segunda-feira, 3 de julho de 2017

De volta às ruas?
Há um cálculo político nas ruas vazias. A Velha Política morre em 2017 por excesso de provas. A Nova Política nasce com as eleições em 2018
Paulo Guedes - O Globo
O receio de que haja retrocesso nos resultados da Lava-Jato está no ar. Gilmar Mendes soltou José Dirceu, Marco Aurélio soltou Aécio Neves, Edson Fachin soltou Rocha Loures e o Judiciário de Porto Alegre absolveu João Vaccari. As gravações de Joesley teriam persuadido Temer: ou se salvam todos das guilhotinas, ou não se salva ninguém. A salvação das criaturas do pântano seria agora tentada por articulações com eminências que já aderiram à politização da Justiça e por novas indicações do presidente para o Ministério da Justiça e para a Procuradoria-Geral da República.
Pouco importa se procede essa versão dos fatos; o importante é que a perversidade da política se tornou a versão aceita pela opinião pública, após abundantes evidências de corrupção sistêmica. Os esforços das autoridades em favor da própria impunidade e sua omissão na reforma de práticas degeneradas apenas confirmaram essa versão da “banalidade do mal” no imaginário de uma maioria de eleitores já descrentes. Mas a boa notícia é que não prevalecerão os que trabalham nas sombras. Pois segue em pleno funcionamento a busca de transparência como algoritmo de uma sociedade aberta em construção. Estagnação e corrupção levaram o povo às ruas para exigir mudanças. O governo Temer prometeu reformas e, apesar de sua inédita impopularidade, desfruta uma sensata trégua para tentar remediar a caótica situação herdada.
Há portanto um cálculo político no esvaziamento das ruas. A Velha Política morre em 2017 por excesso de provas. A Nova Política nasce em 2018 com as campanhas eleitorais. Para que incendiar as ruas agora? Para piorar ainda mais a economia? Para reabilitar as lideranças abatidas que nos trouxeram ao inferno? Para reencenar a farsa da Velha Política, com mortadelas e coxinhas disputando com ferocidade a “vanguarda do atraso” para a ocupação de um depravado aparelho de Estado? Apenas uma interpretação equivocada desse esvaziamento das ruas poderia levar o governo a insistir no que parece ter feito até o momento: trabalhar contra a Lava-Jato, perdendo o precioso tempo que deveria empenhar nas reformas previdenciária e trabalhista. Esse enorme equívoco agravaria ainda mais o desequilíbrio fiscal, a recessão e o desemprego em massa, trazendo o povo de volta às ruas.

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