Todos contra todos
A delação de Lucio Funaro, doleiro do PMDB e operador
de Eduardo Cunha, que levou Geddel Vieira Lima à cadeia, vai envolver
toda a cúpula do PMDB, inclusive o presidente Michel Temer. Esse grupo
do PMDB não escapa do tiroteio, e no final morrem todos - como no filme
do Tarantino “Cāes de aluguel" em que todos os pistoleiros atiram contra
todos - porque vão entrar tanto na delação do Funaro quanto na do
Eduardo Cunha.
Geddel é um político experiente, com vários processos na Justiça
envolvendo cargos públicos, e tem estrutura psicológica para resistir
aos primeiros meses de cadeia, mas chega uma hora em que acaba falando.
Acho que vai esperar um pouco para ver o que vai acontecer com Michel
Temer, antes de tomar uma decisão.
Além da prisão de Geddel Viera Lima, ex-ministro de Temer dos mais
ligados historicamente à sua carreira política, a delação de Lucio
Funaro já tem outra conseqüência imediata: a Polícia Federal pediu ao
Supremo Tribunal Federal (STF) para incluir o presidente Michel Temer, e
os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco
(Secretaria-Geral da Presidência) como investigados no inquérito que
apura a atuação da cúpula do PMDB da Câmara, que teria se unido num
esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Mais uma peça foi acrescentada ontem a esse quebra-cabeça que a
Polícia Federal e o Ministério Público estão montando. O empreiteiro
Marcelo Odebrecht, depondo para o Juiz Sérgio Moro, disse que Michel
Temer fazia parte do esquema de Eduardo Cunha na Câmara que influenciava
no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS).
Tanto Geddel quanto Moreira Franco foram diretores da Caixa Econômica
Federal quando estavam sem mandatos legislativos, e a investigação é
para apurar a atuação desse grupo do PMDB na Caixa, com suspeita de
manipulação em financiamentos e investimentos em títulos de empresas
como a JBS.
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, solicitou
ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, sua opinião sobre o
pedido da Polícia Federal. Essa investigação sobre o PMDB tem a ver com o
inquérito-mãe, conhecido como “quadrilhão”, que foi desmembrado em
quatro investigações sobre partidos políticos: PMDB na Câmara e no
Senado, PT e PP.
O ex-presidente Lula é investigado nesse inquérito como o chefe da
organização criminosa que usou os partidos políticos para montar o
esquema de financiamento eleitoral ilegal. As informações do empresário
Joesley Batista, e mais as do doleiro Lucio Funaro, serão compartilhadas
nesse inquérito, por determinação do ministro Fachin.
Segundo informações, o inquérito já tem 15 investigados, entres eles:
os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Alves, o líder do
governo no Congresso, André Moura, os deputados Arnaldo Faria de Sá e
Manoel Júnior, além do operador e delator Fernando Falcão.
As investigações serão depois unificadas novamente para a
apresentação de uma denúncia sobre o “quadrilhão”, a exemplo do que foi
feito no mensalão, em que 40 investigados, alguns sem foro privilegiado,
foram julgados pelo Supremo Tribunal Federal por associação. Esta deve
ser talvez a última denúncia do Procurador-Geral da República Rodrigo
Janot, que deixa o cargo em 17 de setembro. Ele pretende encerrar sua
passagem pela chefia da PGR com esse pedido de abertura de processo
envolvendo dois ou até mesmo três ex-presidentes da República: Temer,
Lula e talvez Dilma Rousseff.
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