Na trilha do dinheiro
MERVAL PEREIRA - O Globo
Há
pelo menos duas situações nessa Operação Lava-Jato que chamam a atenção
do cidadão comum: uma, causando genuíno espanto; a outra, esperança de
que o processo venha a ser bem-sucedido ao seu final, seguindo os passos
do mensalão, de cujo enredo o petrolão é sequência lógica. Que o diga o
juiz Sérgio Moro, que assessorou a ministra Rosa Weber no julgamento do
mensalão.
Causa espanto em todas as rodas o volume de dinheiro
desviado por esse esquema criminoso instalado dentro da Petrobras. O que
definiu o tamanho do escândalo foi a notícia de que o ex-gerente da
Petrobras Pedro Barusco concordou em devolver cerca de US$ 100 milhões
desviados da companhia.
Ele era o sub de Renato Duque, ex-diretor
da Petrobras preso na Lava-Jato, da Polícia Federal, e fez acordo de
delação premiada. Embora tenha seu nome mencionado no relatório do
Ministério Público Federal, Barusco não foi preso por ter feito o
acordo, e é apontado por vários dirigentes de empresas como o
responsável por operacionalizar a propina que era paga ao ex-diretor.
Parte
do dinheiro já foi apreendida administrativamente, como US$ 20 milhões
em nome de Barusco na Suíça. Se o subordinado tem condições de devolver
tanto dinheiro, quanto não terá desviado o chefe, que era o diretor
diretamente nomeado pelo PT, indicado pelo ex-ministro José Dirceu no
tempo em que era o capitão do time de Lula? Não é à toa, portanto, que
Duque é dos poucos presos que não estão dispostos a aderir à delação
premiada, pelo menos por enquanto. A prorrogação de sua prisão tem o
objetivo de levá-lo a falar.
Já parecem pouco os US$ 23 milhões
que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa prometeu devolver, no
primeiro gesto de desapego estimulado pelas regras de delação premiada.
Fora o tamanho do dinheiro envolvido nas diversas operações, está
chamando a atenção o profissionalismo com que o Ministério Público e a
Polícia Federal estão agindo, sob a coordenação do juiz Sérgio Moro,
que, como especialista em lavagem de dinheiro, está seguindo normas
estritas para identificar o caminho do dinheiro, até chegar aos
corruptores e aos corruptos. Está seguindo o conselho que o Deep Throat
nunca deu aos repórteres do "Washington Post", mas que ficou célebre:
"Follow the money" ("Sigam o dinheiro").
O juiz está tomando
também todos os cuidados, desde o primeiro momento, para evitar desvios
que possam impugnar as provas do processo, mas tem sido rigoroso no
cumprimento da lei. As empreiteiras haviam proposto, na semana da prisão
em massa, um acordo conjunto para pagarem uma multa bilionária que
zeraria o processo para um recomeço dentro de novas regras.
O
acordo não foi aceito, pois ele implicaria a falta de punição dos
corruptores. A partir da decisão do juiz, que mandou prender donos e
altos executivos das empreiteiras, as empresas estão tentando um acordo
de repactuação com a Controladoria Geral da União, o que tem o respaldo
do Tribunal de Contas da União (TCU).
A ideia é não paralisar as
obras das empreiteiras espalhadas por todo o país. A repactuação implica
a redução dos custos superfaturados e a devolução do sobrepreço já pago
pela Petrobras, mas não evitará que os executivos implicados sejam
incluídos no processo.
Além disso, os promotores encarregados do
caso estão deixando para tratar dos políticos envolvidos na corrupção da
Petrobras por último, justamente para não criar um ambiente que
dificulte as investigações.
Mesmo figuras que não têm mandato,
como o expresidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, hoje secretário
do governo da Bahia, e João Vaccari Neto, o tesoureiro do PT, ainda não
foram incluídos na lista dos que serão arrolados para depoimentos na
Polícia Federal. Ambos, e outros ainda, têm laços políticos fortes e
poderiam criam embaraços para as investigações.
Não divulgando a
lista de políticos e assemelhados envolvidos no esquema de corrupção da
Petrobras, o juiz Sérgio Moro ganha também tempo para consolidar na
opinião pública a imagem de independência e imparcialidade com que a
operação está sendo conduzida, impedindo sua partidarização.
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