quinta-feira, 20 de julho de 2017

TOP-TOP NO COLINHO DO CAPETA?

Morre Marco Aurélio Garcia, ex-assessor da Presidência do governo Lula
Marcado por gesto obsceno sobre acidente da TAM, ele acabou apelidade de 'top-top'

Morreu nesta quinta-feira, Marco Aurélio Garcia, 76 anos, ex-assessor para assuntos internacionais da Presidência da República nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Professor aposentado do Departamento de História da Unicamp, ele foi encontrado morto por volta das 12h desta quinta-feira em sua residência, na Praça da República, em São Paulo.
A presidente do PT, Gleisi Hofman (PR), disse que Marco Aurélio foi vítima de um infarto fulminante.
Filiado ao PT, Maurco Aurélio é um dos pensadores da esquerda brasileira.
Em 2008, ele foi flagrado na janela de seu gabinete no Palácio do Planalto, fazendo um gesto obsceno durante o noticiário sobre o acidente do Airbus A320 da TAM, que ultrapassou a pista do Aeroporto de Congonhas e matou 199 pessoas. A notícia informava a descoberta de um defeito técnico na aeronave. Marco Aurélio comemorava a informação sobre o defeito, já que as primeiras notícias culpavam o governo pela tragédia. Por conta do episódio, ele acabou apelidado de "top-top". O acidente completou 10 anos no último dia 17.Marco Aurélio Garcia foi flagrado fazendo gesto obsceno durante notícia sobre o acidente da TAM em 2007 - Reprodução 
ATO COM LULA E CONGRESSO DO PT
Marco Aurélio esteve na semana passada na sede do PT, durante o ato de solidariedade ao ex-presidente Lula devido à condenação por lavagem de dinheiro e corrupção no caso do tríplex do Guarujá.
No último congresso da legenda, o historiador defendeu que o PT deveria ser um partido mais assertivo e com mais disposição de enfrentar os grandes desafios, de esclarecer e mobilizar a sociedade para fazer frente às dificuldades do Brasil. Na ocasião, Marco Aurélio disse que as dificuldades do país são enormes e a agenda é ampla. Argumentou ainda que enfrentar os desafios não é tarefa de apenas um partido, mas de um conjunto de forças políticas. Para ele, o PT precisaria ser um partido unificado, mas não pela via burocrática, e sim do debate
Marco Aurélio Garcia viveu nove anos de exílio no Chile e retornou ao Brasil em 1979. Em entrevista publicada pelo PT em março passado, ele relembrou a história do partido e contou que foi chamado para uma reunião do movimento para formalização do PT em outubro do mesmo ano. Conheceu ali o ex-presidente Lula, então metalúrgico no ABC paulista.Marco Aurélio Garcia ao lado de Lula no congresso do PT em junho - Givaldo Barbosa / Agência O Globo / 5-6-17 
PETISTAS E INTELECTUAIS LAMENTAM MORTE
Na sede do PT em São Paulo, líderes petistas lamentaram a morte de Marco Aurélio.
— A gente não teria essa política externa altiva se não fosse Marco Aurélio. É uma perda muito grande. O presidente Lula perde um dos seus principais colaboradores e um dos seus principais amigos — disse o senador Lindbergh Farias (RJ), líder do PT no Senado.
— Foi um grande formulador da política do PT. Teve a função de organizar o nosso pensamento — afirmou Carlos Zarattini (SP), líder do PT na Câmara.
No Twitter, petistas como o ex-governador Tarso Genro e a ministra Maria do Rosário prestaram condolências a Garcia.
"Amigo fraterno, grande quadro da esquerda e militante histórico do PT. Ser humano excepcional. Dor e luto", escreveu Tarso Genro.
"A esquerda do mundo em luto. Um amigo dos povos, professor e articulador da atuação internacionalista, morre Marco Aurélio Garcia", afirmou Maria do Rosário.
A ex-presidente Dilma Rousseff se referiu a Marco Aurélio como "meu amigo querido" e disse que sua morte é "extremamente dolorosa".
"A morte do professor Marco Aurélio Garcia, meu amigo querido, é extremamente dolorosa. Desfrutei pela última vez de sua companhia há três semana. Conversamos sobre a vida e os momentos terríveis que o país atravessa. Hoje é um dia de dor para todos nós, que compartilhamos com ele seus muitos sonhos, histórias e lutas. Era um amigo querido, de humor fino e contagiante, sempre generoso e cheio de ideias, dono de uma mente arguta e brilhante", disse Dilma.
O ex-ministro Orlando Silva disse que morreu um personagem-chave do governo Lula.
Intelectuais ligados ao PT também lamentaram:
"Comunico, com dor na alma, que hoje faleceu o grande amigo e companheiro, Marco Aurelio Garcia", escreveu o Emir Sader, cientista político e professor posentado da USP.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que Garcia foi um dos melhores quadros da políticas brasileira:
— Com tristeza recebo notícia da morte de Março Aurelio Garcia. Vamos honrar sua memória - disse Requião.

A senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) fez coro:
— Ele (Marco Aurélio) foi muito importante para o Governo Lula na condução da política externa, uma época em que o Brasil era respeitado no cenário mundial.

Em nota, o senador petista Jorge Viana (AC) disse que Marco Aurélio era "homem do diálogo":
"O professor Marco Aurélio era um intelectual e militante apaixonado pela política, um perseverante sonhador que lutou pela justiça social desde a juventude. Sempre foi uma referência dentro do PT e um gigante no campo das ideias. Um democrata respeitado em todo o mundo. Ele sempre foi um homem do diálogo, defensor intransigente de um mundo e um Brasil mais justo. Foi um privilégio ter convivido com ele. É muito triste para todos nós, do PT, esta quinta-feira. Lamento muito a sua morte."
O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim disse que o petista deixa uma "lacuna no pensamento democrático e progressista":
"Profundamente entristecido com a morte do Marco Aurélio Garcia. Um colega exemplar e um grande amigo. Um humanista com visão política ampla e do lugar do ser humano nos processos históricos. Um verdadeiro intelectual de esquerda como já não se fazem hoje em dia. Deixa uma grande lacuna no pensamento democrático e progressista. Sentiremos saudades de sua capacidade de análise e do seu senso de humor, implacavelmente agudo e humano".


REPERCUSSÃO NA ARGENTINA
A morte de Marco Aurélio Garcia foi comentada e causou impacto em vários dos encontros que estão sendo realizados nesta quinta-feira na província argentina de Mendoza, na véspera do encontro de presidentes do Mercosul, que será realizado nesta sexta. Numa reunião no âmbito do Conselho Mercado Comum (CMC), que que reúne ministros das Relações Exteriores e Fazenda do bloco, o chanceler do Paraguai, Eladio Loizaga, pediu um minuto de silêncio em homenagem ao ex-Assessor Especial para Assuntos Internacionais da Presidência.
Em outra reunião, na qual estava participando o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, a morte de Marco Aurélio também foi comentada, segundo confirmou uma fonte argentina que estava presente no encontro.
— Uma pessoa informou sobre a morte de Marco Aurélio, todos ficamos surpresos — contou a fonte argentina.

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