terça-feira, 31 de janeiro de 2012

MÉNAGE À TROIS

Amigo boêmio de Bruni põe Sarkozy em risco
Miguel Mora - El País
Em pleno ano eleitoral, um escândalo de corrupção salpica o Eliseu.Esta é a história de um Zelig que se instalou há quatro anos no Palácio do Eliseu, na França, e que, como o personagem camaleão de Woody Allen, conseguiu se confundir com a paisagem até se tornar quase invisível. Desde 2009, Julien Civange teve escritório próprio no palácio, secretária, técnico de informática e carro oficial; entrava sem bater nos quartos de Nicolas Sarkozy e Carla Bruni e viajou com a comitiva presidencial para a Índia, EUA, Tunísia e México. Mas, incrivelmente, ninguém parecia reparar nele.
Agora Civange foi descoberto e atrai todos os olhares. Foi o líder da banda de rock La Place, que chegou a abrir shows dos Rolling Stones, tem 42 anos e cabelo grisalho, é produtor musical, compositor e empresário. Mas sobretudo é, ou pelo menos foi até muito pouco tempo atrás, o assessor palaciano e o maior protegido da primeira-dama francesa, Carla Bruni.
Segundo conta uma esplêndida reportagem de "Le Monde" publicada na sexta-feira (28), Civange costumava passear sozinho por Paris até de madrugada e gabava-se de ser uma alma "imaginativa e pouco dada às faturas e aos papéis". Hoje o conselheiro boêmio deixou de frequentar o luxuoso imóvel da Rue du Faubourg Saint-Honoré.
A causa, não esclarecida oficialmente, são as recentes revelações sobre o Fundo Mundial contra a Aids, a Tuberculose e a Malária, um órgão da ONU do qual Carla Bruni é embaixadora para as mães e os filhos com Aids.
O jornalista Frederic Martel revelou o assunto na revista "Marianne" há algumas semanas. Sua matéria exclusiva contava que o fundo havia injetado sem concurso público 2 milhões de euros em várias empresas próximas da Fundação Carla Bruni-Sarkozy, para sustentar a campanha Born HIV Free (Nascer sem o vírus HIV), uma grande operação de mídia destinada a alertar sobre o contágio do vírus de mães para filhos.
Ao negar o envolvimento da fundação, o próprio fundo esclareceu que "somente" pagou a Civange 580.886 euros por sua contribuição à campanha. Em seguida, o jornal digital Mediapart descobriu que o fundo também tinha dado 132.756 euros a uma empresa chamada Fabrique du Net para conceber uma parte do site da Fundação Carla Bruni-Sarkozy. E "Le Monde" revela agora que o gerente dessa empresa é Jérôme Blouin, o homem que trabalhava no Eliseu com Civange.
Uma porta-voz de Bruni desmentiu que Civange recebeu dinheiro da ONU e do Eliseu ao mesmo tempo e esclareceu que "seu trabalho na campanha Nascer sem HIV não tinha intenção comercial". Segundo a reportagem, Civange criou pouco antes do lançamento da campanha uma pequena rede de empresas não submetidas a controle público, detalhe não desprezível quando faltam menos de três meses para as presidenciais em abril e maio, nas quais Sarkozy aposta sua reeleição.
O caso também ganhou destaque internacional porque a autoridade máxima do fundo da ONU, o professor francês Michel Kazatchkine, na época promovido por Sarkozy, anunciou que vai abandonar o cargo de diretor-executivo. Segundo Martel, a renúncia foi precipitada por desejo dos EUA e, tem relação com o caso Civange. O fundo o desmente. Bruni foi captada para a nobre causa da luta anti-Aids por Kazatchkine semanas depois de seu casamento com Sarkozy. O embaixador considerou que a primeira-dama seria uma emissária popular, eficaz e de credibilidade. Seu querido irmão Virginio faleceu por causa do vírus, segundo ela mesma.
Em março de 2009, Bruni abriu as portas da residência estatal para Civange. "Resgatado" da vida anterior da cantora, ou, como diz "Le Monde", "vestígio de seus anos jet-set e jet-lag", a primeira-dama o apresentou aos assessores de seu marido dizendo: "É um rapaz excepcional, um poeta, um gênio. Sabem que enviou sua música para a lua?" De fato, Civange mandou há alguns anos para Titã, satélite de Saturno, várias canções suas com a sonda europeia Huygens.
Em maio de 2010 a Nascer sem HIV foi apresentada em Paris com Bruni, Kazatchkine e Civange. Este contribuiu com o logotipo, os videoclipes e o web design, montou concertos com a renúncia dos autores a seus direitos e encontrou-se com mecenas no Hotel de Marigny, onde costumava hospedar-se o ex-presidente líbio Gaddafi. Agora Civange e seus amigos estão em apuros.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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