segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

DANIEL PIZA (1970-2011)


DE CONCHINHA
Os dois corpos deitados
Lado a lado, em S inverso,
Grudados, prolongados
Um no outro e no reverso,
Falam entre si, dilatados
Poro a poro, conversos.
Numa só concha colados,
Como silenciosos versos
Ao som do mar soprados,
Contêm eras, universos,
Vozes de doces passados,
No duplo futuro imersos.
Leem-se, textos espelhados,
Decorando de modo diverso
O que era sabido e inacabado:
Pés se roçando perversos,
Costas no peito, seio abraçado,
Joelhos juntos a seus anversos,
Bunda no púbis encaixado,
Rosto nos cabelos submerso.
Perenes, jamais dispersos,
São um organismo concentrado.

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