JBS entregará 20 volumes com detalhes de delação
Walter Nunes - FSP
A defesa dos delatores da JBS vai entregar, em setembro, à
Procuradoria-Geral da República cerca de 20 novos anexos que
complementarão o acordo de colaboração premiada assinado pelos irmãos
Joesley e Wesley Batista e diretores do grupo.
Os anexos são detalhamentos das histórias de corrupção contadas pelos executivos da empresa, que foram divididas em 14 temas.
Em cada tema há vários investigados. Os cerca de 20 novos anexos serão
juntados a outros 44 que foram entregues aos procuradores no início do
acordo de delação.
Joesley Batista ficará responsável pela metade das cerca de duas dezenas
de novos anexos. Ele promete relatar, entre outras coisas, o caminho da
propina que diz ter pago a cada um dos 1.829 políticos de 28 partidos
cujos nomes aparecem na lista da JBS recebendo mais de R$ 600 milhões de
forma ilícita.
O empresário vai relatar o motivo das doações ilegais, como elas teriam
sido pagas e as contrapartidas em relação a esses pagamentos.
Nos últimos dias, segundo fontes ouvidas pela Folha, o empresário diz que se lembrou de pelo menos um prefeito que recebeu dinheiro ilegal e que não estava no rol de delatados.
O irmão mais velho de Joesley, Wesley Batista, pretende fazer um relato
sobre o suposto suborno de pelo menos 200 funcionários do Ministério da
Agricultura que fiscalizavam as empresas do grupo.
A JBS está fazendo um pente-fino em seus departamentos para colher histórias e provas de pagamentos ilegais a funcionários.
Segundo a Folha apurou, Wesley vai falar que essa não era uma prática exclusiva da JBS, mas sim um caso de corrupção sistêmica.
Segundo ele, todas as empresas do setor tinham que pagar os fiscais. O
presidente da holding J&F, que controla a JBS e outras empresas do
grupo, disse que a cúpula do Ministério da Agricultura era alertada
sobre os esquemas de corrupção na pasta, mas o problema nunca foi
resolvido.
A primeira leva de 44 anexos foi produzida pelos dois donos da JBS e cinco executivos da companhia.
Já os 20 novos termos da delação estão sendo preparados por quatro
delatores. Além dos irmãos Batista, participam da elaboração o diretor
de relações institucionais da J&F, Ricardo Saud, e o diretor
jurídico do grupo, Francisco de Assis. Cada um deles prepara quatro
anexos.
Francisco de Assis vai relatar casos envolvendo o ex-deputado federal
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, o empresário
Victor Sandri, que fazia a intermediação da empresa com o ex-ministro da
Fazenda Guido Mantega, e sobre a empresa offshore Blessed, que fica na
Suíça.
Segundo fontes ouvidas pela Folha, Assis vai fazer novos anexos sobre Cunha e Funaro para se adiantar a uma possível delações dos dois.
O acordo de delação premiada dos executivos da JBS foi formalizado no
dia 3 de maio e prevê que novos anexos sejam entregues num prazo de 120
dias a partir da assinatura. A colaboração foi homologada pelo ministro
Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), em 11 de maio.
A ideia de Joesley era se antecipar ao prazo final e entregar os cerca
de 20 novos anexos ainda no mês de agosto, mas, diante do volume de
informações coletadas pelos colaboradores, a data foi prorrogada para
setembro.
OUTRO LADO
A J&F disse, em nota, que os colaboradores apresentaram informações e
documentos à Procuradoria-Geral da República e continuam à disposição
para cooperar com a Justiça. "Vale destacar que os colaboradores ainda
podem apresentar documentos e explicar fatos no prazo de 120 dias
previsto no acordo."
O advogado de Guido Mantega, Fábio Tofic Simantob, diz que as menções a seu cliente na delação da JBS são mentirosas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário