Dilma na ilha
Igor Gielow - FSP
BRASÍLIA - E Dilma foi a Cuba para criticar os Estados Unidos. Vamos combinar: novidade seria se ela apontasse as mazelas da ilha.
Dilma Rousseff cresceu politicamente em um meio que idolatrava Cuba como modelo. Se é óbvio que superou programaticamente isso, é natural sua empatia com o regime.
É coisa de geração, dizem, embora eu pense que a adaptação livre daquela frase atribuída a Churchill seja um pouco mais sensata: se você não é de "esquerda" com 20 anos, não tem coração; se não é de "direita" com 40 anos, não tem cérebro. Notem, por favor, as aspas.
Mas não há esquerdista que não se derreta pela utopia dos Castro. Citar Guantánamo? OK. Quero ver agora a presidente falar contra as masmorras cubanas quando visitar Obama.
Dilma já havia proclamado sua "crítica geral" às violações, de resto melhor do que a apologia que Lula fazia das práticas ditatoriais de seus amigos. Mas precisa ir além para convencer o mundo de seu brado: "Não vou fazer concessão nenhuma nessa área" (dos direitos humanos).
Pior vai sua equipe. O chanceler não vê "emergência" nos direitos humanos cubanos, e não creio que seja por considerá-los ameaçados de uma forma perene.
Sua ministra do setor disse algo ignominioso: violação verdadeira é o embargo dos EUA! Claro, Maria do Rosário, diga isso para o pessoal que foi para o "paredón" ou que morre hoje de fome nas cadeias dos Castro. Em um país sério, estaria na rua.
O embargo é um lixo residual da Guerra Fria que acompanha o reconhecimento das conquistas sociais cubanas na hora em que alguém tenta defender o indefensável.
Sempre que a cantilena começa, lembro-me daquela propaganda genial da Folha nos anos 80, em que avanços promovidos pelo nazismo eram elencados enquanto entrava em foco a imagem de Hitler. "É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade", dizia o reclame.
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