 ex-prefeito e coronel que desertou do exército de Batista.
Um grupo notoriamente "burguês", como poderia dizer Che.
Já em 1961, entretanto, operários e campesinos formavam a grande
maioria dos rebeldes anti-Castro, principalmente as guerrilhas das
montanhas Escambray. Quem é que já ouviu falar de camponeses pobres
lutando contra seus benfeitores Fidel e Che?
Antes de Castro tomar o poder, Cuba recebia mais imigrantes
(principalmente da Europa) em proporção à sua população do que os EUA. E
mais americanos viviam em Cuba do que cubanos viviam nos EUA. Ademais,
naquela época, pneus, barris e caixas de isopor eram apenas isso, e não
itens estimados no mercado negro para serem utilizados como
dispositivos de flutuação marítima, sujeitando seus usuários — ingratos
que fogem de seus libertadores — a tubarões e intempéries da natureza.
Em 1958, Cuba passava por uma rebelião, não uma revolução. Os cubanos queriam mudanças políticas e não um cataclisma socioeconômico.
É uma questão de história o fato de que em janeiro de 1959 os EUA
deram seu reconhecimento diplomático ao regime de Fidel/Che mais
rapidamente do que reconheceram o de Batista em 1952. Os arquivos do
Departamento de Estado americano também mostram que os EUA impuseram um
embargo de armas ao governo Batista e se recusaram a enviar armas pelas
quais o governo cubano já havia pagado. Os arquivos oficiais
também documentam que o embaixador americano Earl T. Smith avisou
pessoalmente Batista que ele não mais tinha o apoio do governo
americano, que recomendava fortemente que ele deixasse Cuba. Batista
teve seu asilo político negado nos EUA.
Em 2001, em uma visita a Havana para uma conferência com Fidel
Castro, Roberto Reynolds, o agente da CIA para o Caribe, responsável
pelo gerenciamento da Revolução Cubana entre 1957 e 1960, declarou
orgulhosamente que "Eu e toda a minha equipe éramos fidelistas".
Robert Weicha, ex-agente da CIA lotado em Santiago de Cuba declarou
que "Todos na CIA e todos no Departamento de Estado eram pró-Castro,
exceto o embaixador Earl Smith."
Não obstante, você aprendeu em seus livros de história que "Che
Guevara ajudou a derrubar o ditador cubano Fulgencio Batista, que era
apoiado pelos EUA".
A Cuba de Fidel
A influência que Fidel Castro exerce sobre a intelligentsia só
pode ser descrita como mágica, o que torna qualquer avaliação pública
de seu regime por esses iluminados completamente despida de lógica. A
saber:
Ele encarcerou e torturou a uma taxa maior do que Stalin e se recusa
(diferentemente da África do Sul do apartheid, do Chile de Pinochet e da
Nicarágua de Somoza) a permitir que a Anistia Internacional ou a Cruz
Vermelha inspecionem suas prisões. Não obstante, Cuba ocupou a cadeira
do Comitê de Direitos Humanos da ONU, e quando de sua visita a Nova York
como o palestrante principal em 1995, a revista Newsweek aclamou Castro como "O Ticket Mais Quente de Manhattan", e a Time
disse que ele era "A Celebridade de Manhattan", em referência ao enxame
de pessoas da alta sociedade que o rodeavam e bajulavam pedindo
autógrafos.
Seu código penal ordena 2 anos de prisão para qualquer um que seja
ouvido fazendo uma piada qualquer sobre ele. Não obstante, Jack
Nicholson e Chevy Chase constantemente cantam-lhe glórias.
Ele aboliu o habeas corpus e o seu principal executor (o próprio Che
Guevara) declarou que "evidências jurídicas são um arcaico detalhe
burguês". Não obstante, a Escola de Direito de Harvard convidou-o como
palestrante de honra e constrangedoramente irrompia em aplausos
estrepitosos e ovações tumultuadas a cada três frases dele.
Ele expulsou uma maior porcentagem de judeus de Cuba do que o Czar
Nicolau da Rússia. Entretanto, o fundador da Shoah Foundation, Steven
Spielberg, considera o jantar que teve com Fidel "as oito horas mais
importantes da minha vida".
Ele é o filho de um soldado europeu, branco como o lírio, que
forçosamente derrubou um governo cubano em que negros ocupavam os cargos
de presidente do Senado, ministro da Agricultura, ministro do Exército e
Chefe de Estado (Fulgencio Batista, neto de escravos, nasceu em uma
choupana com teto de palmeira). Ele encarcerou um prisioneiro político
negro pelo período mais longo da história moderna (Eusebio Penalver, que
sofreu mais tempo na masmorra de Castro do que Nelson Mandela sofreu
nas masmorras da África do Sul). Hoje, de toda a população presa na
Cuba stalinista/apartheidiana, 90% é composta por negros, ao passo que
apenas 9% dos integrantes do partido stalinista dominante são negros.
Ele sentenciou outros negros (Dr. Elias Biscet, Jorge Antunez) a 20 anos
de prisão apenas por terem citado frases de Martin Luther King em praça
pública. Não obstante, é tido como herói por negros como Danny Glover,
Jesse Jackson e Charles Rangel, que não hesitam em dar-lhes fortes
abraços.
Apesar de ter transformado uma nação que tinha uma renda per capita
maior do que metade dos países da Europa, a menor taxa de inflação do
Ocidente, uma classe média maior que a da Suíça e um enorme influxo de
imigrantes em uma nação que causa repúdio até nos haitianos, Colin
Powell e o London Times reconhecem "as conquistas sociais da revolução fidelista".
Hoje, trata-se de um regime que prende qualquer um que tente viajar
de uma província de Cuba a outra sem os devidos "papeis" fornecidos pelo
estado policial, e que metralha qualquer um que tentar sair do país.
Os feitos de Che
Ernesto "Che" Guevara era o vice-comandante, o carrasco-chefe e o
principal contato da KGB em um regime que proibiu eleições e aboliu a
propriedade privada. A polícia desse regime, supervisionada pela KGB e
empregando a tática da "visita da meia-noite" e do "ataque pela manhã",
capturou e enjaulou mais prisioneiros políticos em proporção à população
do que Stalin e executou mais pessoas (em uma população de apenas 6,4
milhões) em seus primeiros 3 anos no poder do que Hitler (que comandava
uma população de 70 milhões) em seus primeiros 6 anos.
O regime que Che Guevara ajudou a fundar confiscou a poupança e a
propriedade de 6,4 milhões de cidadãos e tornou refugiada 20% da
população de uma nação até então inundada de imigrantes e cujos cidadãos
haviam atingido um padrão de vida maior do que o padrão daqueles que
residiam em metade da Europa. O regime de Che Guevara também destroçou —
por meio de execuções, encarceramentos, expropriação em massa e exílio —
virtualmente cada família da ilha cubana. Muitos oponentes do regime
podem ser classificados como os prisioneiros políticos mais longevos da
história moderna, tendo sofrido no Gulag guevarista — campos de
concentração, trabalhos forçados e câmaras de tortura — durante um
período de tempo três vezes maior do que Alexander Solzhenitsyn sofreu
no Gulag stalinista.
Com apenas uma semana no poder, Che já havia abolido o habeas
corpus. Além de afirmar que evidências judiciais eram detalhes
burgueses arcaicos, ele complementava garbosamente dizendo que
"executamos por convicção revolucionária!". Edwin Tetlow,
correspondente do Daily Telegraph londrino em Havana, relatou sobre um
"julgamento" em massa orquestrado por Che em que as sentenças de morte
já estavam postadas em um quadro antes do julgamento começar.
Ele assinava seu nome como "Stalin II", professava que "as soluções
para o mundo estão atrás da Cortina de Ferro", e dizia confiantemente
que "se os mísseis nucleares tivessem permanecido em Cuba, teríamos
disparado contra o coração dos EUA, incluindo Nova York". Ele também
afirmava que pela vitória do socialismo era válido ter "milhões de
vítimas atômicas".
Imediatamente após marchar vitorioso em Havana, Guevara saqueou e
depois se mudou para aquela que provavelmente era a mais luxuosa mansão
de Cuba. O proprietário dela havia conseguido fugir do país após ser
caçado por um pelotão de fuzilamento, e o repórter que escreveu sobre a
nova casa de Che em um jornal cubano foi ameaçado de morte por
fuzilamento. Um ano depois, milhares de cubanos foram mandados para
campos de trabalho forçado sob ordens de Che, tudo baseado em seu desejo
de moldar "um novo homem".
Comemorou efusivamente a invasão soviética e o consequente massacre
de milhões de húngaros que resistiram ao imperialismo russo. De acordo
com Guevara, aqueles húngaros que lutavam pela liberdade e resistiam à
escravidão eram todos "fascistas e agentes da CIA".
Apesar de seus fãs dizerem pomposamente que ele foi um médico
formado, ninguém até hoje, após inúmeras tentativas, conseguiu localizar
qualquer histórico sobre seu diploma de medicina. Logo após ser
capturado na Bolívia, Che admitiu para o comandante da operação, o
Capitão Gary Prado, que ele não era médico, mas tinha "algum
conhecimento de medicina".
Dois heróis
Zoila Aguila
Em sua campanha de realocação e concentração de prisioneiros — que
apequenava tudo que os britânicos fizeram aos Bôeres — os garbosos
comunistas saquearam centenas de milhares de cubanos, despojando-os de
suas casas e agrupando-os em campos de concentração no lado oposto de
Cuba. Tive a oportunidade de entrevistar várias dessas famílias
"realocadas".
Uma dessas cubanas, esposa de um trabalhador rural, recusou-se a ser
realocada. Após seu marido, filhos e sobrinhos terem sido todos
assassinados pelo Galante Che e seus capangas, ela conseguiu apoderar-se
de uma submetralhadora e de um pente de balas e se refugiou nas
montanhas. Ela acabou se tornando uma rebelde. Os cubanos a conhecem
como La Niña Del Escambray.
Ela passou um ano embrenhada nas montanhas, fugindo dos comunistas
que varreram todas as localidades à sua procura. Até que um dia seu
suprimento de munição acabou e os vermelhos a capturaram.
Espantosamente, ela não foi executada (Che deve ter tirado um dia de
folga), porém, durante anos, La Niña sofreu horrivelmente nas masmorras de Fidel (você pode ler as descrições das torturas aqui). Após ser solta, refugiou-se em Miami (na década de 60 ainda se podia sair de Cuba).
Você acha que tal história é louvada por Oprah Winfrey? Acha que
Hollywood está interessada em narrá-la, tendo Susan Sarandon no papel
principal? Pense bem: temos aqui um dos temas favoritos dos produtores
de Hollywood e das feministas em geral: a mulher brava e lutadora.
Dificilmente uma mulher pode ser mais aguerrida do que Zoila Aguila, seu
nome verdadeiro. Se ela tivesse lutado contra, digamos, Pinochet ou
Somoza, certamente Hollywood e os editores de livros estariam dedicando
toda atenção a ela. Mas como ela lutou contra os garotos mais
fotogênicos e queridos da esquerda, naturalmente ninguém nunca ouviu
falar dela.
Tony Flores
Após chegar a Havana em janeiro de 1959, Che Guevara imediatamente percebeu que o fosso ao redor da fortaleza La Cabaña era uma cova perfeita para jogar seus executados. Em Babi-Yar, em Kiev, a SS de Hitler teve de cavar suas fossas. Em La Cabaña, Che Guevara havia encontrado uma já pronta.
Em 1961, um garoto de 20 anos chamado Tony Chao Flores, utilizando
muletas e mancando pesadamente, chegou ao local onde seria executado.
Ele já havia tomado 17 tiros de metralhadoras tchecas quando os capangas
de Fidel e Che o capturaram. No caminho para esse seu local de
execução, que ficava na velha fortaleza espanhola transformada em prisão
e em centro de execução por Che Guevara, Tony foi forçado a descer
mancando, sem quaisquer condições físicas e utilizando apenas muletas,
uma longa escada feita de pedras esquadradas. Tony tropeçou, caiu e foi
rolando a longa escadaria, até finalmente chegar ao chão, debatendo-se e
gritando de dor. Uma das pernas de Tony, completamente baleada por
metralhadoras, havia sido amputada, e a outra estava gangrenada e
coberta de pus. Os guardas fidelistas, gargalhando, foram na direção de
Tony para amordaçá-lo para que ele parasse de gritar.
Enquanto eles se aproximavam, Tony cerrou o punho de sua única mão
que ainda estava boa. Quando o primeiro vermelho se aproximou dele —
BASH! — Tony deu-lhe um soco bem no olho.
"Nunca consegui entender como Tony conseguiu sobreviver àquela
surra", disse Hiram Gonzalez, testemunha e ex-prisioneiro político, que
observou toda a cena de sua cela na prisão de La Cabaña. O
aleijado Tony quase foi morto no espancamento que se originou a seguir,
que envolveu chutes, socos e golpes de arma. Até que finalmente seus
agressores se levantaram ofegantes, esfregando seus arranhões e
machucados. Eles haviam conseguido amordaçar a boca do garoto, mas Tony
conseguiu empurrar os guardas antes que eles conseguissem amarrar suas
mãos. O comandante Guevara ordenou que seus capangas se mantivessem
afastados de Tony, ainda no chão e com a boca amordaçada.
