Tá quente, tá gelado
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Nessa loucura
pré-Copa, só estava faltando isso: índios enfrentando a polícia com
arco e flecha e flechando a perna de um PM, bem no centro da capital da
República. Agora, não falta mais.
Poderia ser engraçado, mas,
convenhamos, não é. Os 500 mil estrangeiros esperados e os milhões que
ficarão em casa devem estar imaginando: que país é este? Ou confirmando o
que já imaginavam.
Muitos devem estar esperando, ou
visualizando, vacas comendo capim nos centros urbanos e carroças
desengonçadas trafegando nas vias públicas, entre mendigos e crianças
esfomeadas. E devem estar com medo de dengue, sarampo e outras doenças
transmissíveis. Ei! E a capital não é Buenos Aires!
Até aqui, não
há como esconder: a propaganda do Brasil no exterior é péssima.
Protestos por toda a parte, greves das mais variadas categorias, milhões
de cidadãos e cidadãs mofando em pontos de rua à espera dos ônibus que
não chegam. E atrasos, improvisações, jeitinhos, aeroportos com
goteiras, estádios cercados de lixo e de entulho de obras.
Daqui
da janela da sucursal da Folha em Brasília, vê-se um longo passeio sendo
construído às pressas para o estádio Mané Garrincha. Demoraram seis
anos para descobrir que precisava de um passeio ali? Ou sabiam desde o
início e deixaram para fazer aos 45 do segundo tempo?
Dilma,
olímpica, se ocupa em recolher o apoio, ora da cúpula do PTB, ora da
direção do PP, ora dos líderes do PMDB, enquanto a Copa, as convenções
partidárias oficiais e os chefes de Estado de mais de dez países não
vêm, inclusive os presidentes e primeiros-ministros dos Brics, que vão
se reunir em Fortaleza.
O Planalto em clima de eleição, o país em
clima de Copa. Ops! De protesto, porque, de Copa mesmo, não é. Dos
cerca de 300 carros no estacionamento fora do prédio, quantos tinham a
bandeira do Brasil nesta quarta (28/5), a duas semanas dos jogos?
Nenhum. O clima está gelado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário