sábado, 26 de dezembro de 2015

A era do petróleo
Joana Petiz - DN
Da mesma forma que a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras, não será por nos faltar o petróleo que vamos deixar de usar combustíveis fósseis. A frase do xeque saudita Ahmed Yamani completava-se com a certeza de que, com os preços acima dos 30 dólares por barril, como vinha acontecendo antes do virar do século, a tecnologia faria o seu caminho no sentido de encontrar e tornar comercialmente viáveis soluções energéticas alternativas. O que o xeque saudita não previu, há 15 anos, foi que as sucessivas alternativas avançariam a ritmo lento - mesmo depois de o petróleo passar e se manter bem acima dos cem dólares por barril. Como não imaginou que a esses preços se tornaria rentável a descoberta e exploração de novas reservas e que a tecnologia ligada ao crude, essa sim, se desenvolveria continuamente para permitir sacar até à última gota dessas reservas, mesmo que fossem muito longe da costa, mesmo que estivessem dentro de pedras ou muitos quilómetros abaixo da superfície do mar e precisassem de ser submetidas a complexas formas de filtragem. A tecnologia que o xeque saudita apontava como o maior inimigo dos produtores de petróleo tornou-se um aliado. Agora, porém, que o petróleo voltou a cair a pique - em 16 meses passou a custar um quarto do que valia no verão do ano passado -, o que Ahmed Yamani vaticinou pode realmente começar. Se os preços baixos potenciam o consumo e contribuem para que se adie outras formas de produção energética, também tornam inviável a exploração das novas jazidas - o investimento necessário não compensa o que se pode ganhar com a venda. E o acordo a que se chegou em Paris para reduzir brutalmente as emissões de gases poluentes vão dar uma ajuda. Mas pode bem acontecer que seja a OPEP a tornar-se a sua principal inimiga: ao manter os preços em queda por recusar prescindir da sua quota de produção - numa altura em que a procura está a cair - inviabiliza a exploração de petróleo noutras partes do mundo. Sobretudo nos países pobres, que agora têm um incentivo real (também sob a forma de financiamento) para produzir energia limpa. E que podem descobrir rapidamente que há muito mais vantagens nessas fontes energéticas. Quando se entrar finalmente neste caminho, dificilmente poderá voltar-se atrás.

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