Reinaldo Azevedo - VEJA
Havia
uma escuta na cela do doleiro Alberto Youssef (leia post). Isso é, ao
menos, o que diz seu advogado, Antonio Augusto Figueiredo Bastos. Se for
mesmo verdade, e não vejo por que mentir a respeito, a ocorrência pode
ser muito séria. A escuta não foi instalada com autorização judicial.
Trata-se de um monitoramento clandestino. Segundo consta, Youssef já
recebeu um recado: é para tomar cuidado com o que fala para não envolver
gente poderosa. Considerado que uma das figuras enroscadas com ele é o
deputado André Vargas, do PT do Paraná, um chefão do partido e até
anteontem vice-presidente da Câmara e do Congresso, é de se supor que o
“poderoso”, no caso, seja ainda mais… poderoso.
Youssef
pertence a um ramo em que as pessoas costumam falar pouco. Ele está
preso desde o dia 17 de março. No dia 21, prestou um depoimento em que…
Bem, ele não prestou depoimento nenhum! Preferiu ficar calado. Se as
investigações da PF estiverem certas, ele lidera um esquema de lavagem
de dinheiro que pode ter movimentado R$ 10 bilhões.
O próprio
Youssef achou a escuta ambiental, capaz de registrar, em tempo real,
conversas suas com outros presos. Seu advogado fez uma foto em que o
próprio doleiro aparece, magro e barbudo, exibindo os equipamentos do
outro lado do vidro do parlatório. Se não foi a Justiça, e não foi, quem
está interessado em saber o que o doleiro fala ou deixa de falar?
Parece lícito supor que pode estar correndo risco de vida, não?
Nesta
quinta, apareceram novas evidências que ligam Youssef a Paulo Roberto
Costa, o ex-diretor da Petrobras, que também está preso. A Polícia
Federal apreendeu na casa de Costa uma planilha de uma contabilidade
manual da empresa Costa Global, uma de suas consultorias, para a qual o
doleiro fez oito repasses entre 17 de dezembro de 2012 e 15 de março de
2013. Só nesse período, Youssef transferiu para Costa mais de R$ 1
milhão, US$ 500 mil dólares e 314 mil euros. Até então, o engenheiro
admitia ter recebido do doleiro apenas uma Land Rover a título de
serviços prestados.
Como se
nota, Youssef parece ter mil e uma utilidades. Operava com Paulo Roberto
Costa — que mantinha influência na Petrobras — e também com André
Vargas, o enrolado deputado petista. E sabe-se lá em que outros
segmentos.
O leitor
precisa entender uma coisa: para que serve um doleiro? Não é só para os
remediados comprarem alguns dólares para dar um pulinho em Miami na
classe econômica, não! Os propinodutos envolvendo dinheiro público
costumam passar por esses caras porque eles lidam com dinheiro vivo,
cash. Podem ainda abastecer contas secretas no exterior. Depositam em
dólares na conta de corruptos lá fora e recebem em reais aqui dentro.
São peças-chave em qualquer esquema ilegal. Imaginem quantas são as
pessoas que gostariam que Youssef perdesse a língua.
Nesta
quinta, a Polícia Federal pediu ainda que ele e Carlos Habib Chater,
outro doleiro, sejam transferidos para o presídio de segurança máxima de
Catanduvas, onde estão narcotraficantes, por exemplo. Seu advogado
reagiu: “Eles não são criminosos de alta periculosidade para ir para um
presídio de segurança máxima. Parece retaliação contra o meu cliente. É
uma medida desnecessária e abusiva”.
Querem
saber? Também achei a solicitação estranha. Preso na carceragem de
Curitiba, não me parece que esteja pondo em risco a paz pública,
obstruindo investigações ou fazendo ameaças. Não que eu saiba. Tem muita
gente assustada porque Youssef foi um dos investigados no chamado
escândalo do Banestado, que envolvia justamente remessa ilegal de
divisas para o exterior. À época, colaborou com as investigações, pagou
uma multa de R$ 1 milhão e não foi processado. O temor é que repita
agora o procedimento. Ele precisa é ter garantias de vida, isto sim.
Afinal, parodiando aquele filme, “doleiro morto não fala”.
Reinaldo Azevedo - VEJA
Robson Bonin, na VEJA.com.
Preso na carceragem da Polícia Federal em
Curitiba desde 17 de março, o doleiro Alberto Youssef seguia afastado
dos olhos do país. Apontado como o cabeça de um esquema de lavagem de
dinheiro que teria desviado 10 bilhões de reais, Youssef manteve-se em
silêncio no depoimento que prestou em 21 de março. O doleiro continua se
recusando a colaborar com a polícia para apontar quem eram as
autoridades e empresários beneficiados pelo esquema. Mas a sua presença
no cárcere agora tornou-se um problema para a Justiça e para a própria
Polícia Federal. Em 4 de abril, os advogados de Youssef registraram, no
parlatório da Polícia Federal, a foto que abre esta reportagem. Youssef,
barbudo, visivelmente mais magro e com uma camisa amarrotada exibe nas
mãos, do outro lado do vidro que o separa dos seus defensores, o que
seria uma escuta ambiental.
O
dispositivo, segundo os advogados de Youssef, estava escondido na cela
do doleiro. Temendo que as conversas dele com outros presos estivessem
sendo monitoradas, o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto comunicou
o ocorrido ao juiz Sérgio Moro, que cuida do caso na capital
paranaense. “O aparelho fotografado pode ser usado para escuta ambiental
GSM, ou seja, conforme peritos ouvidos pela defesa, trata-se de uma
escuta ambiental que permite o monitoramento das conversas entre o
requerente e outros presos em tempo real”, registrou Figueiredo no
documento enviado ao juiz.
Os
defensores de Youssef destacam ainda que os autos de processo não
apresentam autorização judicial que justifique a existência da escuta
ambiental na cela do doleiro: “Não encontramos nenhuma decisão judicial
que autorizasse a instalação ou uso de escutas ambientais. Para evitar
equívocos a defesa suscitou a vossa excelência que fosse certificado nos
autos sobre a existência ou não de autorização judicial sobre escutas
ambientais.” Ainda segundo os advogados, nesta quinta-feira os agentes
da Polícia Federal teriam realizado uma busca na cela de Youssef para
apreender o dispositivo. Foi essa ação que levou a defesa a encaminha um
conjunto de solicitações à Justiça. “Não estamos acusando ninguém. Mas o
fato é grave. Temos um perito que afirma que o dispositivo localizado
pelo meu cliente é uma escuta. Agora queremos saber se ela é clandestina
ou se foi autorizada”, diz Figueiredo.
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