Pascale Krémer - Le Monde
Como expressar a enorme injustiça que sente, a raiva que a move? Marion Larat, 25, tenta contar como sua vida foi arruinada, irritada por não conseguir encontrar as palavras mais rapidamente, "pff…", contando nos dedos para se lembrar de um número, uma data. Em seguida, um silêncio e o olhar ausente. Ela gagueja, não suporta não ser mais aquela que falava e pensava como um raio. "Antes…" é como ela costuma iniciar suas frases.
"Antes, eu era uma ótima aluna, um ano adiantada." Em junho de 2006, Marion a bela, Marion a aluna brilhante de curso preparatório no liceu Montaigne de Bordeaux, acabara de prestar concursos para as grandes escolas de administração quando, de repente, sofreu um forte AVC (acidente vascular cerebral). Um edema se formou em seu cérebro e ela mergulhou em um coma do qual despertou três dias mais tarde, hemiplégica e afásica. Seguiram-se nove operações no centro hospitalar universitário de Bordeaux, meses num centro de reabilitação; uma luta acirrada para voltar a ser a Marion das intermináveis caminhadas por montanhas, das palestras de sociologia e para não se deixar tomar pela depressão.
Porque é preciso admitir. Ela nunca voltará a ser essa mulher. A nova Marion está com 65% de seu corpo incapacitado, é epilética, sua mão direita não lhe tem mais utilidade (ela era destra), andar e falar se tornaram extremamente difíceis. Ela culpou o destino. Tentou retomar seus estudos e se descobriu fisicamente incapaz. Quando um jovem entrou em sua vida, em 2010, ela considerou voltar a tomar a pílula. A nova ginecologista consultada pediu pelo histórico das análises de sangue feitas no hospital. Ela então descobriu a anomalia genética que Marion possuía: o Fator 5 de Leiden, que acentua a coagulação. Uma contraindicação para a ingestão de anticoncepcionais orais.
Resumindo, foi sua pílula, Meliane, que provocou o AVC. "Depois disso, não dormi durante um ano. Descobri que 8% das mulheres possuíam a mesma anomalia, então me dei conta de que outras tinham morrido, que outras iriam morrer". Marion nunca havia ouvido falar em riscos tromboembólicos da pílula. Tampouco sabia ser portadora de uma mutação genética – ninguém em sua família havia tido qualquer problema de saúde significativo.
Em junho, a Comissão Regional de Conciliação e de Indenização dos Acidentes Médicos da região de Aquitaine, confirmou a ligação: "O AVC ocorreu nos três meses da prescrição do Meliane. Esses elementos constituem presunções graves, precisas e concordantes que permitem atribuir a ocorrência do AVC à administração do Meliane".
Em busca de justiça Marion sentiu a audiência da comissão de indenização como uma violência. Perguntaram-lhe se ela havia considerado se suicidar. O que responder, com seus pais presentes na sala? Ela tenta não se deixar consumir pela raiva… não ser para sempre a deficiente que sobrevive com 700 euros de pensão mensal… Marion faz, bem lentamente, um trabalho comunitário. Ela teve a ideia de criar e comercializar meias de compressão menos feias do que as que foi obrigada a usar no hospital. O novo Institut do Service Civique, lançado este ano por Martin Hirsch, a premiou apoiando seus projetos. Mas nada deverá desviá-la de sua busca por justiça. Ela abriu mão das indenizações, esperando que sua voz chegue até o tribunal de primeira instância. Todas as outras jovens precisam saber.
Tradutor: Lana Lim
"Antes, eu era uma ótima aluna, um ano adiantada." Em junho de 2006, Marion a bela, Marion a aluna brilhante de curso preparatório no liceu Montaigne de Bordeaux, acabara de prestar concursos para as grandes escolas de administração quando, de repente, sofreu um forte AVC (acidente vascular cerebral). Um edema se formou em seu cérebro e ela mergulhou em um coma do qual despertou três dias mais tarde, hemiplégica e afásica. Seguiram-se nove operações no centro hospitalar universitário de Bordeaux, meses num centro de reabilitação; uma luta acirrada para voltar a ser a Marion das intermináveis caminhadas por montanhas, das palestras de sociologia e para não se deixar tomar pela depressão.
Porque é preciso admitir. Ela nunca voltará a ser essa mulher. A nova Marion está com 65% de seu corpo incapacitado, é epilética, sua mão direita não lhe tem mais utilidade (ela era destra), andar e falar se tornaram extremamente difíceis. Ela culpou o destino. Tentou retomar seus estudos e se descobriu fisicamente incapaz. Quando um jovem entrou em sua vida, em 2010, ela considerou voltar a tomar a pílula. A nova ginecologista consultada pediu pelo histórico das análises de sangue feitas no hospital. Ela então descobriu a anomalia genética que Marion possuía: o Fator 5 de Leiden, que acentua a coagulação. Uma contraindicação para a ingestão de anticoncepcionais orais.
Resumindo, foi sua pílula, Meliane, que provocou o AVC. "Depois disso, não dormi durante um ano. Descobri que 8% das mulheres possuíam a mesma anomalia, então me dei conta de que outras tinham morrido, que outras iriam morrer". Marion nunca havia ouvido falar em riscos tromboembólicos da pílula. Tampouco sabia ser portadora de uma mutação genética – ninguém em sua família havia tido qualquer problema de saúde significativo.
Em junho, a Comissão Regional de Conciliação e de Indenização dos Acidentes Médicos da região de Aquitaine, confirmou a ligação: "O AVC ocorreu nos três meses da prescrição do Meliane. Esses elementos constituem presunções graves, precisas e concordantes que permitem atribuir a ocorrência do AVC à administração do Meliane".
Em busca de justiça Marion sentiu a audiência da comissão de indenização como uma violência. Perguntaram-lhe se ela havia considerado se suicidar. O que responder, com seus pais presentes na sala? Ela tenta não se deixar consumir pela raiva… não ser para sempre a deficiente que sobrevive com 700 euros de pensão mensal… Marion faz, bem lentamente, um trabalho comunitário. Ela teve a ideia de criar e comercializar meias de compressão menos feias do que as que foi obrigada a usar no hospital. O novo Institut do Service Civique, lançado este ano por Martin Hirsch, a premiou apoiando seus projetos. Mas nada deverá desviá-la de sua busca por justiça. Ela abriu mão das indenizações, esperando que sua voz chegue até o tribunal de primeira instância. Todas as outras jovens precisam saber.
Tradutor: Lana Lim
Nenhum comentário:
Postar um comentário