Tony começou a rastejar em direção ao já estilhaçado e ensanguentado poste de execução, que estava a uns 45 metros
de distância. Ele foi se arrastando lentamente utilizando suas mãos,
enquanto o toco do que restou da sua perna ia deixando um rastro de
sangue na grama. Quando chegou perto do poste, ele parou, virou-se para
seus executores e começou a bater no próprio peito. Os capangas
ficaram perplexos. O garoto aleijado estava tentando dizer alguma
coisa. Mas sua mensagem estava abafada pela mordaça que o ídolo de
Benicio Del Toro havia tornado obrigatória para suas milhares de
vítimas.
A expressão de dor e os olhos brilhantes de Tony diziam tudo. Mas
ninguém conseguia entender os murmúrios do garoto. Tony continuava
batendo no peito, fechando seus olhos com força por causa da dor intensa
oriunda de seu esforço. Seus executores ficaram nervosos, sem saber o
que fazer. Levantaram e abaixaram seus rifles seguidas vezes. Olharam
para seu comandante, que deu de ombros. Finalmente Tony levou a mão à
sua face e arrancou a mordaça que o garoto propaganda de Del Toro havia
mandado pôr nele.
A voz do guerreiro de 20 anos saiu num grito forte: "Atire BEM
AQUI!", urrou Tony para seus boquiabertos carrascos. Sua voz foi um
estrondo e sua cabeça se inclinou para trás como consequência do
esforço. "Bem aqui no PEITO!", gritou Tony. "Como um HOMEM!" Tony
rasgou sua blusa, bateu em seu peito e com uma forte expressão de dor
gritou para seus embasbacados executores: "Bem AQUI!".
Em seu último dia de vida, quando estava na prisão, Tony recebeu uma
carta de sua mãe: "Meu querido filho, quantas vezes havia lhe falado
para não se envolver com essas coisas... Mas eu sabia que minhas
súplicas eram em vão. Você
sempre lutou por sua liberdade, Tony, mesmo quando ainda era uma
criança. Portanto eu sabia que você jamais toleraria o comunismo.
Castro e Che enfim pegaram você. Meu filho, amo você do fundo do meu
coração. Minha vida agora está em pedaços e nunca mais será a mesma. A
única coisa que resta agora, Tony... é morrer como um homem".
"FUEGO!!!", gritou Che. As balas despedaçaram o corpo mutilado de
Tony, logo após ele ter chegado ao poste, se erguido por conta própria e
encarado resolutamente seus assassinos. Mas o pelotão de fuzilamento
de Che estava acostumado a matar pessoas que estavam de pé. Por estar
sem uma perna, Tony era um alvo mais difícil. Assim, boa parte da
saraivada de balas não acertou o jovem. Ainda vivo, era a hora do golpe
de misericórdia.
Normalmente, um projétil de .45 é suficiente para esmagar um crânio.
De acordo com testemunhas, três foram despejadas no crânio de Tony.
Parece que a mão do carrasco estava tremendo muito. Mas finalmente
conseguiram matá-lo. O homem que a revista Time aclama como
sendo um dos "heróis e ícones do Século" adicionava mais uma vítima à
sua coleção. Mais um inimigo despachado — amarrado e amordaçado, como
de costume.
Fidel e Che tinham por volta de 35 anos quando mataram Tony. De acordo com o Livro Negro do Comunismo,
seu pelotão de fuzilamento matou outros 14.000 guerreiros da liberdade,
todos devidamente amarrados e amordaçados. Muitos (talvez a maioria)
de suas vítimas eram jovens por volta de 20 anos. Alguns eram ainda
mais novos.
O fim de Che
Durante todo esse processo, o argentino estava ajudando seu mentor
cubano a estabelecer um controle feudal e pessoal que se comprovaria
bastante duradouro. Porém, o que pouco se comenta é que a utilidade do
argentino para seu mentor não era absolutamente nada duradoura — e logo
seu "martírio" passou a ser habilmente planejado.
Pena que Del Toro e Steven Sorderbergh, diretor de seu novo filme Che
— O Argentino, não tenham entrevistado os ex-funcionários da CIA que
revelaram a esse escritor como o próprio Fidel Castro, por meio do
Partido Comunista Boliviano, constantemente informava a CIA sobre os
paradeiros de Che na Bolívia. As diretivas de Fidel para os comunistas
bolivianos em relação a Che e seu bando eram claras. "Nem mesmo uma
aspirina", instruiu o líder máximo de Cuba a seus camaradas bolivianos, o
que significa que os comunistas da Bolívia estavam proibidos de
auxiliar Che de qualquer forma — "nem mesmo com uma aspirina", caso Che
reclamasse alguma dor de cabeça.
Ainda antes da Revolução, quando estavam em um barco decrépito
navegando nas águas turbulentas que ligam Yucatán até a província
Oriente, em Cuba, um dos rebeldes encontrou Che caído inconsciente na
cabine do barco. Ele correu para avisar o Comandante: "Fidel, parece
que Che está morto!"
"Bom, se ele está morto", respondeu Castro, "então joguem-no ao
mar". Na verdade, Guevara estava sofrendo dos efeitos combinados de um
enjôo marítimo e um ataque de asma. Che nunca foi considerado um membro
inestimável por Fidel.
Mais do que sua crueldade, megalomania e estupidez épica, o que mais
distinguia Ernesto "Che" Guevara de seus companheiros era sua manhosa
covardia. Suas tietes podem ficar zangadas o quanto quiserem, bater a
porta do quarto, cair na cama, espernear e chorar abraçadinhas com o
travesseiro, mas o fato é que Che se entregou voluntariamente ao
exército boliviano e a uma distância segura. Foi capturado em ótimas
condições físicas e com sua arma completamente carregada.
Um dia antes de sua morte na Bolívia, Che Guevara, pela primeira vez
em sua vida, finalmente enfrentou algo que podia ser adequadamente
chamado de combate. Então ele ordenou a seus guerrilheiros que não
cedessem um milímetro, que lutassem até o último suspiro e até a última
bala.
Com seus homens fazendo exatamente o que ele ordenou (lutando e
morrendo até a última bala), um Che ligeiramente ferido evadiu-se do
tiroteio e se entregou com um pente cheio de balas em sua pistola,
enquanto choramingava manhosamente para seus capturadores: "Não atirem!
Sou Che! Valho mais para vocês vivo do que morto!"
E então ele rebaixou-se desavergonhadamente, tentando
desesperadamente se engraçar: "Qual é o seu nome, meu jovem?", perguntou
Che a um de seus capturadores. "Ora, mas que nome bonito para um
soldado boliviano!"
E mais tarde: "E então, o que eles vão fazer comigo?", perguntou Che
ao capitão boliviano Gary Prado. "Não creio que irão me matar.
Certamente sou muito mais valioso vivo... E o senhor, capitão Prado",
adulou Che, "o senhor é uma pessoa muito especial... Andei conversando
com alguns de seus homens. Todos lhe têm em alta estima, capitão! E
não se preocupe, tudo isso aqui acabou. Nós fracassamos." E então,
para adular ainda mais, "seu exército nos perseguiu muito obstinadamente
... agora, será que o senhor por favor poderia descobrir o que eles
planejam fazer comigo?"
O prazer que Che Guevara tinha em matar cubanos só era possível
porque esses cubanos estavam completamente indefesos no momento.
Amarrados e vendados, de preferência. E dessa forma eles eram alinhados
de frente para o pelotão de fuzilamento e executados. Porém, quando o
cenário se alterou e as armas de fogo estavam em posse de outros, o
argentino tremeu de medo.
Compare a morte de Tony Chao Flores — "Atire bem aqui! Como um
homem!" — com a captura de Guevara: "Não atirem! Sou Che! Valho mais
para vocês vivo do que morto!"
E então pergunte a si próprio: quem deveria ter sua face exposta em
camisetas vestidas por jovens que gostam de fantasiar, se imaginarem
rebeldes, bravos e adoradores da liberdade? Quem merece um filme de
Hollywood?
Humberto Fontova é o
autor de Fidel:
Hollywood's Favorite Tyrant e O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis que o Idolatram.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque
segunda-feira, 31 de março de 2014
Armas, drogas, distintivos e cartéis
Gary North - IMB
"Será que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o homicídio irão obedecer às leis de desarmamento?" — Thomas Sowell
Sempre observo com grande interesse todos os debates sobre desarmamento e controle de armas, e venho fazendo isso há praticamente 50 anos. Já ouvi os oponentes do desarmamento invocarem este argumento de Sowell. Não me lembro de ter ouvido nenhuma resposta a ele. Nenhum desarmamentista jamais forneceu uma resposta. Eles simplesmente ignoram o desafio. Eles fingem que ninguém fez uma pergunta.
Curiosamente, eleitores contrários ao desarmamento seguem votando em políticos desarmamentistas, políticos que não respondem ao desafio de Sowell. Os eleitores nem sequer questionam essa postura fugidia dos políticos. É verdade que, no geral, os eleitores defendem algum tipo de controle de armas. A maioria não defende o desarmamento completo, mas eles defendem severas restrições à venda de armas e aos modelos que podem ser comercializados. E, com isso, políticos desarmamentistas seguem sendo reeleitos, e sem jamais serem questionados acerca de sua postura racionalmente contraditória.
A lei do desarmamento é tão eficaz quanto as leis anti-drogas: ninguém realmente espera que leis anti-drogas irão eliminar o uso de drogas ilegais. Porém, como os eleitores não querem admitir que a intervenção estatal no mercado de drogas é uma ilusão mais delirante do que a provocada pelo LSD, o ataque estatal a este mercado segue impávido, com a mesma eficiência de um gelo sendo enxugado. E o mesmo raciocínio é válido para o desarmamento.
Os eleitores não querem admitir que a intervenção estatal em ambos estes mercados só faz destruir ainda mais a liberdade dos indivíduos, a qual é diariamente sacrificada em nome do aumento do poder e do controle do estado. A crença é a de que o estado é paradoxalmente capaz de deter o poder de controlar atividades que, em privado, as pessoas aceitam, mas que, em público, são obrigadas a condenar.
Sendo assim, reformulo a pergunta de Sowell:
Resultados: mais leis, mais intrusão estatal, mais gastos governamentais, orçamentos mais polpudos para os burocratas, menos liberdade, e mais discussões vápidas.
No final, tudo se reduz a isso: traficantes de drogas não irão obedecer às leis que supostamente restringem o uso de armas.
Se você quiser que traficantes de drogas parem de comprar armas, então é melhor você acabar com os traficantes, defendendo a descriminação das drogas. Porém, os progressistas querem criminalizar as armas e os conservadores querem criminalizar as drogas.
E, se você pensa que este argumento não faz sentido, então não espere que os progressistas respondam ao argumento de que "indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o homicídio não irão obedecer às leis de desarmamento".
Você por acaso já parou para pensar na cronologia das leis anti-drogas? Ela se assemelha à criação de licenças para médicos, uma regulamentação que criou um cartel extremamente rentável. O cartel dos médicos é justificado com este argumento: "Não queremos que o público em geral saia comprando remédios (que são drogas). Portanto, é necessário que o estado imponha leis e regulamentações para que apenas médicos diplomados possam prescrever receitas".
Tudo se resume a cartéis. Se você quer criar um cartel extremamente rentável, é fácil. Eleja um político influente, faça lobby, consiga que o estado torne ilegal um bem ou serviço que a maioria das pessoas quer, e então estipule que apenas um determinado grupo de especialistas tenha a licença para vender este bem ou serviço. Pronto.
O problema é que tal medida levará à criação de um cartel paralelo, não-autorizado e ilegal, o qual também venderá o bem ou serviço em questão. E isso gerará um inevitável conflito: o primeiro cartel, ávido para defender sua reserva de mercado, irá enviar funcionários públicos com distintivos e armas para atacar este segundo cartel, o qual, por conseguinte, irá comprar armas para defender seu terreno e se proteger dos ataques do primeiro cartel.
Cartéis querem uma renda artificialmente elevada em decorrência de restrições colocadas sobre o livre mercado. Cartéis querem uma renda artificialmente elevada em decorrência de uma reserva de mercado protegida pelo estado. O verdadeiro debate gira em torno de quem irá portar armas legalmente e quem irá portá-las ilegalmente.
Gary North - IMB
"Será que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o homicídio irão obedecer às leis de desarmamento?" — Thomas Sowell
Sempre observo com grande interesse todos os debates sobre desarmamento e controle de armas, e venho fazendo isso há praticamente 50 anos. Já ouvi os oponentes do desarmamento invocarem este argumento de Sowell. Não me lembro de ter ouvido nenhuma resposta a ele. Nenhum desarmamentista jamais forneceu uma resposta. Eles simplesmente ignoram o desafio. Eles fingem que ninguém fez uma pergunta.
Curiosamente, eleitores contrários ao desarmamento seguem votando em políticos desarmamentistas, políticos que não respondem ao desafio de Sowell. Os eleitores nem sequer questionam essa postura fugidia dos políticos. É verdade que, no geral, os eleitores defendem algum tipo de controle de armas. A maioria não defende o desarmamento completo, mas eles defendem severas restrições à venda de armas e aos modelos que podem ser comercializados. E, com isso, políticos desarmamentistas seguem sendo reeleitos, e sem jamais serem questionados acerca de sua postura racionalmente contraditória.
A lei do desarmamento é tão eficaz quanto as leis anti-drogas: ninguém realmente espera que leis anti-drogas irão eliminar o uso de drogas ilegais. Porém, como os eleitores não querem admitir que a intervenção estatal no mercado de drogas é uma ilusão mais delirante do que a provocada pelo LSD, o ataque estatal a este mercado segue impávido, com a mesma eficiência de um gelo sendo enxugado. E o mesmo raciocínio é válido para o desarmamento.
