sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Poupança fecha 2012 com o pior rendimento em 45 anos
Caderneta rendeu apenas 6,05% no ano, menos do que a inflação
FGTS Petrobras foi a pior aplicação, com perda de 8,25%
Fundos multimercados ganharam na média 14,35%, a melhor do ano
Bruno Villas Bôas - O Globo
RIO — Com o corte da taxa básica de juros (Selic) para o menor patamar da história, de 7,25% ao ano, a caderneta de poupança fechou o ano com seu pior rendimento desde 1967, quando foi criada a correção monetária da aplicação. A poupança rendeu 6,47% neste ano pelas regras antigas — que remuneravam com 6% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR) — e 6,05% pela novas regras da aplicação, que passaram a remunerar em 70% da Selic os depósitos realizados a partir de 4 de maio passado.
Nos dois casos, o rendimento foi menor que o apresentado pela aplicação em 2010, de 6,90%, até então o pior resultado nominal registrado. Os números são da base de dados da consultoria Economatica. Já o Ibovespa terminou o ano com alta de 7,40% , o melhor resultado desde 2009, enquanto o dólar teve valorização de 9,41% neste ano.
Especialistas explicam que, como a inflação medida pelo IGP-M fechou o ano em 7,82%, o poupador perdeu, na prática, poder de compra do dinheiro guardado. O administrador de investimentos Fabio Colombo lembra que a queda da Selic mudou a vida de quem guardava o dinheiro da aposentadoria na caderneta de poupança e outras aplicação ligadas aos juros.
— A política do Banco Cental de reduzir juros impactou fortemente as aplicações. O ganho real agora está muito baixo. Isso é algo que aconteceu no mundo inteiro e agora está sendo visto aqui — explica Colombo.
Apesar do retorno comparativamente mais fraco neste ano, a caderneta de poupança registrou de janeiro a novembro deste ano uma captação líquida (diferença entre depósitos e saques) de R$ 40,5 bilhões, o melhor resultado da série histórica do Banco Central (BC), iniciada em 1995.
A queda dos juros impactou também o resultado dos fundos DI, que compram títulos pós-fixados e acompanham a queda da Selic. Esses fundos renderam 8,50% no ano, o pior resultado da série história iniciada em 2002 pela Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), segundo os últimos dados disponíveis, até o dia 24 de dezembro.
Os fundos de renda fixa tiveram um desempenho melhor, de 11,91% no ano. Esses fundos aplicam títulos pré-fixados, que têm a remuneração acertada no momento da compra, e acabaram beneficiados pelos cortes. Com a perspectiva de Selic estável no próximo ano, esses fundos vão render menos pela frente.
Quem ousou um pouco mais, pode ter visto seu dinheiro crescer. Os fundos multimercados multiestratégia - oferecidos em bancos e gestoras, que investem em câmbio, ações e títulos, por exemplo - foram a melhor aplicação do ano. Considerados uma renda fixa "apimentada" no Brasil, esses fundos renderam 14,35% em 2012, na média da indústria. Os gestores souberam contornar a queda dos juros com apostas certeiras em ações e títulos prefixados.
Os fundos de ações indexados ao Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) renderam 8,20% no ano, um resultado que parecia improvável até novembro. Os fundos foram ajudados pela recuperação do Ibovespa em dezembro, que contribuiu para a alta de 7,40% ano ano. Um resultado, porém, nada brilhante.
Segundo dados da Bloomberg, outras Bolsas se valorizaram mais pelo mundo: o Nasdaq, termômetro do setor de tecnologia, teve alta de superior a 14%. Mesmo na combalida Europa os resultados foram mais expressivos em Paris (14,57%) e Frankfurt (29%). A Bolsa do México ganhou 17,64% em 2012.
Segundo José Costa Gonçalves, analista da Máxima Corretora, o desempenho do mercado brasileiro não foi melhor por causa das intervenções governamentais em algumas empresas relevantes na composição do Índice Bovespa.
— A Petrobras sofreu com a defasagem da gasolina, os bancos com a pressão sobre os juros, o setor elétrico com a renovação da concessão. São papéis importantes que deixaram de contribuir para o aumento do índice — Gonçalves.
Segundo Pedro Barbosa, da STK Capital, o mercado brasileiro foi positivo para quem soube escolher as ações certas. Ele afirma que de 120 papéis negociados no mercado considerados 'investíveis', com volume de negócios de R$ 1 milhão, a valorização média foi de 20%.
— É um momento para gestores profissionais. É preciso saber escolher bem as ações —afirma Barbosa.
Os trabalhadores que destinaram parte do dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para ações da Petrobras tiveram o pior retorno no ano. Esses fundos tombaram 8,25% no ano, refletindo a queda das ações da Petrobras. O FGTS Vale, contudo, teve um resultado positivo, de 10,65% no período, segundo os dados da Anbima.
No câmbio, a propagada guerra cambial não aconteceu, segundo economistas. Os fundos cambiais — que investem em diferentes moedas, principalmente dólares — fecharam assim o ano com um ganho de 11,91% no ano. O resultado expressa a valorização de 9,42% do dólar comercial no ano, para R$ 2,045. Com uma mão do governo, o real escapou nos últimos dias de encerrar o ano como a moeda que mais se desvalorizou no ano.

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