sábado, 31 de maio de 2014

O IMPÉRIO E OS NOVOS BÁRBAROS? II

Imigração ilegal eleva tensão na fronteira de Melilla (Espanha) e Marrocos
Ana Carbajosa - El País
Santi Palacios/AP - 28.mai.2014
Imigrante africano sobe em poste para atravessar uma cerca metálica que separa o Marrocos do enclave espanhol de Melilla, na fronteira entre os países Imigrante africano sobe em poste para atravessar uma cerca metálica que separa o Marrocos do enclave espanhol de Melilla, na fronteira entre os países
O salto de cerca de 500 subsaarianos na última quarta-feira (28) provocou o reforço das medidas de segurança em torno da cerca e do Centro Temporário de Imigrantes de Melilla (Ceti).
Na sexta-feira (30), o envio de agentes de segurança da península, a saída de alguns ocupantes do Ceti e a aplicação de elementos físicos adicionais às cercas são as três principais medidas anunciadas pelo delegado do governo na cidade, Abdelmalik El Barkani.
Ao longo do dia pôde-se apreciar a magnitude da mobilização. Durante a madrugada, por volta das 6h, os helicópteros da Guarda Civil iluminavam a fronteira, anunciando uma possível tentativa de salto.
Junto à cerca, numerosos veículos policiais e agentes dotados de equipamento antidistúrbios se amontoavam perto do cruzamento do bairro Chinês, o lugar escolhido pelos imigrantes na quarta-feira para saltar o conjunto de cercas que tentam impedir o acesso ao território espanhol. O salto não chegou a ocorrer.
Horas depois, passado o meio-dia e na entrada do Ceti, o centro ao qual são levados os imigrantes que chegam pela cerca, de barco ou com passaportes falsos, uma altercação entre aspirantes a refugiados sírios provocou a chegada de numerosos efetivos policiais, com equipamentos antidistúrbios.
Os agentes conseguiram restabelecer a calma e retirar em segurança o cidadão sírio que incendiou o Ceti com supostas acusações de falta de unidade da comunidade síria e cuja segurança correu risco por alguns minutos. Os dois incidentes dão uma ideia da presença policial e da tensão que se acumula na fronteira de Melilla.
Cerca de 2.200 pessoas vivem no Ceti e em tendas de campanha militar instaladas nos arredores do recinto. Essa ocupação é quase cinco vezes maior que a considerada ideal para o centro.
Na quinta-feira da semana passada, dois aviões com dezenas de imigrantes a bordo saíram de Melilla rumo à península. Na quarta-feira passada fizeram o mesmo outros 150 imigrantes, cujo destino final é a península ou a deportação para seus países de origem.
"Ao longo desta semana vão ocorrer mais transferências", anunciou El Barkani.
Essas saídas, junto com outra mais prevista para a noite, de barco, fazem parte da campanha para reduzir a superlotação no Ceti. Na delegacia, dezenas de imigrantes faziam fila para fazer os primeiros trâmites migratórios, e do hospital da cidade saíram alguns dos feridos no salto e que pouco depois perambulavam com os membros enfaixados pelas imediações do Ceti.
Ao todo, cem agentes das Unidades de Intervenção Policial (UIP) foram enviados pelo Ministério do Interior. Acrescentam-se aos 180 Guardas Civis deslocados para Melilla.
El Barkani também explicou aos jornalistas que será acelerado o chamado "método anti-intrusão" - mais conhecido como malha antiescalada, que dificulta a ascensão dos imigrantes e que deveria estar pronta nas próximas "duas ou três semanas" nos lugares onde ainda não foi colocada.

Segunda mulher salta a cerca

Astan Traore se transformou na quarta-feira na segunda mulher que conseguiu saltar a cerca de Melilla a partir do Marrocos, depois que, no início do ano, uma menor o conseguiu.
Além disso, Astan está grávida de dez semanas, informa Toñy Ramos, de Melilla. Ao chegar ao Hospital Comarcal para ser examinada, seu olhar parecia triste e distante, embora ao lhe perguntar se era feliz tenha esboçado um sorriso com um sim. Na quarta-feira foi a primeira vez que tentou saltar a cerca.
Astan quer chegar à península e daí à Europa. É o sonho de todos os imigrantes. Procede do Mali, beira os 20 anos e esteve sete meses vivendo em Nador e no monte Gurugu, onde continuam mais de 15 mulheres à espera de uma oportunidade para passar ao solo espanhol.
O homem que diz ser seu marido afirma que "não sentiu medo pelo bebê quando ela se dispôs a também saltar a cerca. Como estava forte, não havia perigo".
Ela não sabia que só uma mulher o havia conseguido. No início do ano, uma menor de Camarões que disse ter tentado quatro vezes foi a primeira a saltar a cerca, apesar de ter uma tíbia quebrada.
"Sinto-me feliz, estou bem e já tenho meu lugar aqui para dormir esta noite. E a única coisa que quero é ir para a Europa."
"Trabalhar, ser livre", diz agora Astan Traore, que quer seu nome bem claro, e ela mesma digita as letras. Todos querem que suas famílias saibam que conseguiram. 
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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