sexta-feira, 30 de maio de 2014

Coreia do Norte concorda em investigar destino de japoneses abduzidos décadas atrás
Martin Fackler - NYT
A Coreia do Norte concordou em abrir uma nova investigação sobre o destino dos cidadãos japoneses abduzidos por seus agentes durante a Guerra Fria, disseram os dois países nesta quinta-feira (29), sinalizando um possível avanço diplomático em um assunto de grande carga emocional, que divide o Japão e a Coreia do Norte.
Nas negociações realizadas em Estocolmo, negociadores norte-coreanos concordaram com os pedidos japoneses de investigação sobre o que aconteceu a mais de uma dúzia de japoneses, que acredita-se que tenham sido raptados pelo regime stalinista isolado décadas atrás, revertendo a insistência anterior da Coreia do Norte de que o assunto tinha sido resolvido.
O principal porta-voz do governo japonês, o secretário chefe de Gabinete, Yoshihide Suga, disse que, por sua vez, o Japão iniciaria a suspensão das sanções impostas à Coreia do Norte por causa da abdução. Elas incluem uma proibição de viagem entre os dois países, de transferência de dinheiro e também visitas de navios norte-coreanos aos portos japoneses, ele disse.
"Nós esperamos que isso produza resultados concretos e resolva rapidamente os problemas envolvendo os japoneses, incluindo o retorno de qualquer abduzido sobrevivente", disse Suga aos repórteres.
O acordo poderia levar à solução de um problema que levou o Japão a cortar virtualmente todos os laços com a Coreia do Norte, desde que esta reconheceu em 2002 que tinha sequestrado cidadãos japoneses, devolvendo cinco deles vivos. O público japonês ficou ultrajado com as revelações, e com os relatos frequentemente enigmáticos e vagos dados pelo governo norte-coreano sobre o destino de vários outros abduzidos, que segundo ele morreram.
A maioria deles foi pega por agentes norte-coreanos nos anos 70 e 80, enquanto relaxavam na praia ou voltavam a pé da escola para casa. O destino dessas pessoas era um mistério até o repentino reconhecimento pela Coreia do Norte.
Desde então o Japão pressiona a Coreia do Norte a apresentar um relato completo do que aconteceu com os outros abduzidos, em meio a relatos não confirmados de que foram vistos vivos mesmo depois de 2002 na Coreia do Norte, um dos países mais fechados e sigilosos do mundo. Diplomatas norte-coreanos rejeitavam essas exigências, dizendo que tinham revelado toda a informação que dispunham.
A disposição da Coreia do Norte em reverter essa posição pode sinalizar um novo desejo por parte do ditador Kim Jong Un de abrir um pouco seu país empobrecido ao mundo exterior, seja para estimular sua economia decrépita ou para reduzir sua dependência da China, sua principal parceira comercial. Para o Japão, o possível avanço é um raro sucesso diplomático para o primeiro-ministro Shinzo Abe, um conservador que preside um azedamento dos laços com outros vizinhos, China e Coreia do Sul.
"A solução completa da questão dos abduzidos é uma das prioridades do governo Abe", disse Abe ao anunciar o acordo. "Nossa missão não terminará até que todas as famílias dos abduzidos possam ter novamente seus filhos em seus braços."
Como parte do acordo de quinta-feira, Suga disse que a Coreia do Norte concordou em criar um comitê especial para conduzir uma investigação interna sobre o que aconteceu aos abduzidos. O comitê também examinará o destino de outros japoneses na Coreia do Norte, incluindo aqueles que acompanharam seus cônjuges coreanos ao país nos anos 50, à procura dos restos mortais de japoneses que morreram ali, nos últimos dias caóticos da Segunda Guerra Mundial.
Suga também disse que a Coreia do Norte concordou em devolver qualquer abduzido sobrevivente que encontrar. Apesar de ainda não se saber ao certo se algum ainda está vivo após tantos anos, e após a Coreia do Norte já ter declarado que todos eles estavam mortos, a declaração reflete as esperanças das famílias japonesas de se reencontrarem com seus entes queridos.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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