sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Cabral perdeu quase metade da propina paga por Eike
Ações que valiam US$ 11,8 milhões desvalorizaram 80% em quatro anos, segundo delatores

Empresário Eike Batista e o ex-governador Sérgio Cabra, presos pela Operação Eficiência - Rio, 27/03/2012, - Marcos Ramos / Agência Globo 
O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) perdeu quase metade da propina de US$ 16,5 milhões paga pelo empresário Eike Batista. Os irmãos Marcelo e Renato Chebar fizeram acordo de delação premiada, destrinchando a ocultação de recursos da organização no exterior, e contaram à força-tarefa da Lava-Jato no Rio que, do total acertado entre Eike e Cabral, US$ 11,8 milhões foram usados para adquirir ações da Petrobras, Vale e Ambev, nos Estados Unidos, em setembro de 2011. Mas, exatamente quatro anos depois, quando foram vendidas, as ações já estavam desvalorizadas em cerca de 80%. Com isso, Cabral resgatou US$ 4,3 milhões, amargando um prejuízo de US$ 7,5 milhões (aproximadamente R$ 23 milhões, na cotação atual).
Foram os irmãos Chebar quem procuraram o Ministério Público Federal (MPF) para contar sobre a ocultação de recursos da organização no exterior. Eles disseram que US$ 4,7 milhões da propina foram creditados em dinheiro e o restante foi usado para a compra das ações. Hoje, esses recursos já foram repatriados e estão à disposição da Justiça.
Os delatores disseram que, para realizar a transação da propina, Cabral ordenou a criação de uma offshore que veio a ser batizada de Arcadia Associados. Foi na conta dessa empresa que a parte da propina paga em dinheiro foi parar, vinda da Golden Rock Foundation, uma conta de Eike no Panamá. Foi também a offshore quem assinou o contrato fictício de “aconselhamento e assistência” com uma holding de Eike Batista para a possível aquisição de uma mina de ouro. Esse falso negócio de consultoria foi usado para justificar o recebimento do dinheiro pela offshore, segundo contaram os irmãos aos procuradores.
Ainda não está claro para os investigadores o motivo de Cabral para resolver se desfazer das ações mesmo com a forte queda que representou prejuízo. No entanto, suspeita-se que a venda tenha sido motivada por uma operação da força-tarefa da Lava-Jato, em Curitiba, em 2015, quando extratos bancários que poderiam revelar a transação entre a conta de Eike e a da offshore dos doleiros foram encontrados em um imóvel vinculado ao empresário. Os doleiros contaram que isso alertou o ex-governador.
Cabral, Eike e outras sete pessoas viraram réus em processo que corre na 7ª Vara Federal por corrupção e lavagem de dinheiro. Os fatos apresentados na denúncia resultaram da Operação Eficiência, deflagrada em janeiro, na qual foi preso Eike Batista, que está em Bangu 9. Cabral foi preso na Operação Calicute, em novembro do ano passado, e está em Bangu 8 porque tem ensino superior. Os irmãos Chebar também são réus e respondem por lavagem e evasão de divisas, por manterem recursos não declarados no exterior. 
PROPINA POR EMPREENDIMENTOS
De acordo com o MPF, o pagamento das propinas teria ocorrido em função dos interesses de Eike em empreendimentos no estado do Rio sobre os quais Cabral, como governador, possuía grande influência e poder decisório. Em e-mail direcionado a Cabral, em julho de 2009, Paulo Fernando Magalhães Pinto, apontado como laranja do peemedebista, afirma que Eike vê o ex-governador como “verdadeiro amigo.”
Os procuradores apontam a concessão do estádio do Maracanã, a construção do superporto do Açu, em São João da Barra, e do porto Sudeste, em Itaguaí, como projetos de interesse das empresas do Grupo X. Segundo a denúncia, Cabral solicitou e aceitou vantagem indevida para exercer o seu cargo com especial atenção para os interesses privados de Eike Batista. Em depoimento, o empresário permaneceu calado e não admitiu o pagamento de propina ao ex-governador.
Além do pagamento no exterior, as investigações apontam que o escritório da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo foi usado para o recebimento de propina de R$ 1 milhão em 2013. Para isso, foi feita a simulação da prestação de serviços advocatícios à empresa EBX, de acordo com os procuradores. Durante a deflagração da Operação Calicute, os policiais federais fizeram buscas no escritório de Adriana e não foi encontrado nenhum documento que pudesse indicar uma prestação de serviços à EBX.

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