segunda-feira, 3 de julho de 2017

JBS usava supermercados para pagamentos em espécie a políticos
Segundo os delatores, o frigorífico combinava com os supermercados pagamentos pelos seus produtos em espécie e, a seguir, destinava as quantias diretamente a emissários dos políticos beneficiados.
O ex-executivo Ricardo Saud disse que os supermercados não sabiam do que tratavam esses pagamentos nem tiveram qualquer tipo de vantagem.
O ex-funcionário Florisvaldo Caetano de Oliveira, também delator, diz que o esquema envolvia até o transporte de quantias por meio de carros-fortes.
Entre os políticos apontados como beneficiados com pagamentos via supermercados, estavam o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o governador catarinense Raimundo Colombo (PSD).
Ricardo Saud mencionou ainda uma entrega de R$ 1 milhão em um supermercado de Curitiba, em 2014, para um irmão do governador paranaense Beto Richa (PSDB), mas não explicou as circunstâncias desse pagamento.
Ao falar dos pagamentos para o senado tucano, o delator disse que quem recolhia o dinheiro nos varejistas era Frederico Pacheco, primo de Aécio que foi preso na Operação Patmos e permaneceu um mês na cadeia. O total em espécie para o tucano, por essa forma, disse, foi de R$ 4,3 milhões.
O delator afirmou que negociou com dois supermercados para fazer pagamentos à vista por produtos da JBS, pagos em parcelas pelos donos do supermercado. "Eu dizia: 'ó, o Fred vai aí, vai pegar um dinheiro para mim'".
Saud não citou o nome dessas empresas em seu depoimento, mas em uma planilha de pagamentos consta o nome "Super BH".
No caso de Cunha, Florisvaldo Caetano falou na rede Guanabara. Disse que foi buscar o dinheiro em uma loja no Rio em uma ocasião, em 2014, após se encontrar com Altair Pinto, braço-direito do ex-deputado e alvo na Patmos. A quantia, de cerca de R$ 500 mil, foi entregue em uma mala, disse o delator.
Com Colombo, a loja citada era do grupo Angeloni, em Florianópolis.
O ex-funcionário da JBS, que integrou o conselho fiscal do frigorífico até o ano passado, disse que "em vez de eles [mercados] pagarem a fatura, já ficava acertado que iriam me pagar o dinheiro em espécie".
Apontado por seus superiores como um dos principais entregadores de dinheiro da companhia, ele mencionou ainda em depoimento lojas que pertenciam à própria JBS.
"A JBS tem cem lojas de carnes [em São Paulo]. Quando tinha alguma necessidade [de dinheiro vivo], em vez de depositar, entregavam."
Ele falou que a sala de seu escritório de contabilidade era usada para entregar as quantias. Contou que recebia informações sobre os repasses de Saud ou dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Na delação, Ricardo Saud disse que a empresa também esquentou dinheiro dos pagamentos a políticos por meio de notas falsas para mais de cem escritórios de advocacia pelo país. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pediu em maio informações ao Supremo Tribunal Federal sobre o assunto e prometeu providências.
OUTRO LADO
Os políticos citados vêm negando as acusações feitas pelos delatores da JBS.
Aécio Neves, que chegou a ser afastado do mandato, disse que as afirmações dos executivos da empresa são "mentirosas" e que só recebeu do frigorífico doações oficiais, sem contrapartida.
Raimundo Colombo também afirmou que só recebeu doação oficial da empresa. O PSDB do Paraná também nega ilegalidade na campanha de Richa.
A direção dos Supermercados BH afirmou apenas que, em sua relação com a JBS, sempre agiu dentro da lei.
Procurada, a rede Angeloni disse, por meio de sua assessoria, que tem histórico de relacionamento com o frigorífico de "muitos anos" e que foi surpreendida com a declaração do delator.
"Os pagamentos são tradicionalmente realizados através de depósito bancário, embora não sejam incomuns pedidos de quitação em carteira, o que costuma ser autorizado, considerando a relação comercial entre as empresas", disse.
A rede Guanabara afirmou que todos os pagamentos foram feitos legalmente, respeitando assim as leis e regras vigentes no país.

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