Os eleitores não querem admitir que a intervenção estatal em ambos estes mercados só faz destruir ainda mais a liberdade dos indivíduos, a qual é diariamente sacrificada em nome do aumento do poder e do controle do estado. A crença é a de que o estado é paradoxalmente capaz de deter o poder de controlar atividades que, em privado, as pessoas aceitam, mas que, em público, são obrigadas a condenar.
Sendo assim, reformulo a pergunta de Sowell:
Defensores das leis anti-drogas — pessoas que normalmente são contra o desarmamento — respondem a esta pergunta da mesma maneira que os defensores do desarmamento respondem à pergunta de Sowell: com silêncio.Será que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o consumo de maconha irão obedecer às leis que os proíbem de utilizar um papel para enrolarem por conta própria um baseado?
Resultados: mais leis, mais intrusão estatal, mais gastos governamentais, orçamentos mais polpudos para os burocratas, menos liberdade, e mais discussões vápidas.
No final, tudo se reduz a isso: traficantes de drogas não irão obedecer às leis que supostamente restringem o uso de armas.
Se você quiser que traficantes de drogas parem de comprar armas, então é melhor você acabar com os traficantes, defendendo a descriminação das drogas. Porém, os progressistas querem criminalizar as armas e os conservadores querem criminalizar as drogas.
E, se você pensa que este argumento não faz sentido, então não espere que os progressistas respondam ao argumento de que "indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o homicídio não irão obedecer às leis de desarmamento".
Você por acaso já parou para pensar na cronologia das leis anti-drogas? Ela se assemelha à criação de licenças para médicos, uma regulamentação que criou um cartel extremamente rentável. O cartel dos médicos é justificado com este argumento: "Não queremos que o público em geral saia comprando remédios (que são drogas). Portanto, é necessário que o estado imponha leis e regulamentações para que apenas médicos diplomados possam prescrever receitas".
Tudo se resume a cartéis. Se você quer criar um cartel extremamente rentável, é fácil. Eleja um político influente, faça lobby, consiga que o estado torne ilegal um bem ou serviço que a maioria das pessoas quer, e então estipule que apenas um determinado grupo de especialistas tenha a licença para vender este bem ou serviço. Pronto.
O problema é que tal medida levará à criação de um cartel paralelo, não-autorizado e ilegal, o qual também venderá o bem ou serviço em questão. E isso gerará um inevitável conflito: o primeiro cartel, ávido para defender sua reserva de mercado, irá enviar funcionários públicos com distintivos e armas para atacar este segundo cartel, o qual, por conseguinte, irá comprar armas para defender seu terreno e se proteger dos ataques do primeiro cartel.
Cartéis querem uma renda artificialmente elevada em decorrência de restrições colocadas sobre o livre mercado. Cartéis querem uma renda artificialmente elevada em decorrência de uma reserva de mercado protegida pelo estado. O verdadeiro debate gira em torno de quem irá portar armas legalmente e quem irá portá-las ilegalmente.
A indústria ainda fraca
O Estado de S.Paulo
Se depender da produção industrial, o crescimento econômico será novamente muito fraco neste ano, segundo a sondagem divulgada nesta quarta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A produção voltou a cair em fevereiro, segundo as empresas cobertas pela pesquisa, mas há pelo menos uma notícia positiva nas primeiras linhas do comunicado: a queda foi menor que a de janeiro e a de fevereiro do ano passado. Os indicadores desse levantamento variam de zero a 100 pontos. Os números abaixo de 50 correspondem a avaliações negativas. O contrário vale para aqueles acima dessa divisória. A evolução da atividade em relação a janeiro ficou, na média, em 48,3 pontos, em território negativo, mas pouco melhor que o registrado no mês anterior. Desde novembro os indicadores estão abaixo de 50 pontos.
A maior parte da indústria continua operando com folga, mas no mês passado o uso da capacidade instalada aumentou ligeiramente, de 70% para 72%, e ficou mais próximo da usual. O nível de estoques em relação ao desejado ficou praticamente estável, embora em nível ainda insatisfatório. Esse dado parece combinar com as últimas pesquisas sobre intenção de consumo. Os números têm oscilado, mas em geral apontam um certo arrefecimento da disposição de comprar, depois de anos de forte crescimento das vendas no varejo. O levantamento mais recente, divulgado também na quarta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou uma elevação de 0,1% em março, depois de quedas de 2,1% em janeiro e 1,7% em fevereiro. O índice de fevereiro, 107,2 pontos, ficou bem abaixo da média histórica, 116,3 pontos. Isso também ocorreu nos 13 meses anteriores. A CNI também produz um índice nacional de expectativa do consumidor. O próximo deve ser divulgado hoje.
A sondagem industrial da CNI inclui, além de informações sobre os níveis de atividade, de estoques e de utilização da capacidade instalada, dados sobre expectativas em relação à demanda, volume de exportações, compras de matérias-primas e número de empregados. As expectativas de demanda, quantidade exportada e compra de material permaneceram positivas e com indicadores iguais aos de janeiro.
Em relação ao número de empregados, o otimismo demonstrado foi um pouco maior que o do mês anterior, porque o índice passou de 51,1 para 51,8 pontos. Mas é importante lembrar, quanto a este último indicador, a redução do emprego industrial no ano passado. Embora tenham procurado reter a mão de obra, especialmente a de maior qualificação, as empresas do setor acabaram demitindo. Foi uma das consequências do baixo nível de atividade nos últimos três anos, com retração em 2012 e modestíssima recuperação em 2013.
A presidente Dilma Rousseff tem alardeado a abertura de postos de trabalho nos últimos anos, mas tem omitido alguns detalhes muito importantes para a avaliação do quadro atual e das perspectivas econômicas do País. Os serviços têm sido a principal fonte de novos empregos, em atividades pouco produtivas. Ocupações de qualidade muito superior seriam criadas pela indústria, se o governo houvesse dado mais atenção às condições de eficiência e de competitividade do setor.
O baixo poder de competição da indústria tem resultado na perda de fatias tanto no mercado externo quanto no interno, como têm mostrado os números oficiais do comércio e os levantamentos da CNI. A sondagem recém-divulgada aponta algum otimismo em relação às exportações. Mas esse otimismo, no conjunto, é ligeiramente menor que o registrado um ano antes, no caso da indústria de transformação. Em março de 2013, o indicador de expectativa em relação à quantidade exportada estava em 54,8 pontos. A nova sondagem apontou 53,3.
Uma taxa de câmbio mais desvalorizada poderá dar algum impulso às exportações, mas o poder de competição da indústria depende de outros fatores, alguns externos, como a logística, outros internos, como a produtividade da mão de obra. Com o primeiro trimestre quase encerrado, é difícil de apontar alguma melhora significativa no quadro.
O Estado de S.Paulo
Se depender da produção industrial, o crescimento econômico será novamente muito fraco neste ano, segundo a sondagem divulgada nesta quarta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A produção voltou a cair em fevereiro, segundo as empresas cobertas pela pesquisa, mas há pelo menos uma notícia positiva nas primeiras linhas do comunicado: a queda foi menor que a de janeiro e a de fevereiro do ano passado. Os indicadores desse levantamento variam de zero a 100 pontos. Os números abaixo de 50 correspondem a avaliações negativas. O contrário vale para aqueles acima dessa divisória. A evolução da atividade em relação a janeiro ficou, na média, em 48,3 pontos, em território negativo, mas pouco melhor que o registrado no mês anterior. Desde novembro os indicadores estão abaixo de 50 pontos.
A maior parte da indústria continua operando com folga, mas no mês passado o uso da capacidade instalada aumentou ligeiramente, de 70% para 72%, e ficou mais próximo da usual. O nível de estoques em relação ao desejado ficou praticamente estável, embora em nível ainda insatisfatório. Esse dado parece combinar com as últimas pesquisas sobre intenção de consumo. Os números têm oscilado, mas em geral apontam um certo arrefecimento da disposição de comprar, depois de anos de forte crescimento das vendas no varejo. O levantamento mais recente, divulgado também na quarta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou uma elevação de 0,1% em março, depois de quedas de 2,1% em janeiro e 1,7% em fevereiro. O índice de fevereiro, 107,2 pontos, ficou bem abaixo da média histórica, 116,3 pontos. Isso também ocorreu nos 13 meses anteriores. A CNI também produz um índice nacional de expectativa do consumidor. O próximo deve ser divulgado hoje.
A sondagem industrial da CNI inclui, além de informações sobre os níveis de atividade, de estoques e de utilização da capacidade instalada, dados sobre expectativas em relação à demanda, volume de exportações, compras de matérias-primas e número de empregados. As expectativas de demanda, quantidade exportada e compra de material permaneceram positivas e com indicadores iguais aos de janeiro.
Em relação ao número de empregados, o otimismo demonstrado foi um pouco maior que o do mês anterior, porque o índice passou de 51,1 para 51,8 pontos. Mas é importante lembrar, quanto a este último indicador, a redução do emprego industrial no ano passado. Embora tenham procurado reter a mão de obra, especialmente a de maior qualificação, as empresas do setor acabaram demitindo. Foi uma das consequências do baixo nível de atividade nos últimos três anos, com retração em 2012 e modestíssima recuperação em 2013.
A presidente Dilma Rousseff tem alardeado a abertura de postos de trabalho nos últimos anos, mas tem omitido alguns detalhes muito importantes para a avaliação do quadro atual e das perspectivas econômicas do País. Os serviços têm sido a principal fonte de novos empregos, em atividades pouco produtivas. Ocupações de qualidade muito superior seriam criadas pela indústria, se o governo houvesse dado mais atenção às condições de eficiência e de competitividade do setor.
O baixo poder de competição da indústria tem resultado na perda de fatias tanto no mercado externo quanto no interno, como têm mostrado os números oficiais do comércio e os levantamentos da CNI. A sondagem recém-divulgada aponta algum otimismo em relação às exportações. Mas esse otimismo, no conjunto, é ligeiramente menor que o registrado um ano antes, no caso da indústria de transformação. Em março de 2013, o indicador de expectativa em relação à quantidade exportada estava em 54,8 pontos. A nova sondagem apontou 53,3.
Uma taxa de câmbio mais desvalorizada poderá dar algum impulso às exportações, mas o poder de competição da indústria depende de outros fatores, alguns externos, como a logística, outros internos, como a produtividade da mão de obra. Com o primeiro trimestre quase encerrado, é difícil de apontar alguma melhora significativa no quadro.
Hora extra
Lauro Jardim - VEJA
Lauro Jardim - VEJA
Ricardo Berzoini passou o fim de semana trocando
telefonemas com líderes da base aliada. As orientações passaram
majoritariamente por três assuntos: CPI, CPI e CPI.
O governo ainda acredita na possibilidade de convencer dois senadores a retirar as assinaturas de apoio à investigação dos negócios da Petrobras hoje. Renan Calheiros promete botar a CPI no trilho amanhã.
Os alvos dos líderes são: Eduardo Amorim e Sérgio Petecão. Caso os dois voltem atrás e a oposição não consiga mais nenhuma rubrica, o requerimento ficaria com 26 nomes, um a menos do que o necessário para abertura da comissão.
O governo ainda acredita na possibilidade de convencer dois senadores a retirar as assinaturas de apoio à investigação dos negócios da Petrobras hoje. Renan Calheiros promete botar a CPI no trilho amanhã.
Os alvos dos líderes são: Eduardo Amorim e Sérgio Petecão. Caso os dois voltem atrás e a oposição não consiga mais nenhuma rubrica, o requerimento ficaria com 26 nomes, um a menos do que o necessário para abertura da comissão.
Copa trará avanço ‘zero’ ao PIB do Brasil, calcula Moody’s
Gustavo Santos Ferreira - OESP
A Copa de Mundo,
maior evento esportivo do planeta, planejada durante sete anos para
deixar “grande legado” ao Brasil, trará efeitos “fugazes” à economia –
mostra relatório da agência de classificação de risco Moody’s.
Nas contas da instituição, o torneio
trará ganho da ordem de R$ 25,2 bilhões ao País. Num primeiro olhar,
pode parecer bastante. Mas, pela ótica da produção de bens e serviços
(PIB, o Produto Interno Bruto), o impacto é ínfimo.
O PIB consolidado do Brasil no último ano nas Contas Nacionais, em valores correntes, foi de R$ 4,838 trilhões. O volume calculado pela Moody’s representa apenas 0,5% desse montante.
Ainda de acordo com o estudo, os setores
de Alimentos e Bebidas, Hospedagem, Locação de carros, Telecomunicações e
Publicidade serão os mais beneficiados pela visita de 3,6 milhões de
turistas entre junho e julho para o evento. No entanto, os problemas de
mobilidade urbana e os dias perdidos de trabalho por causa dos jogos
tendem a minimizar ou anular o empurrão no PIB dado por esses segmentos
dos Serviços.
Entre as empresas beneficiadas pelo evento, estão, naturalmente, os patrocinadores oficiais,
de acordo com o texto assinado por Barbara Mattos, Gersan Zurita e
Marianna Waltz. As empreiteiras envolvidas na construção dos estádios
também têm a ganhar, bem como as redes de tevê transmissoras das
partidas.
