sábado, 31 de maio de 2014

Os extremistas europeus não estão exatamente na direita
Está na hora de chamarmos os estatistas autoritários da Frente Nacional e seus pares do
que eles realmente são.
Direita ou esquerda?
Essa semana, o parlamento europeu deu uma forte guinada à esquerda. Essa não é exatamente a história que se leu na mídia (sendo a maioria das manchetes sobre a Europa ter dado uma guinada à direita) mas essa é a conclusão óbvia ao se analisar os resultados das eleições de domingo desde o que a maior parte dos britânicos entende pela divisão entre direita e esquerda.
Partindo de qualquer questão política britânica, das escolas aos gastos públicos, a posição esquerdista costuma ser entendida como a defesa de uma maior intervenção estatal e de um gerenciamento da economia pelo estado. A posição da direita é vista como em defesa de um estado mínimo, do livre mercado e a redução da regulamentação nas atividades econômicas. Sendo assim, como um partido como o francês Frente Nacional (que defende protecionismo e estado de bem estar social e que se opõe a globalização) é chamado de "extrema-direita”?
Caso a Frente Nacional seja a extrema-direita, então a centro-direita deve adorar medidas parcialmente protecionistas, deve ver o estado de bem estar social como um bem público e deve ser um tanto desconfiada da globalização. Porém, isso soa mais como um manifesto do Ed Miliband. É verdade que, nos idos anos 70, Jean-Marie Le Pen costumava enfeitar suas posições racistas com idéias econômicas liberais. Só que isso aconteceu faz tempo. Os partidos que triunfaram nessa semana são aqueles que oferecem uma combinação lógica perfeita de xenofobia, nacionalismo e estado autoritário.
Perfeitamente lógico, mas profundamente errado. Enquanto muitos dos representantes do capitalismo global (banqueiros, corporações internacionais que evitam impostos e assim por diante) mostraram que tem os pés de barro, o maior estrago nas economias veio de governos que tentaram sair do negativo buscando empréstimos para depois buscarem regular os mercados na tentativa de inflar novamente bolhas financeiras que mantiveram seus cofres cheios. Os que ganhadores com o aumento dos financiamentos baratos e com as taxas de juros artificialmente baixas foram os bem de vida, enquanto o número desproporcional de perdedores foram os que ganham pouco. É uma receita para maior desigualdade. 
Dessa forma, não causa surpresa que as eleições européias viram a “revolta dos camponeses” contra um sistema político econômico que achatou os pobres. Porém, não é verdade que iremos ficar melhor trocando um modelo de estado grande por outro da mesma forma. Muito melhor seria reduzirmos a presença do estado e deixarmos que o mercado crie mais empregos, superando os que o governo deu fim - como aconteceu na Grã-Bretanha nos últimos anos. No entanto, esse não parece ser o caminho para a Europa continental em um futuro próximo.
Dos 751 assentos do parlamento europeu, só 46 (aqueles ocupados por partidos que pertencem aos Conservadores Europeus e ao Grupo Reformista) se definem nos termos do liberalismo econômico. Esses sofreram uma perda de 11 assentos. Em contrapartida, os partidos da União de Esquerda (normalmente chamados de extrema-esquerda) ganharam 10 assentos, chegando aos 45. Já o Europa pela Liberdade e Democracia (normalmente chamados de extrema-direita) ganharam mais 11 assentos e foram para um total de 40. Não houve uma vitória da direita sobre a esquerda, somente uma vitória dos eurocéticos sobre os partidos em prol da Europa, dos intervencionistas sobre os em prol do livre mercado. Se quisermos pensar sobre os agrupamentos de partidos em Estrasburgo, podemos juntar a “extrema-esquerda” e a “extrema-direita” debaixo de um grande guarda-chuva de estatistas xenófobos.
Quanto mais a Europa vai nessa direção, mais irá crescer o espaço entre a Europa e os Estados Unidos. Mesmo tendo os Estados Unidos os seus lobbies protecionistas e uma camada racista xenófoba, existe um crescente distanciamento entre a Europa do estado grande e os Estados Unidos do estado mínimo. Isso se reflete no distanciamento entre as economias da amarrada Europa e dos Estados Unidos em recuperação. Com as amarras vem o extremismo político. Na geração anterior, tinha-se que olhar para a América para encontrar gente como os membros da Ku Klux Klan, enquanto a Europa parecia o modelo de democracia social moderada. Já hoje, não são os Estados Unidos que produzem grupos como o Jobbik e o Golden Dawn.
Um aspecto pouco observado da eleição foi que a Grã-Bretanha rejeitou essa agenda. O Partido Nacional Britânico está enterrado, perdendo seus assentos no Parlamento Europeu e 80% dos seus eleitores. O racismo desse grupo nunca foi muito aceito. Agora, o explicitamente anti-racista Ukip, foi o voto de protesto que de longe está mais de acordo com o espírito britânico - em suma, o desejo de ser deixado em paz por burocratas intrometidos. Nigel Farage acabou com o único partido neofascista britânico e merece aplausos calorosos por isso. O voto de protesto dos britânicos dá as boas-vindas aos imigrantes de qualquer cor ou credo. 
A tragédia da União Européia é que ela representa tantas coisas boas. No seu melhor, ela negocia acordos de livre comércio e derruba barreiras para a mobilidade de mão-de-obra. Porém, esse processo foi corrompido por grupos de interesse que distorcem as regras de intercâmbio em proveito próprio. Muito foi dito sobre as recentes eleições para o Parlamento Europeu e quase nada foi dito sobre as políticas que lá estarão em pauta.
Tivemos diversos insultos vindo de todos os lados, mas não aprendemos quase nada sobre os pontos que estarão em votação pelos representantes no Parlamento. Se as políticas dessa “extrema-esquerda” e dessa “extrema-direita” agora eleitas forem sujeitas ao exame adequado, poderemos ver o quão semelhantes elas realmente são, e quão pouco a política britânica tem em comum com ambas.
Do The Spectator - http://www.spectator.co.uk
Tradução: Fernando de Souza

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