Nuances da rejeição
FSP
Há muito de peculiar na impopularidade do presidente Michel Temer (PMDB). A começar, claro, pelas suas dimensões.
Segundo pesquisa recém-divulgada pelo Datafolha, nada menos que 73% do eleitorado nacional considera o governo ruim ou péssimo, enquanto míseros 5% o classificam como bom ou ótimo.
Com números um pouco menos tétricos, Fernando Collor (então PRN, hoje
PTC) e Dilma Rousseff (PT) não concluíram mandatos. O também
peemedebista José Sarney atingiu cifras semelhantes em setembro de 1989,
quando a inflação marcava 38% —ao mês— e rumava rapidamente para os
80%.
A copiosa rejeição a Temer, entretanto, não se traduz em atos populares
por sua saída, nem em fortalecimento da oposição parlamentar, tampouco
em instabilidade que desarranje a economia.
O atual governo é desaguadouro natural de frustrações diversas e
acumuladas dos brasileiros com políticos, práticas corruptas e
estelionatos eleitorais —o que não chega a configurar injustiça.
Sucedendo pela via controversa, mas constitucional, do impeachment a uma
gestão marcada por escândalos de malversação da verba pública, Temer
nada fez para se distanciar de casos rumorosos.
Cercou-se, no Planalto, de alvos da Lava Jato, condição que ele próprio
não tardaria a assumir. Havia razões bastantes para a cassação de sua
chapa, por abuso de poder econômico, pela Justiça Eleitoral; também para
que fosse investigado sob a acusação de corrupção passiva, após a
delação da JBS.
À medida que se avança no tempo, porém, um ponto de vista pragmático
parece ganhar corpo na sociedade: quanto mais perto das eleições e do
fim desta administração, menos producente se afigura nova troca no
comando do país.
Nesse sentido, de acordo com o Datafolha, cresceu de 30% para
expressivos 37% a parcela dos que acham preferível que Temer conclua seu
mandato.
Esse se mostra, diga-se, o cenário mais provável. O peemedebista, tudo
indica, mantém apoios suficientes no Legislativo para barrar mais uma
denúncia apresentada pelo Ministério Público.
Além disso, nenhuma das principais forças políticas tem real interesse
no afastamento do presidente —seu desgaste contínuo convém tanto à
oposição petista, carente de bandeiras, quanto a aliados de ocasião
desejosos de arrancar favores do Executivo.
Mais virtuoso que tais cálculos, decerto, seria votar reformas capazes
de tornar os anos vindouros menos penosos para o próximo governo e a
população. Para Temer, restarão os julgamentos da história e,
possivelmente, dos tribunais.
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