quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O que Dilma não aprendeu com Dalva de Oliveira: dizer “Errei, sim!”
Em entrevista a jornaleco de esquerda, a futura impichada identifica os inimigos...
Reinaldo Azevedo - VEJA
Ai, ai!!! Dilma Rousseff, vivendo a solidão do Palácio da Alvorado, resolveu dar uma entrevista a um jornaleco de esquerda e conclamou seu partido a fazer, ora vejam!, uma autocritica. Afirmou:
“Eu acredito que o PT precisa passar por uma grande transformação. Primeiro, uma grande transformação em que se reconheçam todos os erros que cometeu do ponto de vista da questão ética e da condução de todos os processos de uso de verbas públicas”.
A fala é vazada naquele dilmês castiço, cuja especialidade é tornar o fácil difícil. Dalva de Oliveira teria dito isso tudo em duas palavras: “Errei, sim!”. Mas Dilma é Dilma, e jamais abrirá mão de substituir duas palavras por duzentas. Afinal, assim ela consegue não dizer porcaria nenhuma, mas com aparência de profundidade.
Sabe-se que o partido já desistiu de Dilma e considera o impeachment favas contadas. Mais do que isso: quer se livrar da sua herança maldita. O PT não a quer nos palanques na eleição municipal. Pretende ainda mantê-la longe do horário eleitoral gratuito. Ao afirmar que é a legenda que precisa passar por uma “transformação”, é claro que Dilma busca se eximir de todos os erros.
Para a futura presidente impichada, essa verdadeira máquina de cometer crimes que é o PT também é inocente. Os erros a que ela se refere teriam sido cometidos por pessoas. Afirmou:
“Nós vamos ter de resgatar isso [o legado]. Não é possível que se confunda o erro individual de algumas pessoas, que são passíveis de erros, com o erro de uma instituição. A instituição tem de ser preservada”.
Dizer o quê? Na entrevista, a petista voltou a se referir ao impeachment como um golpe e deixou claro quais seriam os seus alvos caso conseguisse escapar: os partidos que lhe faziam oposição, o PMDB, a “grande mídia” e o empresariado.
Ah, bom! Então ficou fácil, né? Se aí estão os que ela considera “golpistas”, caso se livre da condenação, ela já sabe o que fazer: terá de combater o empresariado, a imprensa, o PMDB, o PSDB e o DEM, entre outras forças. E isso seria feito com petistas ajoelhados no milho, dedicados à autocrítica.
Acho, sim, espantoso que o Brasil tenha ficado por longos 13 anos sob o domínio de uma máquina criminosa, dedicada ao assalto sistemático do Estado. Mas não me causa menos espécie que, nesse tempo, tenha sido essa a qualidade do pensamento que se conseguiu produzir.
A entrevista concedida por Dilma explica por que precisamos virar rapidamente essa página. A indigência a que estamos submetidos não é apenas moral. É também, e talvez acima de tudo, intelectual.

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