Contabilidade do governo aponta falta de votos para vencer denúncia
BRUNO BOGHOSSIAN/GUSTAVO URIBE/DANIEL CARVALHO - FSP
Mapas de votação feitos por líderes governistas mostram que o governo
tem assegurados apenas 30 votos a favor de Temer entre os 66 integrantes
da comissão. Há 21 indecisos que têm demonstrado insatisfação com o
Planalto e ameaçam se posicionar contra o presidente.
Temer precisa de 34 votos para garantir que a CCJ recomende o
arquivamento da denúncia, que depois ainda precisará ser votada em
plenário. A meta é ter pelo menos 40 votos, o que daria uma margem de
segurança para obter um relatório favorável contra a denúncia.
Partindo de um placar já desfavorável, auxiliares do presidente
acreditam que a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que foi
braço-direito de Temer no governo, pode dificultar o trabalho de
convencimento dos deputados indecisos.
Aliados do presidente argumentam que a prisão não tem relação com os
fatos narrados na denúncia, mas dizem acreditar que o episódio pode
contaminar os debates na CCJ e no plenário da Câmara.
"A prisão logicamente traz mais uma instabilidade política, mais
turbulência naquilo que a oposição deverá fazer durante toda a semana",
disse o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE). "Não
podemos permitir que fatores externos possam ser utilizados na tentativa
de trazer um tumulto ainda maior."
Em sua linha de defesa política, o governo vai tentar classificar a
prisão de Geddel como parte da ação do Ministério Público para tentar
derrubar o governo. Nesta terça-feira (4), o presidente deve gravar um
novo vídeo para as redes sociais defendendo sua permanência no cargo.
Auxiliares de Temer dizem que seu advogado, Antonio Claudio Mariz de
Oliveira, apresentará a defesa técnica do presidente nesta quarta (5). A
votação na CCJ deve ocorrer na semana que vem.
INDECISOS
O mapa de votos dos líderes governistas revela que há risco
significativo de traição a Temer nos partidos da base aliada, que detêm
cargos no governo.
Ao menos 5 dos 7 integrantes da CCJ indicados pelo PSDB, que comanda quatro ministérios, devem votar contra Temer.
Segundo aliados do presidente, também há um número expressivo de
deputados considerados indecisos no PR, que tem cinco vagas na comissão,
e no PRB, que tem direito a três votos.
Os articuladores políticos do Planalto atribuem esse cenário a uma
insatisfação de parte da base de Temer com nomeações não atendidas e
emendas parlamentares com pagamento atrasado.
A ideia é que o presidente se reúna pessoalmente com aqueles deputados
que o Planalto identifica com tendência de voto favorável.
Os ministros da área política também participarão da ofensiva. Na semana
passada, o presidente prorrogou prazo de pagamento de emendas
parlamentares impositivas referentes ao exercício financeiro de 2015.
A incerteza do governo quanto aos desdobramentos das votações da
denúncia contra Temer são amplificadas pela falta de alinhamento entre o
Planalto e o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG). Ele será o
responsável pela escolha do relator do caso, que deve ser anunciado
nesta terça (4).
Aparecem como cotados a assumir a relatoria os deputados Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) e Evandro Gussi (PV-SP).
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