Suspeita de propina derruba presidente da Casa da Moeda
Relatório sustenta que houve desvio por meio de empresas montadas no exterior
Dirigente afirma que relatório que o acusa é uma 'fraude' e que foi vítima de perseguição e armação partidária
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO/ANDREZA MATAIS/NATUZA NERY - FSP
O presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, foi demitido no sábado por suspeita de receber propina de fornecedores do órgão via duas empresas no exterior em nome dele e da filha.
A exoneração do servidor, indicado para o cargo pelo PTB em 2008, foi formalizada no fim de semana por um funcionário do terceiro escalão do Ministério da Fazenda e publicada ontem no "Diário Oficial da União".
Ela ocorre após ter chegado à Fazenda informação de que a Folha preparava reportagem sobre o caso.
Denucci relatou a auxiliares do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ser vítima de uma armação partidária para tirá-lo do cargo, conforme a reportagem apurou.
Em uma das conversas, chegou a dizer que pediria demissão. Procurou Mantega, mas não foi atendido por ele.
No fim de semana, porém, o governo resolveu se antecipar à reportagem em apuração e o exonerou.
A Fazenda também trabalha com a informação de que o Ministério Público deverá entrar no caso.
As "offshores" dos Denucci foram constituídas nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal, em 2010, quando o servidor já comandava a Casa da Moeda.
A Junta Comercial de Miami, nos EUA, confirma a criação das duas empresas: a Helmond Commercial LLC, em nome do próprio Denucci, e a Rhodes INT Ventures, em nome da filha, Ana Gabriela.
Nos últimos três anos, essas "offshores" teriam recebido U$ 25 milhões de operações financeiras no exterior, segundo um relatório da WIT, companhia especializada em transferência de dinheiro com sede em Londres.
Denucci confirma a existência das empresas, mas nega ter feito movimentações financeiras com essas contas.
A WIT aponta que os valores são oriundos de pagamento de comissão feito por dois fornecedores exclusivos da Casa da Moeda, equivalente a 2% dos contratos firmados.
Procurada, a WIT diz ter sido contratada para realizar as transações por Jorge Gaviria, advogado em Miami e procurador dos Denucci.
Informou, ainda, que a movimentação está registrada em sua contabilidade.
Denucci admite conhecer o dono da WIT, a quem chama de primo, mas disse que o relatório é falso.
Apesar de indicado pelo líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes, Denucci foi abandonado pelo padrinho. "Ele tratou o partido como se não tivesse obrigações com ele", disse Jovair.
Enquanto o petebista trabalhava para substituí-lo, o governo resistia. Alegava bom desempenho do servidor e elogiava sua gestão: um lucro inédito de R$ 517 milhões em 2011.
No discurso de despedida proferido ontem para funcionários, Denucci atribuiu sua saída ao que chamou de perseguição implacável contra ele e sua família.
Denucci também é investigado pela Polícia Federal por suposta remessa ilegal de dinheiro do exterior para o Brasil. Ele não teria comprovado a origem de R$ 1,8 milhão depositado em sua conta no Brasil, em 2005.
O Ministério Público Federal também abriu inquérito e, em paralelo, investiga denúncia de direcionamento de licitação.
Em novembro, o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) confirmou multa da Receita a Denucci devido a essa remessa.
Colaborou FLÁVIA FOREQUE, de Brasília
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