Objetos encontrados no sul do Oceano Índico não são de avião malaio
Governo da Austrália promete continuar buscas por Boeing 777-200 desaparecido no dia 8
O Estado de S. Paulo
PERTH, AUSTRÁLIA - O conjunto de objetos laranjas encontrados na semana passada e que seriam possíveis destroços do avião da Malaysia Airlines desaparecido há três semanas são apenas equipamentos de pesca. A revelação foi feita nesta manhã pelas autoridades australianas que estavam analisando o material recolhido ontem no mar. Em coletiva de imprensa, o porta-voz da Autoridade de Segurança Marítima, Jesse Platts, explicou que "nenhum pedaço dos objetos tem relação com o MH370".
A notícia frustra novamente as buscas pelo Boeing 777, que fazia a
rota entre Kuala Lumpur e Pequim e desapareceu no dia 8 de março, com
239 pessoas a bordo.
O primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, reconheceu que as buscas foram muito complexas, mas disse que os investigadores chegaram "muito, muito próximo" de qualquer ponto onde o avião teria caído. Na quarta-feira, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, planeja viajar para a região de Perth e acompanhar as investigações de perto.
As buscas pelo MH370 foram intensificadas ao longo dos últimos dias depois que os investigadores conseguiram um conjunto limitado de informações e dados por meio de radares e satélites. A área de pesquisa foi reduzida e agora está focada no Oeste da Austrália.
"Essa é um exercício extraordinariamente difícil. Nós estamos procurando em uma vasta área do oceano e trabalhando com poucas informações", disse o premiê australiano.
Dez aviões e outros 11 navios continuam vasculhando a região de buscas, a cerca de 1,8 mil quilômetros da costa oeste da Austrália. Cerca de 100 oficiais da aeronáutica e mil da marinha australiana estão envolvidos nos trabalhos. O governo da Austrália descarta um prazo limite para terminar com as pesquisas. / AP
Governo da Austrália promete continuar buscas por Boeing 777-200 desaparecido no dia 8
O Estado de S. Paulo
PERTH, AUSTRÁLIA - O conjunto de objetos laranjas encontrados na semana passada e que seriam possíveis destroços do avião da Malaysia Airlines desaparecido há três semanas são apenas equipamentos de pesca. A revelação foi feita nesta manhã pelas autoridades australianas que estavam analisando o material recolhido ontem no mar. Em coletiva de imprensa, o porta-voz da Autoridade de Segurança Marítima, Jesse Platts, explicou que "nenhum pedaço dos objetos tem relação com o MH370".
AP/ Divulgação
Militar australiano participa de buscas por avião
O primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, reconheceu que as buscas foram muito complexas, mas disse que os investigadores chegaram "muito, muito próximo" de qualquer ponto onde o avião teria caído. Na quarta-feira, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, planeja viajar para a região de Perth e acompanhar as investigações de perto.
As buscas pelo MH370 foram intensificadas ao longo dos últimos dias depois que os investigadores conseguiram um conjunto limitado de informações e dados por meio de radares e satélites. A área de pesquisa foi reduzida e agora está focada no Oeste da Austrália.
"Essa é um exercício extraordinariamente difícil. Nós estamos procurando em uma vasta área do oceano e trabalhando com poucas informações", disse o premiê australiano.
Dez aviões e outros 11 navios continuam vasculhando a região de buscas, a cerca de 1,8 mil quilômetros da costa oeste da Austrália. Cerca de 100 oficiais da aeronáutica e mil da marinha australiana estão envolvidos nos trabalhos. O governo da Austrália descarta um prazo limite para terminar com as pesquisas. / AP
Ucrânia rejeita plano russo de transformá-la em federação
Boris Klimenko - EFE/UOL
Kiev - A Ucrânia rejeitou nesta segunda-feira o plano do Kremlin que propõe transformá-la em uma federação, em meio à diminuição da tensão na fronteira com a retirada de um batalhão motorizado russo cuja mobilização tinha feito os ucranianos temer uma invasão.
"Hoje, não há motivos para a Ucrânia se tornar uma federação. A Ucrânia é um Estado unitário", afirmou o presidente interino, Aleksandr Turchinov, à imprensa local.
Turchinov destacou que o governo ucraniano já iniciou uma política de cessão de competências, eminentemente econômicas, para aumentar a autonomia administrativa das regiões e apaziguar os ânimos no leste, cuja maioria da população é de origem russa.
"As regiões devem ser fortes. Devem decidir de maneira autônoma seus planos de futuro, como ocorre em muitos países civilizados da Europa. Esse é o caminho que tomaremos", destacou.
Turchinov também ressaltou que o povo ucraniano é que vai decidir os princípios da nova Constituição e seu modelo de Estado.
"Os senhores (Sergei) Lavrov, (Vladimir) Putin e (Dmitri) Medvedev podem apresentar qualquer proposta para a Federação Russa. Os dirigentes russos devem se dedicar aos problemas da Federação Russa, e não aos problemas da Ucrânia", afirmou.
Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, tornou público no sábado um plano para transformar a Ucrânia, através de uma reforma constitucional, em uma federação que reconcilie os interesses do leste de predominância russa e o oeste europeísta.
A Rússia, que neste mês se anexou a região da Crimeia, dá por certo que, caso contrário, a Ucrânia perderá também as regiões orientais, as mais ricas do país e onde os ânimos separatistas se propagaram como pólvora desde a queda do presidente Viktor Yanukovich, em fevereiro.
Segundo esse roteiro, cada região teria de amplas competências no âmbito econômico, financeiro, cultural, linguístico, educativo e de relações econômicas e culturais com os países vizinhos.
Além disso, Lavrov mencionou que a nova carta magna ucraniana deve corroborar o status da Ucrânia como país que se mantém à margem de blocos militares como a Otan. Turchinov respondeu hoje que o governo e o parlamento debatem a modificação desse status.
"Este é um assunto muito atual. Neste momento, temos negociações para criar as condições a fim de que a nenhum país ocorra fazer uma agressão contra nosso Estado", disse.
Para isso, a Ucrânia deve contar com Forças Armadas e uma Guarda Nacional, esta última de nova criação, "potentes, móveis e capazes de repelir uma agressão", argumentou.
Além disso, Turchinov ressaltou que Kiev não descarta recuperar a Crimeia, território que o primeiro-ministro russo, Medvedev, visitou hoje pela primeira vez desde a anexação.
"Estamos abertos ao diálogo, mas a libertação da Crimeia será o primeiro tema a ser tratado em qualquer negociação. Todos os demais assuntos são secundários", ressaltou.
Kiev - A Ucrânia rejeitou nesta segunda-feira o plano do Kremlin que propõe transformá-la em uma federação, em meio à diminuição da tensão na fronteira com a retirada de um batalhão motorizado russo cuja mobilização tinha feito os ucranianos temer uma invasão.
"Hoje, não há motivos para a Ucrânia se tornar uma federação. A Ucrânia é um Estado unitário", afirmou o presidente interino, Aleksandr Turchinov, à imprensa local.
Turchinov destacou que o governo ucraniano já iniciou uma política de cessão de competências, eminentemente econômicas, para aumentar a autonomia administrativa das regiões e apaziguar os ânimos no leste, cuja maioria da população é de origem russa.
"As regiões devem ser fortes. Devem decidir de maneira autônoma seus planos de futuro, como ocorre em muitos países civilizados da Europa. Esse é o caminho que tomaremos", destacou.
Turchinov também ressaltou que o povo ucraniano é que vai decidir os princípios da nova Constituição e seu modelo de Estado.
"Os senhores (Sergei) Lavrov, (Vladimir) Putin e (Dmitri) Medvedev podem apresentar qualquer proposta para a Federação Russa. Os dirigentes russos devem se dedicar aos problemas da Federação Russa, e não aos problemas da Ucrânia", afirmou.
Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, tornou público no sábado um plano para transformar a Ucrânia, através de uma reforma constitucional, em uma federação que reconcilie os interesses do leste de predominância russa e o oeste europeísta.
A Rússia, que neste mês se anexou a região da Crimeia, dá por certo que, caso contrário, a Ucrânia perderá também as regiões orientais, as mais ricas do país e onde os ânimos separatistas se propagaram como pólvora desde a queda do presidente Viktor Yanukovich, em fevereiro.
Segundo esse roteiro, cada região teria de amplas competências no âmbito econômico, financeiro, cultural, linguístico, educativo e de relações econômicas e culturais com os países vizinhos.
Além disso, Lavrov mencionou que a nova carta magna ucraniana deve corroborar o status da Ucrânia como país que se mantém à margem de blocos militares como a Otan. Turchinov respondeu hoje que o governo e o parlamento debatem a modificação desse status.
"Este é um assunto muito atual. Neste momento, temos negociações para criar as condições a fim de que a nenhum país ocorra fazer uma agressão contra nosso Estado", disse.
Para isso, a Ucrânia deve contar com Forças Armadas e uma Guarda Nacional, esta última de nova criação, "potentes, móveis e capazes de repelir uma agressão", argumentou.
Além disso, Turchinov ressaltou que Kiev não descarta recuperar a Crimeia, território que o primeiro-ministro russo, Medvedev, visitou hoje pela primeira vez desde a anexação.
"Estamos abertos ao diálogo, mas a libertação da Crimeia será o primeiro tema a ser tratado em qualquer negociação. Todos os demais assuntos são secundários", ressaltou.
Sufoco no metrô
O Estado de S.Paulo
Pegar o metrô, outrora o meio de transporte público mais confiável de São Paulo, tornou-se nos últimos tempos um tormento rotineiro. As frequentes falhas que retardam seu funcionamento se aliam à superlotação para transformar em um drama imprevisível uma viagem que deveria ser rápida e tranquila, inclusive aos finais de semana. Quase não há mais horário em que o volume de passageiros não esteja próximo ou além da capacidade dos trens e das plataformas, fazendo da disputa pelos espaços uma verdadeira guerra diária. Para resumir a crise do sistema, o Sindicato dos Metroviários informa que atualmente ocorre no sistema metroviário uma pane de grandes dimensões a cada três dias - em 2009, a proporção era de uma falha a cada seis dias.
O crescimento desses incidentes - que levam ao menos seis minutos para serem contornados, levando à interrupção do serviço - é resultado da superlotação e do estado das composições. Especialistas observam que, como os vagões viajam cada vez mais cheios, é natural que os passageiros impeçam com mais frequência o fechamento das portas, o que retarda a partida do trem.
Segundo o sindicato, registraram-se 113 falhas "notáveis" em 2013, contra 55 em 2009. O levantamento indica que houve aumento constante ano a ano, enquanto o período anterior registrou estabilidade e até queda no total de incidentes. O Metrô contesta os números, afirmando que houve 71 falhas "notáveis" no ano passado, mesmo número de 2012. O sindicato argumenta que o Metrô ignorou, em sua estatística, parte dos incidentes "notáveis" provocados pela interação dos passageiros com o sistema - justamente o tipo de ocorrência que aumentou nos últimos anos em razão do excesso de usuários.
Seja como for, o Metrô admite que as falhas são resultado direto da saturação do sistema, pois elas são proporcionais ao número de viagens e de passageiros transportados. "Há mais de 4.500 viagens realizadas, 74 mil quilômetros percorridos e 3 milhões de ciclos de abertura e fechamento de portas", declarou a empresa para justificar os problemas, dizendo que "todos os sistemas de metrô do mundo estão sujeitos a falhas".
A situação tende a piorar nos próximos anos, pois a malha ferroviária paulistana, incluindo-se a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), não cresce para absorver o acréscimo de passageiros - atraídos pelas novas estações, pela facilidade do Bilhete Único e pela velocidade desse meio de transporte na comparação com o trânsito cronicamente engarrafado.
O excesso de passageiros é tamanho que o Metrô parece ter atingido seu limite. Em 2013, pela primeira vez em dez anos, houve queda na média de passageiros em dias úteis, de 3,750 milhões para 3,743 milhões, o que, para especialistas, prova que não há mais como absorver a demanda.
O projeto original do Metrô, de 1968, previa 75 estações - hoje, quatro décadas depois, há apenas 58. As quatro linhas planejadas inicialmente deveriam ter sido totalmente concluídas em 1987, com 66,2 quilômetros. Essa extensão, contudo, só foi atingida em 2007. Hoje, o sistema tem 74,3 quilômetros, modesto em relação ao de cidades muito menores, como Santiago do Chile, que tem 103 quilômetros. Considerando-se que nos anos 60 o governo prometia construir uma malha de 360 quilômetros até 1990, percebe-se que o atraso tem sido a marca da expansão desse sistema de transporte.
Como a procura pelo Metrô só tende a aumentar, conforme indicam as estatísticas, é provável que todo o esforço do governo estadual para ampliar o serviço - há hoje quatro frentes de trabalho simultâneas - seja suficiente apenas para atenuar brevemente a sensação de falência do sistema, que não tem como acompanhar a demanda.
Assim, por mais que o Metrô tente relativizar os problemas enfrentados pelos usuários, é certo que o sofrimento dos passageiros com as seguidas panes vai continuar - e provavelmente aumentar - nos próximos anos, com prejuízo ao conforto e riscos à segurança.
O Estado de S.Paulo
Pegar o metrô, outrora o meio de transporte público mais confiável de São Paulo, tornou-se nos últimos tempos um tormento rotineiro. As frequentes falhas que retardam seu funcionamento se aliam à superlotação para transformar em um drama imprevisível uma viagem que deveria ser rápida e tranquila, inclusive aos finais de semana. Quase não há mais horário em que o volume de passageiros não esteja próximo ou além da capacidade dos trens e das plataformas, fazendo da disputa pelos espaços uma verdadeira guerra diária. Para resumir a crise do sistema, o Sindicato dos Metroviários informa que atualmente ocorre no sistema metroviário uma pane de grandes dimensões a cada três dias - em 2009, a proporção era de uma falha a cada seis dias.
O crescimento desses incidentes - que levam ao menos seis minutos para serem contornados, levando à interrupção do serviço - é resultado da superlotação e do estado das composições. Especialistas observam que, como os vagões viajam cada vez mais cheios, é natural que os passageiros impeçam com mais frequência o fechamento das portas, o que retarda a partida do trem.
Segundo o sindicato, registraram-se 113 falhas "notáveis" em 2013, contra 55 em 2009. O levantamento indica que houve aumento constante ano a ano, enquanto o período anterior registrou estabilidade e até queda no total de incidentes. O Metrô contesta os números, afirmando que houve 71 falhas "notáveis" no ano passado, mesmo número de 2012. O sindicato argumenta que o Metrô ignorou, em sua estatística, parte dos incidentes "notáveis" provocados pela interação dos passageiros com o sistema - justamente o tipo de ocorrência que aumentou nos últimos anos em razão do excesso de usuários.
Seja como for, o Metrô admite que as falhas são resultado direto da saturação do sistema, pois elas são proporcionais ao número de viagens e de passageiros transportados. "Há mais de 4.500 viagens realizadas, 74 mil quilômetros percorridos e 3 milhões de ciclos de abertura e fechamento de portas", declarou a empresa para justificar os problemas, dizendo que "todos os sistemas de metrô do mundo estão sujeitos a falhas".
A situação tende a piorar nos próximos anos, pois a malha ferroviária paulistana, incluindo-se a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), não cresce para absorver o acréscimo de passageiros - atraídos pelas novas estações, pela facilidade do Bilhete Único e pela velocidade desse meio de transporte na comparação com o trânsito cronicamente engarrafado.
O excesso de passageiros é tamanho que o Metrô parece ter atingido seu limite. Em 2013, pela primeira vez em dez anos, houve queda na média de passageiros em dias úteis, de 3,750 milhões para 3,743 milhões, o que, para especialistas, prova que não há mais como absorver a demanda.
O projeto original do Metrô, de 1968, previa 75 estações - hoje, quatro décadas depois, há apenas 58. As quatro linhas planejadas inicialmente deveriam ter sido totalmente concluídas em 1987, com 66,2 quilômetros. Essa extensão, contudo, só foi atingida em 2007. Hoje, o sistema tem 74,3 quilômetros, modesto em relação ao de cidades muito menores, como Santiago do Chile, que tem 103 quilômetros. Considerando-se que nos anos 60 o governo prometia construir uma malha de 360 quilômetros até 1990, percebe-se que o atraso tem sido a marca da expansão desse sistema de transporte.
Como a procura pelo Metrô só tende a aumentar, conforme indicam as estatísticas, é provável que todo o esforço do governo estadual para ampliar o serviço - há hoje quatro frentes de trabalho simultâneas - seja suficiente apenas para atenuar brevemente a sensação de falência do sistema, que não tem como acompanhar a demanda.
Assim, por mais que o Metrô tente relativizar os problemas enfrentados pelos usuários, é certo que o sofrimento dos passageiros com as seguidas panes vai continuar - e provavelmente aumentar - nos próximos anos, com prejuízo ao conforto e riscos à segurança.
Empresas e consumidores dão adeus ao XP
Veterano. Versão de 2001 do Windows tem 12,5% do mercado local, mas seu suporte será encerrado na próxima segunda
RENATO CRUZ - O Estado de S.Paulo
Se você ainda usa o Windows XP, prepare-se: a partir de 8 de abril, a Microsoft deixará de dar suporte ao produto. "E daí?", alguém pode perguntar. Mas qual foi mesmo a última vez em que você ligou para a central de atendimento da Microsoft?
A principal questão é que o XP deixará de ter atualizações de segurança. Isso significa que, se forem descobertas vulnerabilidades em versões posteriores, elas serão corrigidas e relatadas pela empresa de software. Caso estejam presentes também no XP, essas vulnerabilidades ficarão expostas.
Lançado em outubro de 2001, o XP trouxe melhorias consideráveis em relação ao seu precursor, o Windows 2000. Ele incorporou características do Windows NT, que era a versão do sistema operacional para empresas, mais seguro e estável. Normalmente, a Microsoft mantém o suporte a uma versão do Windows por 10 anos. No caso de XP, decidiu mantê-lo por mais de 12 anos.
É uma versão muito popular. O usuário de PCs reconhece facilmente o XP pela imagem de fundo padrão, com montes verdes e céu azul, que lembram a terra dos Teletubbies, programa infantil de TV que fez sucesso há mais de 10 anos.
Migração. Mesmo após todos esses anos, muitas empresas mantiveram o XP para poder rodar aplicações antigas. Versões mais novas do Windows, como 7 e 8, não rodam direito programas que funcionavam no XP e seus antecessores. Existem companhias, inclusive, que compraram computadores novos e depois fizeram "downgrade" do sistema (trocaram a versão mais nova pelo XP).
"A demanda pela migração está bem grande", afirma Romulo Pinto de Magalhães, gerente comercial da Full Service Informática, empresa parceira da Microsoft. "A maioria dos projetos ainda está em andamento." Um de seus clientes tem 4 mil computadores, e o processo de troca de sistema operacional começou há seis meses.
Segundo Magalhães, as empresas que procuraram a Full Service geralmente têm um departamento de tecnologia da informação mais maduro. "As normas de auditoria exigem uma garantia de suporte, principalmente por motivos de segurança", explica.
Alguns clientes, principalmente os que usam muitas aplicações de governo, têm um processo de migração mais complicado. Independentemente do fim do suporte, um cenário que tem demandado a troca de versão do sistema é a adoção de soluções mais modernas, como computação em nuvem. Existe software mais recente que não roda no Windows XP.
Caixas eletrônicos. Era a segunda versão mais usada, depois do Windows 7, com 65%. O Windows 8, versão mais atual, tinha somente 3%.
A fatia de 14% dos que ainda usam o XP incluem consumidores e empresas dos mais diversos tamanhos. Os maiores bancos do País realizam atualmente um esforço para atualizar o sistema dos caixas eletrônicos.
O fim do suporte ao Windows XP também afeta empresas menores, como a agência de turismo Sakura Tour, cliente da Full Service. A companhia tinha 48 computadores, sendo 28 com o XP. A migração para o Windows 7 foi feita em três dias. Além de atualizar o software, a empresa se desfez de cinco máquinas, muito antigas, e comprou mais oito. "Ficamos sabendo do fim do suporte há cerca de dois meses", conta Wagner Chaves, sócio-proprietário da Sakura Tour. "Minha empresa mexe com passagens aéreas, que têm valor elevado, e precisa de segurança."
Chaves sentiu diferença na velocidade de seu computador, que foi trocado. "O antigo demorava muito para carregar."
A Microsoft vem falando com os usuários sobre o fim do suporte do XP desde 2007, segundo Fábio Gaspar, gerente de produtos Windows da empresa. Além das atualizações de segurança, a Microsoft deixará de oferecer, a partir do dia 8, suporte telefônico para o XP.
Também pode haver problemas com drivers de periféricos, como impressoras. "Temos programas de incentivo e apoio técnico e financeiro para a migração", diz Gaspar.
Veterano. Versão de 2001 do Windows tem 12,5% do mercado local, mas seu suporte será encerrado na próxima segunda
RENATO CRUZ - O Estado de S.Paulo
Se você ainda usa o Windows XP, prepare-se: a partir de 8 de abril, a Microsoft deixará de dar suporte ao produto. "E daí?", alguém pode perguntar. Mas qual foi mesmo a última vez em que você ligou para a central de atendimento da Microsoft?
A principal questão é que o XP deixará de ter atualizações de segurança. Isso significa que, se forem descobertas vulnerabilidades em versões posteriores, elas serão corrigidas e relatadas pela empresa de software. Caso estejam presentes também no XP, essas vulnerabilidades ficarão expostas.
Lançado em outubro de 2001, o XP trouxe melhorias consideráveis em relação ao seu precursor, o Windows 2000. Ele incorporou características do Windows NT, que era a versão do sistema operacional para empresas, mais seguro e estável. Normalmente, a Microsoft mantém o suporte a uma versão do Windows por 10 anos. No caso de XP, decidiu mantê-lo por mais de 12 anos.
É uma versão muito popular. O usuário de PCs reconhece facilmente o XP pela imagem de fundo padrão, com montes verdes e céu azul, que lembram a terra dos Teletubbies, programa infantil de TV que fez sucesso há mais de 10 anos.
Migração. Mesmo após todos esses anos, muitas empresas mantiveram o XP para poder rodar aplicações antigas. Versões mais novas do Windows, como 7 e 8, não rodam direito programas que funcionavam no XP e seus antecessores. Existem companhias, inclusive, que compraram computadores novos e depois fizeram "downgrade" do sistema (trocaram a versão mais nova pelo XP).
"A demanda pela migração está bem grande", afirma Romulo Pinto de Magalhães, gerente comercial da Full Service Informática, empresa parceira da Microsoft. "A maioria dos projetos ainda está em andamento." Um de seus clientes tem 4 mil computadores, e o processo de troca de sistema operacional começou há seis meses.
Segundo Magalhães, as empresas que procuraram a Full Service geralmente têm um departamento de tecnologia da informação mais maduro. "As normas de auditoria exigem uma garantia de suporte, principalmente por motivos de segurança", explica.
Alguns clientes, principalmente os que usam muitas aplicações de governo, têm um processo de migração mais complicado. Independentemente do fim do suporte, um cenário que tem demandado a troca de versão do sistema é a adoção de soluções mais modernas, como computação em nuvem. Existe software mais recente que não roda no Windows XP.
Caixas eletrônicos. Era a segunda versão mais usada, depois do Windows 7, com 65%. O Windows 8, versão mais atual, tinha somente 3%.
A fatia de 14% dos que ainda usam o XP incluem consumidores e empresas dos mais diversos tamanhos. Os maiores bancos do País realizam atualmente um esforço para atualizar o sistema dos caixas eletrônicos.
O fim do suporte ao Windows XP também afeta empresas menores, como a agência de turismo Sakura Tour, cliente da Full Service. A companhia tinha 48 computadores, sendo 28 com o XP. A migração para o Windows 7 foi feita em três dias. Além de atualizar o software, a empresa se desfez de cinco máquinas, muito antigas, e comprou mais oito. "Ficamos sabendo do fim do suporte há cerca de dois meses", conta Wagner Chaves, sócio-proprietário da Sakura Tour. "Minha empresa mexe com passagens aéreas, que têm valor elevado, e precisa de segurança."
Chaves sentiu diferença na velocidade de seu computador, que foi trocado. "O antigo demorava muito para carregar."
A Microsoft vem falando com os usuários sobre o fim do suporte do XP desde 2007, segundo Fábio Gaspar, gerente de produtos Windows da empresa. Além das atualizações de segurança, a Microsoft deixará de oferecer, a partir do dia 8, suporte telefônico para o XP.
Também pode haver problemas com drivers de periféricos, como impressoras. "Temos programas de incentivo e apoio técnico e financeiro para a migração", diz Gaspar.
O futuro da internet
Renato Cruz - O Estado de S.Paulo
A internet surgiu como um projeto do Departamento de Defesa do governo americano, durante a Guerra Fria, e até hoje os Estados Unidos são responsáveis pela administração dos endereços de sites e de servidores da rede mundial. Esse trabalho é terceirizado para a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), uma organização sem fins lucrativos, e o contrato termina em setembro do ano que vem.
Em meados deste mês, o governo americano anunciou que vai abrir mão da responsabilidade quando vencer o contrato, para que seja adotado um modelo internacional e multissetorial. A mudança servirá para afastar as acusações de que os EUA controlam secretamente a infraestrutura da internet.
Dentro desse contexto, ganha importância o Encontro Multissetorial Global sobre o Futuro da Governança da Internet, em São Paulo, nos próximos dias 23 e 24. O governo brasileiro tinha pressa na aprovação do projeto do Marco Civil da Internet para que ele fosse apresentado no evento, como exemplo para regras mundiais de proteção aos direitos dos cidadãos na rede.
A revista The Economist elogiou a aprovação do projeto brasileiro do Marco Civil, na semana passada. Entre os pontos positivos destacados estão o conceito de neutralidade de rede (que exige tratamento igualitário do tráfego da internet), a garantia da privacidade dos usuários (com a proibição aos provedores de vasculharem informações pessoais) e a proteção da liberdade de expressão (atrelando a retirada de conteúdos da rede a uma decisão judicial).
Mas a revista também trouxe críticas. A principal foi ao artigo 11, que determina que empresas estrangeiras de internet devem respeitar a legislação brasileira, caso tenham usuários do Brasil. Já existem temores de que outros países sigam o exemplo brasileiro, e as companhias sejam submetidas a um conjunto complexo de regras muitas vezes contraditórias, o que faria com que elas desistissem de atuar em mercados menores.
Logo após as revelações de Edward Snowden sobre a espionagem americana, houve uma proposta parecida na União Europeia, que foi mal recebida por representantes do governo americano, por causa de seu caráter extraterritorial. Nos EUA, a transição para um modelo multissetorial e internacional na administração de endereços de sites e servidores de internet tem recebido críticas. Segundo esses críticos, isso poderia fortalecer a posição de governos autoritários que querem assumir o controle sobre a internet.
