Refis para corruptos é algo inaceitável
Relator de um novo programa de renegociação
de dívidas tributárias inclui na proposta da lei a sua extensão a
devedores da Procuradoria-Geral da União
O Globo
Constam da coletânea de testemunhos colhidos por meio de acordos de
delação premiada histórias mirabolantes da venda por políticos e
autoridades nos governos lulopetistas de medidas provisórias, de emendas
em projetos e mesmo de leis, sempre regiamente pagas por grandes
empresas.
Marcelo Odebrecht, por exemplo, relata acertos intermediados pelo
ex-ministro Guido Mantega para o lançamento de um Refis (programa de
renegociação de dívidas tributárias, em condições suaves) sob medida
para atender aos interesses da empreiteira.
Há casos também envolvendo o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
inquilino da carceragem de Curitiba. Mesmo o ex-presidente Lula está
envolvido numa denunciada venda, em seu governo, de regras favoráveis a
algumas montadoras de veículos.
Mas o que acaba de acontecer com um Refis ainda em tramitação no
Congresso ultrapassa todos os limites: nada menos que a inclusão, no
programa, de corruptos autuados por órgãos de controle. A turma da
Lava-Jato deve ter comemorado.
Para isso bastou que o relator do projeto na Câmara, Newton Cardoso
Jr., como revelou O GLOBO, colocasse a Procuradoria-Geral da União na
relação de organismos junto aos quais podem ser renegociadas dívidas. Um
escárnio. Ela cobra essas multas.
Na prática, significa que aquele que roubou o contribuinte, foi
pilhado no assalto e punido com multas não ressarcirá o Tesouro como
deveria. O pagador de impostos será espoliado, então, uma segunda vez.
Esta é apenas uma das aberrações cometidas neste projeto de Refis,
proposto para o governo melhorar as receitas, com o recolhimento de
parte dos créditos que tem na praça, mas convertido num instrumento de
doação de dinheiro público a empresários inadimplentes.
O relator já havia afrouxado de tal forma as condições para a
renegociação que a receita esperada para este Refis, de R$ 13,3 bilhões,
havia caído para R$ 420 milhões. O governo interveio, houve novo
entendimento, e chegou-se a projetar uma entrada nos cofres da União de
R$ 8,8 bilhões, número, porém, que, na verdade, cairia para R$ 3,3
bilhões.
Ora, quem anistia corruptos pode fazer qualquer coisa. O relator do
Refis no Senado, Ataídes Oliveira (PSDB-TO), diz que não aceitará o
contrabando deste “jabuti” para o texto do programa. É o mínimo que se
exige.
A situação é tão esdrúxula que, se a malandragem virar mesmo lei,
haveria o risco de o Estado ter de devolver multas já pagas. O
escândalo, de proporções avantajadas, cresceria. Essa história ao menos
serve para alertar ainda mais o eleitorado para a necessidade imperiosa
de grande renovação do Congresso em 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário