Sobrinho de Lula não explica como empresa recebeu R$ 1,5 milhão
Em inquérito da Operação
Janus, Taiguara Rodrigues dos Santos, que tinha contratos milionários
com a Odebrecht em Angola, é apontado como laranja de Lula
Thiago Bronzatto - VEJA
Audiência pública para tomada de depoimento do
proprietário da empresa de engenharia Exergia Brasil, Taiguara Rodrigues
dos Santos - 15/10/2015 (Lucio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados)
O
empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho do ex-presidente
Lula, é um fenômeno do mundo dos negócios: de uma hora para outra,
passou de vidraceiro falido em Santos a sócio de uma empresa de
engenharia de grandes obras em Angola. O salto ocorreu quando o jovem
criou a Exergia Brasil, com patrimônio de 1,5 milhão de reais, e assinou
contratos milionários com a construtora Odebrecht.
Após VEJA revelar essa façanha em 2015, Taiguara passou a ser
investigado. No dia 20 de maio, ele se tornou alvo da Operação Janus — e
foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para esclarecer a
origem da sua fortuna suspeita. Quando questionado sobre o capital
social de sua empresa, respondeu que era de 2,5 milhões de reais. Não
soube explicar como chegou a esse montante, mas garantiu que o aporte
não saiu de sua conta bancária. Sugeriu que os policiais ouvissem o
contador.
José
Emmanuel Camano, o contador da Exergia, deu uma versão diferente.
Segundo ele, o capital social da Exergia é de 1,5 milhão de reais, “
tendo a integralização sido feita por João Germano (51%) e Taiguara
(49%)”. Ou seja, de acordo com o relato de Camano, o sobrinho de Lula
injetou quase metade do 1,5 milhão de reais na Exergia Brasil, mesmo não
sabendo explicar direito como ocorreu essa operação financeira, muito
menos a origem do dinheiro. Taiguara e seu contador também derraparam
em outros trechos de seus depoimentos.
Em outubro de 2015, durante uma audiência na CPI do BNDES,
realizada na Câmara dos deputados em Brasília, o empresário disse que
visitou Cuba em março de 2014 na companhia de seu primo, Fábio Luis, o
Lulinha. Aos parlamentares, Taiguara afirmou que o seu intuito era
prospectar negócios, enquanto o filho do ex-presidente curtia as férias
no país. O contador da Exergia Brasil, mais uma vez, apresentou outro
lado da história: “Que também viajou com o Taiguara e o Fábio,
‘Lulinha’, para Cuba, ocasião em que buscavam potenciais mercados na
área de exportação de alimentos, nada tendo sido concretizado”.
E-mails
publicados por VEJA no ano passado revelaram que um representante da
Agência Brasil de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Cuba
chegou a pedir autorização para reservar um espaço numa feira
empresarial para que Taiguara e Lulinha se reunissem reservadamente com
autoridades do governo local. A direção do órgão, porém, barrou a
solicitação. Os investigadores apuram se Taiguara era parceiro de
negócios de Lulinha. O site da Exergia Brasil foi criado pela G4, de
Fábio Luis. O único cliente conhecido da empresa é a empreiteira
Odebrecht.
A Polícia
Federal e o Ministério Público Federal estão apurando todas as
estranhezas no súbito enriquecimento de Taiguara – e quais as relações
disso com Lula. “Não é difícil enxergar as diversas inconsistências na
narrativa apresentada e concluir que toda a inexplicável prosperidade
financeira de Taiguara e seus contratos milionários com a Odebrecht
constituem, na verdade, favor e meio indireto adotado pela Odebrecht
para retribuir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos serviços
prestados”, diz a PF.
O advogado
de Taiguara, Fábio Rogério de Souza, nega o envolvimento de seu cliente
com irregularidades. “Ele jamais intermediou transações financeiras
fraudulentas, nunca emprestou seu nome, documentos ou contas bancárias
para ocultar a identidade de qualquer pessoa. Os questionamentos
feitos pela CPI e posteriormente no inquérito da Polícia Federal tomam
como base reportagens jornalísticas”, complementou.
Taiguara, que costuma dizer que está na pindaíba, declarou à PF ter hoje uma renda mensal de 10 000 reais, coletando sucatas.
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