Mas o argumento é falho em pelo menos dois pontos. Em primeiro lugar, os governos autoritários já controlam o acesso à rede em seus territórios. Em segundo, a privacidade dos usuários não tem sido respeitada nem mesmo por Estados livres e democráticos.
Renato Cruz - O Estado de S.Paulo
A internet surgiu como um projeto do Departamento de Defesa do governo americano, durante a Guerra Fria, e até hoje os Estados Unidos são responsáveis pela administração dos endereços de sites e de servidores da rede mundial. Esse trabalho é terceirizado para a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), uma organização sem fins lucrativos, e o contrato termina em setembro do ano que vem.
Em meados deste mês, o governo americano anunciou que vai abrir mão da responsabilidade quando vencer o contrato, para que seja adotado um modelo internacional e multissetorial. A mudança servirá para afastar as acusações de que os EUA controlam secretamente a infraestrutura da internet.
Dentro desse contexto, ganha importância o Encontro Multissetorial Global sobre o Futuro da Governança da Internet, em São Paulo, nos próximos dias 23 e 24. O governo brasileiro tinha pressa na aprovação do projeto do Marco Civil da Internet para que ele fosse apresentado no evento, como exemplo para regras mundiais de proteção aos direitos dos cidadãos na rede.
A revista The Economist elogiou a aprovação do projeto brasileiro do Marco Civil, na semana passada. Entre os pontos positivos destacados estão o conceito de neutralidade de rede (que exige tratamento igualitário do tráfego da internet), a garantia da privacidade dos usuários (com a proibição aos provedores de vasculharem informações pessoais) e a proteção da liberdade de expressão (atrelando a retirada de conteúdos da rede a uma decisão judicial).
Mas a revista também trouxe críticas. A principal foi ao artigo 11, que determina que empresas estrangeiras de internet devem respeitar a legislação brasileira, caso tenham usuários do Brasil. Já existem temores de que outros países sigam o exemplo brasileiro, e as companhias sejam submetidas a um conjunto complexo de regras muitas vezes contraditórias, o que faria com que elas desistissem de atuar em mercados menores.
Logo após as revelações de Edward Snowden sobre a espionagem americana, houve uma proposta parecida na União Europeia, que foi mal recebida por representantes do governo americano, por causa de seu caráter extraterritorial. Nos EUA, a transição para um modelo multissetorial e internacional na administração de endereços de sites e servidores de internet tem recebido críticas. Segundo esses críticos, isso poderia fortalecer a posição de governos autoritários que querem assumir o controle sobre a internet.
Mas o argumento é falho em pelo menos dois pontos. Em primeiro lugar, os governos autoritários já controlam o acesso à rede em seus territórios. Em segundo, a privacidade dos usuários não tem sido respeitada nem mesmo por Estados livres e democráticos.
POPULISMO A SERVIÇO DA IGNORÂNCIA – Em ano eleitoral, Agnelo quer desalojar Embrapa para erguer casas populares
Reinaldo Azevedo - VEJA
Reinaldo Azevedo - VEJA
Laryssa Borges, na VEJA.com:
Em um país que há décadas trata com negligência sua política nacional de ciência e tecnologia e despreza investimentos em pesquisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, é um raro exemplo de sucesso. Criada há quarenta anos, durante o regime militar, a instituição atua em 44 países e desenvolve pesquisas de inovação e transferência de tecnologia em parceria com institutos de ponta nos Estados Unidos, no Reino Unido e na França. Um dos principais braços operacionais da empresa, a unidade do Distrito Federal, instalada às margens da BR-020, é responsável por fazer do cerrado brasileiro um dos principais biomas de produção nacional de carne e soja. Apesar dessas credenciais, o oportunismo do governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), poderá mudar completamente os rumos da empresa. Candidato à reeleição em outubro, o petista quer tomar o terreno da Embrapa Cerrados para construir casas populares – e colher votos.
Em um país que há décadas trata com negligência sua política nacional de ciência e tecnologia e despreza investimentos em pesquisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, é um raro exemplo de sucesso. Criada há quarenta anos, durante o regime militar, a instituição atua em 44 países e desenvolve pesquisas de inovação e transferência de tecnologia em parceria com institutos de ponta nos Estados Unidos, no Reino Unido e na França. Um dos principais braços operacionais da empresa, a unidade do Distrito Federal, instalada às margens da BR-020, é responsável por fazer do cerrado brasileiro um dos principais biomas de produção nacional de carne e soja. Apesar dessas credenciais, o oportunismo do governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), poderá mudar completamente os rumos da empresa. Candidato à reeleição em outubro, o petista quer tomar o terreno da Embrapa Cerrados para construir casas populares – e colher votos.
Alguns
campos experimentais da Embrapa foram desenvolvidos em áreas de antigas
fazendas desapropriadas na década de 1950 para a construção de Brasília –
e legalmente cedidas para o uso da empresa em 1975. O argumento da
gestão Agnelo para ficar com a terra é pífio: o governo pretende
utilizar o mesmo terreno, independentemente das dezenas de áreas ociosas
no Distrito Federal, para construir um condomínio com 5.000
apartamentos populares. Com a perda da área – a gleba exigida pelo
governo Agnelo representa 20% da área utilizada pelo Centro de Pesquisas
para os experimentos de campo no DF –, a Embrapa afirma que haverá
“descontinuidade de pesquisas realizadas há mais de trinta anos, com
prejuízos irreparáveis para a sociedade”.
Nos seus
40 anos de funcionamento, a Embrapa Cerrados levou o Brasil à liderança
em projetos de agricultura tropical, com investimento de pelo menos 7
milhões de reais na fazenda que o governo do Distrito Federal agora
reivindica. Pesquisas em produção animal e vegetal e o desenvolvimento
de tecnologias para correção da fertilidade do solo e para sistemas
irrigados fizeram com que o cerrado respondesse por 55% da produção
nacional de carne bovina, mais de 60% da produção de soja, 41% da
produção de leite e 31% da produção de milho.
“Pegar
aquele terreno para fazer casas populares é não perceber o que a Embrapa
significa para o Brasil. O país chegou ao posto de sexta economia do
mundo [em 2012] muito em função da agricultura e pecuária. Mas atitudes
como a do governador Agnelo contribuem para que o Brasil fique
estacionado na 13ª posição na produção científica mundial”, diz a
presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
Helena Nader. “Sou totalmente a favor da melhoria das condições de
moradia, mas a atitude do governo de construir casas nas fazendas da
Embrapa será a completa destruição de pesquisas porque a região tem toda
uma história de ciência. Existem outras áreas para fazer residências
populares.”
“Até
meados dos anos 1970, o cerrado era considerado improdutivo. Hoje, bate
recordes sucessivos de produtividade. Sem a pesquisa agropecuária isso
jamais teria sido possível”, afirmam os funcionários da Embrapa Cerrados
em manifesto redigido após a mais recente investida do governo para
tomar a fazenda.
Para a
Secretaria da Habitação do Distrito Federal, comandada por Geraldo
Magela, companheiro de partido de Agnelo, as moradias populares precisam
ser erguidas exatamente na região de atuação da Embrapa. Em 2008, a
mesma secretaria alegava que a área era fundamental para a viabilização
de um polo de venda de máquinas agrícolas. Na falta das máquinas, o
despejo da Embrapa ocorreria agora para abrigar a população carente de
moradia e minimizar o déficit habitacional – estimado em 116.000 casas.
O
secretário Geraldo Magela vai além: segundo sua assessoria, a área de
Planaltina, onde fica a fazenda de pesquisas da Embrapa, está degradada
e, por isso, a construção de unidades habitacionais evitaria novos
custos ambientais para a população.
Além da
negligência em relação às pesquisas em andamento, um fator ambiental
também tem sido desconsiderado pelo governo Agnelo na disputa pela
região. A área da fazenda fica no entorno da unidade de conservação da
Estação Ecológica de Águas Emendadas, fundamental para a proteção do
bioma do cerrado e nascente de duas das mais importantes bacias
hidrográficas brasileiras: Araguaia-Tocantins e do Paraná.
Centro do
poder político e com reconhecido padrão de excelência em qualidade de
vida, o Distrito Federal enfrenta há pelo menos cinquenta anos um dos
maiores problemas fundiários do país. Pelo menos 20% de todas as
moradias, segundo a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios,
estão em terrenos não legalizados, assentamentos ou invasões. No ano
passado, a ex-presidente na Câmara Legislativa Lúcia Carvalho foi
acusada pela Polícia Federal de fraude em demarcação de terrenos e
formação de quadrilha. Outros políticos de Brasília também já
frequentaram páginas policiais por envolvimento em irregularidades na
posse de terras. Porém, é fato que não faltam áreas de propriedade do
governo do Distrito Federal aptas a receber o conjunto de casas
populares que Agnelo quer erguer. Só a pressa em entregar obras em ano
de eleição explica a insistência de Agnelo em tomar os campos da
Embrapa.
Em tempo: o
Governo do Distrito Federal afirma que respeita as pesquisas da Embrapa
e negocia – sem mediação da Justiça – uma outra região para a empresa
montar os campos experimentais.
Quem tem medo da CPI da Petrobras?
Que políticos podem perder se o Congresso investigar a corrupção na estatal
Situação e oposição preparam suas estratégias. A oposição decidiu criar
antes uma CPI no Senado, para depois migrar para a CPI mista e, assim,
driblar a força de Renan Calheiros, presidente do Senado. Renan não tem
interesse nenhum em apurações na Petrobras. É o padrinho de Sérgio
Machado, há 11 anos presidente da Transpetro, o braço da Petrobras
encarregado de transportar o petróleo extraído. Com a onda desfavorável –
em pesquisa da semana passada, Dilma registrou 36% de aprovação, seu
pior índice desde os protestos de junho –, o ministro da Casa Civil,
Aloizio Mercadante, a convenceu a pegar pesado. A estratégia do governo é
anarquizar a CPI. Parlamentares do PT serão orientados pelo Planalto a
apresentar requerimentos para investigar denúncias que atinjam tucanos e
o presidenciável Campos. Pedirão, de modo a tumultuar os trabalhos,
documentos das investigações sobre o cartel de trens nos governos
tucanos em São Paulo. E, também, informações sobre as obras do Porto de
Suape, em Pernambuco, Estado governado por Campos.
É uma tática de intimidação. O governo permitirá a convocação de gente da Petrobras, como a presidente Maria das Graças Foster. Mas usará sua força para marcar esses depoimentos para dias estrategicamente esvaziados. Entre as datas estudadas estão 12, 17 e 23 de junho, os dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo – quando a atenção para a política deverá ficar abaixo de zero. Uma investigação na Petrobras é uma aventura arriscada para todos. Uma das propostas, inevitável, era investigar o contrato de US$ 860 milhões da Petrobras com a Odebrecht. Ao ver o nome, Aécio arregalou os olhos. A menção à Odebrecht desapareceu em instantes do pedido de CPI. No ano passado, o lobista João Augusto Henriques disse a ÉPOCA que o contrato rendeu doações da empreiteira à campanha eleitoral de Dilma em 2010. Ficou acertado que a CPI investigará a compra da refinaria Pasadena, nos Estados Unidos, os indícios de pagamento de propina a funcionários da estatal pela holandesa SBM, construções de refinarias e denúncias de plataformas entregues inacabadas.
A história do medo que os políticos têm da CPI pode ser contada a partir daquele encontro no aeroporto Santos Dumont. Dois de seus três participantes estão na cadeia. Costa foi preso há dias pela Polícia Federal, acusado de ser parceiro de negócios de Alberto Youssef,
um dos maiores doleiros do Brasil. Também é suspeito de receber propina de empreiteiras quando era diretor da Petrobras. Corrêa está preso desde dezembro. Foi condenado pelo Supremo, no julgamento do mensalão, a 7 anos e 2 meses de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Cumpre pena num presídio de Pernambuco. Janene morreu em 2010, antes de ser julgado pelo Supremo. O doleiro Youssef, hoje apontado como sócio de Costa, era o responsável por lavar o dinheiro do mensalão para os deputados do PP. Foi preso na mesma operação da PF que levou Costa em cana.
Se Costa não tivesse aceitado o cargo naquela conversa no Santos Dumont, talvez tudo transcorresse da mesma maneira no Planalto, no Congresso e na Petrobras. Seja lá por que razões tenha aquiescido à indicação do PP, Costa aceitou, há dez anos, ser mais um na multipartidária indústria da corrupção que define, em larga medida e há muitas décadas, a política brasileira: a arrecadação de dinheiro por meio de cargos no governo. Dinheiro sujo para financiar campanhas eleitorais. E dinheiro sujo para todos os que participam dessa indústria: donos de partidos, lobistas que criam dificuldades para vender facilidades, fornecedores do governo, doleiros que tornam viável o pagamento de propina.
O REPARTE DA PETROBRAS
O esquema do mensalão, em todas as suas complexas ramificações, consistiu numa tentativa de centralizar o vasto caixa nas mãos do PT. Especificamente, nas mãos do ex-tesoureiro Delúbio
Soares, que contava com a ajuda de alguns auxiliares. Era uma decisão ideológica. Para quem entendia a indústria por dentro, como o ex-deputado Roberto Jefferson, do PTB, era impossível de executar. A ideia do governo Lula era oferecer menos cargos a partidos como o PP e, em troca, manter um fluxo financeiro razoável para os aliados, por meio da dinheirama do mensalão. O esquema operado por Marcos Valério, contudo, era insuficiente para manter no azul a indústria da corrupção política. Era preciso mais. Era preciso entregar um pedaço do que todos os vários aliados do governo queriam: a Petrobras, maior empresa do país, que oferece as melhores oportunidades de negócios. Por isso o esquema coexistiu, no começo do governo Lula, com poucas, mas relevantes, nomeações de peso dos demais partidos. Paulo Roberto era uma delas.
Para aprovar o nome de Costa, Janene o levou à sede do PT em São Paulo,
onde ambos se encontraram com Dirceu e Delúbio. Segundo um petista que
testemunhou a reunião, Costa entendeu que, se devia a indicação ao PP,
devia também, a partir daquele momento, fidelidade ao PT. Obedeceria
doravante a dois mestres. Em seguida ao encontro na sede do PT, Lula
recebeu, no Planalto, Dirceu e o então presidente da Petrobras,
José Eduardo Dutra. Dirceu apoiou a nomeação de Costa; Dutra contestou.
Exaltou-se. Disse o que todos, em Brasília ou na Petrobras, sabiam:
Janene era insaciável, e as operações de Costa poderiam trazer sérios
prejuízos à Petrobras. Dirceu não recuou. Lula – que, alertado dos
perigos do mensalão, nada fez – nomeou Costa. E repartiu politicamente
os cargos na Petrobras. Deu diretorias para PT e PP, além de assegurar a
presidência da Transpetro, a principal e bilionária subsidiária da
Petrobras, ao PMDB. O ex-senador Sérgio Machado virou chefe da
Transpetro, por indicação exclusiva do hoje presidente do Senado, Renan
Calheiros. “Esse negócio de indicação (para a Transpetro) eu não tenho conhecimento”, diz Renan.
Com mensalão e Petrobras, entre outros cargos menores, os aliados pareciam finalmente satisfeitos. A descoberta do mensalão, em 2005, mudou tudo. A estratégia do PT, centralizar os financiamentos dos políticos, dera errado. Era preciso se ater aos esquemas tradicionais: cada partido cuidaria de seu caixa, por meio dos cargos que tivesse, ou que viesse a ganhar. A campanha de reeleição de Lula, em 2006, coincide com o primeiro momento da hoje infame compra da refinaria Pasadena, coordenada por Nestor Cerveró, então diretor internacional da Petrobras, indicado pelo PT e pelo PMDB. Como se confirmou há duas semanas, essa operação foi avalizada pela presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil. Dilma disse desconhecer as condições do contrato que eram lesivas à Petrobras. Disse ainda que faria diferente se soubesse delas. Como tinha enorme influência na Petrobras, Dilma será obrigada, caso a CPI trabalhe seriamente, a responder pelo que se fez com a estatal durante o governo Lula.
No caso do mensalão, tudo se descobriu; no caso da Petrobras, a corrupção ficou escondida por mais tempo. Com o avançar do governo Lula e a queda de operadores poderosos como Dirceu e Janene, os executivos da Petrobras buscaram novos padrinhos. Costa se tornou o principal diretor da Petrobras, representando os interesses do PP, do PT e do PMDB. Reportava-se, nos casos da construção de refinarias no Brasil, diretamente ao presidente Lula. Lula chamava Costa de “Paulinho”, de acordo com um dos sócios de Costa. Cerveró foi substituído na Diretoria Internacional por Jorge Zelada, uma indicação do PMDB da Câmara. Conforme revelou ÉPOCA, Zelada era subordinado, na prática, ao lobista João Augusto Henriques, uma espécie de Delúbio do PMDB. Arrecadava propina, segundo ele mesmo confessou a ÉPOCA, em nome da bancada do partido. O caso é investigado pela PF e pelo Ministério Público.
AGENDA DUPLA
Executivos como Zelada e Costa dividiam sua agenda entre o trabalho na Petrobras e despachos com os chefes políticos em Brasília. Costa frequentava cafés da manhã, almoços e jantares organizados por parlamentares. A maioria dos encontros dava-se nos apartamentos dos ex-líderes do PP na Câmara, Mário Negromonte, que foi ministro das Cidades, e João Pizzolatti. Nessas ocasiões, Costa prestava contas sobre negócios de interesse dos deputados. Zelada fazia o mesmo. Sérgio Machado, da Transpetro, também.
Um dos muitos negócios narrados nos encontros em Brasília envolve a Jaraguá Equipamentos Industriais, empresa de Sorocaba especializada em fornecer equipamentos para refinarias da Petrobras, área de influência de Costa. Em 11 de agosto de 2010, a Jaraguá transferiu, de uma só vez, R$ 1,1 milhão para as contas bancárias das campanhas de cinco políticos do PP. Desse total, R$ 1 milhão para os anfitriões dos encontros com Costa. Negromonte e Pizzolatti ganharam R$ 500 mil cada um. Apesar de ter sido a maior doadora de sua campanha, Pizzolatti não lembra a doação. “Tenho de ver com quem fez a prestação de contas. Não lembro”, diz. A generosidade da Jaraguá foi recompensada logo depois. No dia 30 de novembro de 2010, após as eleições, ela fechou dois contratos com a Petrobras, no valor de R$ 200 milhões, para trabalhar nas obras e montagem da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Dali a quatro meses, num consórcio com a empresa Egesa, fisgou outro contrato, de R$ 337 milhões, para trabalhar no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj. Esse contrato ainda está em vigor. Para ser aprovados, os três contratos passaram pelo crivo de Costa. Costa, afilhado do PP, interferiu na aprovação de mais de R$ 500 milhões para a Jaraguá. “Costa era nosso porta-voz na Petrobras”, diz o senador alagoano Benedito de Lira.
Casos como esse devem pulular na CPI. Ameaçam deputados e senadores do PP, do PT, do PTB, do PMDB… Os que vieram a público até o momento referem-se ao passado, àquele momento em que o mensalão secou. Quando Dilma assumiu o governo, conseguiu, para crédito dela, extirpar da Petrobras nomes como Costa e Zelada, apeados em 2012. A exceção é José Carlos Cosenza, que substituiu Costa como diretor de abastecimento. Foi uma surpresa para os técnicos da área. Cosenza era o número dois de Costa. Agia, portanto, sob as ordens dele. Todos esperavam que caísse junto. A amigos, a atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, confidenciou que não houve jeito. Dilma e Graça queriam demitir Costa desde o começo do governo. Pediram que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, convencesse o PMDB a abdicar de Costa. Como o PMDB não cedesse, Lobão pediu a Costa que se demitisse. Ele não topou. Saiu demitido. Cosenza assumiu seu lugar, com o aval do PMDB do Senado.
ELLE VOLTOU
Dilma também não conseguiu limpar a Transpetro e a BR Distribuidora, as duas maiores subsidiárias da Petrobras. Aqui, entra o presente. Essas duas empresas ainda estão nas mãos de políticos – que correrão os riscos inerentes a uma investigação parlamentar. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, antes inimigo do PT e de Lula, é o padrinho, desde 2009, de três diretores da BR, incluindo o presidente da empresa, José Lima Neto, que também recebeu o aval de Lobão. Em mais uma demonstração de que o tempo se recusa a passar em Brasília, Collor conquistou as diretorias da BR durante… a última CPI da Petrobras. Em 2009, o Senado criou uma comissão para investigar a estatal. Era um arremedo. Não deu em nada.
Não para Collor. Eleito senador em 2006, ele foi o representante do PTB na CPI. Ameaçava com requerimentos e queria até levar a discussão do precioso marco legal do pré-sal para a comissão. Em agosto, descia a lenha na Petrobras. Lula o chamou para conversar. E tudo foi resolvido. No mês seguinte, o Conselho de Administração da Petrobras, numa reunião em que Dilma estava presente, aprovou a nomeação de dois dos indicados de Collor. Uma terceira diretoria está sob o comando de um grupo de deputados do PT que pode ser descrito como “PMDB do PT”. Cândido Vaccarezza, José Mentor, Vander Loubet e André Vargas compõem esse grupo. Vaccarezza afirma que participou da indicação de Andurte de Barros Duarte para a direção da BR Distribuidora. “Eu e a bancada do PT. A indicação foi feita quando eu era líder”, afirma. Vaccarezza diz que Andurte não é filiado, mas tem boas relações com o PT e o conhece há muito tempo. O deputado André Vargas afirma que conhece Andurte como alguém próximo do PT, mas não se lembra da indicação. Procurados, os deputados Vander Loubet e José Mentor não foram localizados.
Com Collor, o presente nunca foi tão passado em Brasília. Segundo seis pessoas, entre eles parlamentares, lobistas e técnicos da Petrobras, o consórcio entre Collor e os deputados do PT na BR Distribuidora tem como intermediário Pedro Paulo Leoni Ramos, conhecido como PP. Ele é amigo de Collor desde a juventude. Collor foi seu padrinho de casamento. Integrava o “grupo de Pequim”, a turma de amigos que decidiu que Collor deveria ser candidato à Presidência durante um jantar na China, em 1987. Filho de um coronel do Exército, apesar da inexperiência na área, PP foi secretário de Assuntos Estratégicos no governo Collor. Era encarregado de tratar com os militares de assuntos delicados, como a extinção do Serviço Nacional de Informações (SNI), o maior órgão de espionagem da ditadura, e do programa nuclear. PP apareceu mesmo pela atuação em negócios em outras áreas. Foi acusado de coordenar no governo o “esquema PP”, que atuava na Petrobras e em fundos de pensão de estatais. Na Petrobras, funcionários eram obrigados a repassar negócios a pequenas empresas ligadas a PP. Em 1992, PP foi acusado de interferir em negócios feitos pela Previ, o gigantesco fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.
PP é hoje dono de diversas empresas, especialmente na área de energia e consultorias. Um dos sócios em suas empresas é seu cunhado Roberto Figueiredo Guimarães. Como ele, Guimarães foi um jovem com cargo importante no governo Collor. Aos 30 anos assumiu o cargo de secretário do Tesouro Nacional, subordinado à ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello. Em 2007, Guimarães se tornou presidente do Banco de Brasília, o BRB, um dos poucos bancos estaduais ainda não privatizados. Durou pouco no cargo. Dois meses depois, foi preso pela Polícia Federal na Operação Navalha, devido a sua atuação no emprego anterior. Guimarães fora contratado um ano antes como consultor financeiro do governo do Maranhão. De acordo com as investigações da PF, ele ajudou a construtora Gautama a desviar recursos de obras para o governo maranhense. Com PP, Guimarães é encarregado de lidar com clientes da BR Distribuidora. Outro de seus sócios, Ricardo Kassardjian, é responsável por cuidar da Infra Asset Management. Kassardjian, também influente no governo Collor, intermedeia negócios da estatal com fundos de pensão.
Procurados por ÉPOCA, o senador Fernando Collor e os empresários Pedro Paulo Leoni Ramos e Ricardo Kassardjian não responderam aos pedidos de entrevista. O dono da Jaraguá Equipamentos Industriais, Álvaro Bernardes Garcia, também não respondeu. Roberto Figueiredo afirmou não ter ligação alguma com negócios envolvendo a Petrobras ou suas subsidiárias.
Que políticos podem perder se o Congresso investigar a corrupção na estatal
DIEGO ESCOSTEGUY, MURILO RAMOS E LEANDRO LOYOLA, COM MARCELO ROCHA - Época
No começo de 2004, os deputados José Janene e Pedro Corrêa, líderes do
PP, estavam no saguão de embarque do aeroporto Santos Dumont, no Rio,
quando esbarraram com o engenheiro Paulo Roberto Costa, funcionário de
carreira da Petrobras e diretor do gasoduto entre Brasil e Bolívia.
Corrêa o conhecia desde o governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. A
dupla do PP, que comandava o partido, estava em busca de um nome de
confiança para indicar à cobiçada Diretoria de Abastecimento da
Petrobras, conforme fora acordado com outra dupla, aquela dupla mais
poderosa da República do Brasil naqueles tempos: o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Os três
conversaram rapidamente no aeroporto. Num átimo, Costa topou. Foi uma
decisão que mudou sua vida. E que, dez anos depois, no momento em que a
corrupção da Petrobras no passado alcança a fragilidade do governo Dilma
Rousseff no presente, pode mudar o futuro político do país. Esse
entrechoque entre passado, presente e futuro se dará na CPI da Petrobras
– com o avanço do noticiário policial envolvendo a estatal, ela se
tornou inevitável.
A soma do passado com o presente da Petrobras ameaça o futuro de Dilma graças à sintonia entre os interesses do blocão, aquele grupo de deputados descontentes com o governo dela, e os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos. Os dois lados querem derrotar Dilma, cada um por suas razões. Os deputados do blocão trabalham para diminuir os votos que o PT terá nas próximas eleições, nas campanhas para deputado e senador. Temem ser obliterados pela hegemonia do PT e voltar para um Congresso cada vez mais dominado por petistas. Ou pior: nem sequer voltar para Brasília, ao perder seus mandatos para petistas. Desgastar Dilma é uma das maneiras de diminuir as chances de que eles levem uma sova eleitoral do PT. Aécio e Campos se aproveitam disso para antecipar o desgaste que tentariam aplicar a Dilma somente no segundo semestre. O início da CPI no Congresso é, portanto, o início das eleições.
A soma do passado com o presente da Petrobras ameaça o futuro de Dilma graças à sintonia entre os interesses do blocão, aquele grupo de deputados descontentes com o governo dela, e os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos. Os dois lados querem derrotar Dilma, cada um por suas razões. Os deputados do blocão trabalham para diminuir os votos que o PT terá nas próximas eleições, nas campanhas para deputado e senador. Temem ser obliterados pela hegemonia do PT e voltar para um Congresso cada vez mais dominado por petistas. Ou pior: nem sequer voltar para Brasília, ao perder seus mandatos para petistas. Desgastar Dilma é uma das maneiras de diminuir as chances de que eles levem uma sova eleitoral do PT. Aécio e Campos se aproveitam disso para antecipar o desgaste que tentariam aplicar a Dilma somente no segundo semestre. O início da CPI no Congresso é, portanto, o início das eleições.
É uma tática de intimidação. O governo permitirá a convocação de gente da Petrobras, como a presidente Maria das Graças Foster. Mas usará sua força para marcar esses depoimentos para dias estrategicamente esvaziados. Entre as datas estudadas estão 12, 17 e 23 de junho, os dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo – quando a atenção para a política deverá ficar abaixo de zero. Uma investigação na Petrobras é uma aventura arriscada para todos. Uma das propostas, inevitável, era investigar o contrato de US$ 860 milhões da Petrobras com a Odebrecht. Ao ver o nome, Aécio arregalou os olhos. A menção à Odebrecht desapareceu em instantes do pedido de CPI. No ano passado, o lobista João Augusto Henriques disse a ÉPOCA que o contrato rendeu doações da empreiteira à campanha eleitoral de Dilma em 2010. Ficou acertado que a CPI investigará a compra da refinaria Pasadena, nos Estados Unidos, os indícios de pagamento de propina a funcionários da estatal pela holandesa SBM, construções de refinarias e denúncias de plataformas entregues inacabadas.
A história do medo que os políticos têm da CPI pode ser contada a partir daquele encontro no aeroporto Santos Dumont. Dois de seus três participantes estão na cadeia. Costa foi preso há dias pela Polícia Federal, acusado de ser parceiro de negócios de Alberto Youssef,
um dos maiores doleiros do Brasil. Também é suspeito de receber propina de empreiteiras quando era diretor da Petrobras. Corrêa está preso desde dezembro. Foi condenado pelo Supremo, no julgamento do mensalão, a 7 anos e 2 meses de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Cumpre pena num presídio de Pernambuco. Janene morreu em 2010, antes de ser julgado pelo Supremo. O doleiro Youssef, hoje apontado como sócio de Costa, era o responsável por lavar o dinheiro do mensalão para os deputados do PP. Foi preso na mesma operação da PF que levou Costa em cana.
Se Costa não tivesse aceitado o cargo naquela conversa no Santos Dumont, talvez tudo transcorresse da mesma maneira no Planalto, no Congresso e na Petrobras. Seja lá por que razões tenha aquiescido à indicação do PP, Costa aceitou, há dez anos, ser mais um na multipartidária indústria da corrupção que define, em larga medida e há muitas décadas, a política brasileira: a arrecadação de dinheiro por meio de cargos no governo. Dinheiro sujo para financiar campanhas eleitorais. E dinheiro sujo para todos os que participam dessa indústria: donos de partidos, lobistas que criam dificuldades para vender facilidades, fornecedores do governo, doleiros que tornam viável o pagamento de propina.
O REPARTE DA PETROBRAS
O esquema do mensalão, em todas as suas complexas ramificações, consistiu numa tentativa de centralizar o vasto caixa nas mãos do PT. Especificamente, nas mãos do ex-tesoureiro Delúbio
Soares, que contava com a ajuda de alguns auxiliares. Era uma decisão ideológica. Para quem entendia a indústria por dentro, como o ex-deputado Roberto Jefferson, do PTB, era impossível de executar. A ideia do governo Lula era oferecer menos cargos a partidos como o PP e, em troca, manter um fluxo financeiro razoável para os aliados, por meio da dinheirama do mensalão. O esquema operado por Marcos Valério, contudo, era insuficiente para manter no azul a indústria da corrupção política. Era preciso mais. Era preciso entregar um pedaço do que todos os vários aliados do governo queriam: a Petrobras, maior empresa do país, que oferece as melhores oportunidades de negócios. Por isso o esquema coexistiu, no começo do governo Lula, com poucas, mas relevantes, nomeações de peso dos demais partidos. Paulo Roberto era uma delas.
Com mensalão e Petrobras, entre outros cargos menores, os aliados pareciam finalmente satisfeitos. A descoberta do mensalão, em 2005, mudou tudo. A estratégia do PT, centralizar os financiamentos dos políticos, dera errado. Era preciso se ater aos esquemas tradicionais: cada partido cuidaria de seu caixa, por meio dos cargos que tivesse, ou que viesse a ganhar. A campanha de reeleição de Lula, em 2006, coincide com o primeiro momento da hoje infame compra da refinaria Pasadena, coordenada por Nestor Cerveró, então diretor internacional da Petrobras, indicado pelo PT e pelo PMDB. Como se confirmou há duas semanas, essa operação foi avalizada pela presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil. Dilma disse desconhecer as condições do contrato que eram lesivas à Petrobras. Disse ainda que faria diferente se soubesse delas. Como tinha enorme influência na Petrobras, Dilma será obrigada, caso a CPI trabalhe seriamente, a responder pelo que se fez com a estatal durante o governo Lula.
No caso do mensalão, tudo se descobriu; no caso da Petrobras, a corrupção ficou escondida por mais tempo. Com o avançar do governo Lula e a queda de operadores poderosos como Dirceu e Janene, os executivos da Petrobras buscaram novos padrinhos. Costa se tornou o principal diretor da Petrobras, representando os interesses do PP, do PT e do PMDB. Reportava-se, nos casos da construção de refinarias no Brasil, diretamente ao presidente Lula. Lula chamava Costa de “Paulinho”, de acordo com um dos sócios de Costa. Cerveró foi substituído na Diretoria Internacional por Jorge Zelada, uma indicação do PMDB da Câmara. Conforme revelou ÉPOCA, Zelada era subordinado, na prática, ao lobista João Augusto Henriques, uma espécie de Delúbio do PMDB. Arrecadava propina, segundo ele mesmo confessou a ÉPOCA, em nome da bancada do partido. O caso é investigado pela PF e pelo Ministério Público.
AGENDA DUPLA
Executivos como Zelada e Costa dividiam sua agenda entre o trabalho na Petrobras e despachos com os chefes políticos em Brasília. Costa frequentava cafés da manhã, almoços e jantares organizados por parlamentares. A maioria dos encontros dava-se nos apartamentos dos ex-líderes do PP na Câmara, Mário Negromonte, que foi ministro das Cidades, e João Pizzolatti. Nessas ocasiões, Costa prestava contas sobre negócios de interesse dos deputados. Zelada fazia o mesmo. Sérgio Machado, da Transpetro, também.
Um dos muitos negócios narrados nos encontros em Brasília envolve a Jaraguá Equipamentos Industriais, empresa de Sorocaba especializada em fornecer equipamentos para refinarias da Petrobras, área de influência de Costa. Em 11 de agosto de 2010, a Jaraguá transferiu, de uma só vez, R$ 1,1 milhão para as contas bancárias das campanhas de cinco políticos do PP. Desse total, R$ 1 milhão para os anfitriões dos encontros com Costa. Negromonte e Pizzolatti ganharam R$ 500 mil cada um. Apesar de ter sido a maior doadora de sua campanha, Pizzolatti não lembra a doação. “Tenho de ver com quem fez a prestação de contas. Não lembro”, diz. A generosidade da Jaraguá foi recompensada logo depois. No dia 30 de novembro de 2010, após as eleições, ela fechou dois contratos com a Petrobras, no valor de R$ 200 milhões, para trabalhar nas obras e montagem da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Dali a quatro meses, num consórcio com a empresa Egesa, fisgou outro contrato, de R$ 337 milhões, para trabalhar no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj. Esse contrato ainda está em vigor. Para ser aprovados, os três contratos passaram pelo crivo de Costa. Costa, afilhado do PP, interferiu na aprovação de mais de R$ 500 milhões para a Jaraguá. “Costa era nosso porta-voz na Petrobras”, diz o senador alagoano Benedito de Lira.
Casos como esse devem pulular na CPI. Ameaçam deputados e senadores do PP, do PT, do PTB, do PMDB… Os que vieram a público até o momento referem-se ao passado, àquele momento em que o mensalão secou. Quando Dilma assumiu o governo, conseguiu, para crédito dela, extirpar da Petrobras nomes como Costa e Zelada, apeados em 2012. A exceção é José Carlos Cosenza, que substituiu Costa como diretor de abastecimento. Foi uma surpresa para os técnicos da área. Cosenza era o número dois de Costa. Agia, portanto, sob as ordens dele. Todos esperavam que caísse junto. A amigos, a atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, confidenciou que não houve jeito. Dilma e Graça queriam demitir Costa desde o começo do governo. Pediram que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, convencesse o PMDB a abdicar de Costa. Como o PMDB não cedesse, Lobão pediu a Costa que se demitisse. Ele não topou. Saiu demitido. Cosenza assumiu seu lugar, com o aval do PMDB do Senado.
Dilma também não conseguiu limpar a Transpetro e a BR Distribuidora, as duas maiores subsidiárias da Petrobras. Aqui, entra o presente. Essas duas empresas ainda estão nas mãos de políticos – que correrão os riscos inerentes a uma investigação parlamentar. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, antes inimigo do PT e de Lula, é o padrinho, desde 2009, de três diretores da BR, incluindo o presidente da empresa, José Lima Neto, que também recebeu o aval de Lobão. Em mais uma demonstração de que o tempo se recusa a passar em Brasília, Collor conquistou as diretorias da BR durante… a última CPI da Petrobras. Em 2009, o Senado criou uma comissão para investigar a estatal. Era um arremedo. Não deu em nada.
Não para Collor. Eleito senador em 2006, ele foi o representante do PTB na CPI. Ameaçava com requerimentos e queria até levar a discussão do precioso marco legal do pré-sal para a comissão. Em agosto, descia a lenha na Petrobras. Lula o chamou para conversar. E tudo foi resolvido. No mês seguinte, o Conselho de Administração da Petrobras, numa reunião em que Dilma estava presente, aprovou a nomeação de dois dos indicados de Collor. Uma terceira diretoria está sob o comando de um grupo de deputados do PT que pode ser descrito como “PMDB do PT”. Cândido Vaccarezza, José Mentor, Vander Loubet e André Vargas compõem esse grupo. Vaccarezza afirma que participou da indicação de Andurte de Barros Duarte para a direção da BR Distribuidora. “Eu e a bancada do PT. A indicação foi feita quando eu era líder”, afirma. Vaccarezza diz que Andurte não é filiado, mas tem boas relações com o PT e o conhece há muito tempo. O deputado André Vargas afirma que conhece Andurte como alguém próximo do PT, mas não se lembra da indicação. Procurados, os deputados Vander Loubet e José Mentor não foram localizados.
Com Collor, o presente nunca foi tão passado em Brasília. Segundo seis pessoas, entre eles parlamentares, lobistas e técnicos da Petrobras, o consórcio entre Collor e os deputados do PT na BR Distribuidora tem como intermediário Pedro Paulo Leoni Ramos, conhecido como PP. Ele é amigo de Collor desde a juventude. Collor foi seu padrinho de casamento. Integrava o “grupo de Pequim”, a turma de amigos que decidiu que Collor deveria ser candidato à Presidência durante um jantar na China, em 1987. Filho de um coronel do Exército, apesar da inexperiência na área, PP foi secretário de Assuntos Estratégicos no governo Collor. Era encarregado de tratar com os militares de assuntos delicados, como a extinção do Serviço Nacional de Informações (SNI), o maior órgão de espionagem da ditadura, e do programa nuclear. PP apareceu mesmo pela atuação em negócios em outras áreas. Foi acusado de coordenar no governo o “esquema PP”, que atuava na Petrobras e em fundos de pensão de estatais. Na Petrobras, funcionários eram obrigados a repassar negócios a pequenas empresas ligadas a PP. Em 1992, PP foi acusado de interferir em negócios feitos pela Previ, o gigantesco fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.
PP é hoje dono de diversas empresas, especialmente na área de energia e consultorias. Um dos sócios em suas empresas é seu cunhado Roberto Figueiredo Guimarães. Como ele, Guimarães foi um jovem com cargo importante no governo Collor. Aos 30 anos assumiu o cargo de secretário do Tesouro Nacional, subordinado à ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello. Em 2007, Guimarães se tornou presidente do Banco de Brasília, o BRB, um dos poucos bancos estaduais ainda não privatizados. Durou pouco no cargo. Dois meses depois, foi preso pela Polícia Federal na Operação Navalha, devido a sua atuação no emprego anterior. Guimarães fora contratado um ano antes como consultor financeiro do governo do Maranhão. De acordo com as investigações da PF, ele ajudou a construtora Gautama a desviar recursos de obras para o governo maranhense. Com PP, Guimarães é encarregado de lidar com clientes da BR Distribuidora. Outro de seus sócios, Ricardo Kassardjian, é responsável por cuidar da Infra Asset Management. Kassardjian, também influente no governo Collor, intermedeia negócios da estatal com fundos de pensão.
Procurados por ÉPOCA, o senador Fernando Collor e os empresários Pedro Paulo Leoni Ramos e Ricardo Kassardjian não responderam aos pedidos de entrevista. O dono da Jaraguá Equipamentos Industriais, Álvaro Bernardes Garcia, também não respondeu. Roberto Figueiredo afirmou não ter ligação alguma com negócios envolvendo a Petrobras ou suas subsidiárias.
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