segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Jovens universitários tentam exercer profissão com prazer e satisfação nos EUA
Anand Giridharadas  - IHT                          
"Eu fui criada acreditando que dinheiro é tudo", disse Maire Mendoza, 19, chorando em sua própria mesa. Seus pais são quase invisíveis nesta cidade que ouviram ser chamada de cidade dos sonhos. Eles deixaram o México antes de Maire nascer e trabalharam anonimamente desde então –sua mãe como babá atualmente, seu pai é funcionário de restaurante. 
Eles criaram suas filhas como sobreviventes pragmáticas. Então foi surpreendente quando Marie os procurou há não muito tempo com um entendimento: "Eu agora sei que não quero trabalhar por dinheiro", ela disse, causando perplexidade. Mas seu pai, sentindo suas limitações, concordou. "Você provavelmente está certa", ela se recorda dele ter dito, "e é porque você frequenta a escola e sabe de coisas que não sabemos".

A autodescoberta de Mendoza não foi por acaso. Descobertas como essa são a meta de um experimento audacioso em Nova York, que busca melhorar a sorte dos estudantes de faculdades comunitárias ao demolir e reconstruir suas percepções a respeito do trabalho. 
As faculdades comunitárias são o leito do ensino superior americano. Elas frequentemente recebem a todos –adolescentes inteligentes, indecisos de 25 anos, desempregados de meia-idade que precisam de reciclagem– e permite que estudem do modo como achem necessário: uma matéria de cada vez ou uma carga horária completa, por um diploma ou apenas por diversão. Em um país cuja mitologia recita que todos os que tentam conseguem chegar lá, as faculdades comunitárias estão entre as últimas esperanças de provar que a mitologia é verdadeira, 
Mas a abordagem vale tudo delas passou a ser atacada nos últimos anos, em parte por causa dos baixos índices de alunos que concluem os cursos, que pairam na faixa dos 20%, dos 10% e às vezes até mesmo de um único dígito. 
"O trabalho que o país precisa que as faculdades comunitárias façam agora (um melhor índice de sucesso) é diferente do trabalhado exigido delas (maior acesso) quando o movimento das faculdades comunitárias teve início", disse Allan C. Golston, presidente do programa americano da Fundação Bill e Melinda Gates, que tem pressionado por reformas. 
Graças em parte à pressão dos reformistas, a Nova Faculdade Comunitária abriu aqui neste semestre, com Mendoza em sua aula inaugural. Ela é uma instituição experimental dentro da Universidade Municipal de Nova York, com a missão de pegar os estudantes com os quais as faculdades comunitárias geralmente fracassam –os alunos são aceitos por ordem de chegada, não por candidatura– e aumentar enormemente a trajetória deles. 
A faculdade emprega muitos métodos para atingir sua meta –exigindo que os estudantes se dediquem em tempo integral, limitando os cursos ao estudo de seis campos com perspectivas comprovadas de emprego; oferecendo orientação abundante. Mas a ideia mais intrigante pode ser a matéria obrigatória no primeiro ano, chamada "Etnografias do Trabalho". 
A matéria nasceu dos resultados de estudos apontando que os alunos que frequentam as faculdades comunitárias –que em Nova York vêm em grande parte de minorias e de famílias de baixa renda– frequentemente nutrem associações negativas com o trabalho, disse Nancy Hoffman, uma especialista em educação que orienta a nova faculdade. Nas comunidades desses estudantes, o trabalho pode ser principalmente experimentado como esmagador da alma, explorativo, difícil ou ilegal. 
"Em grande parte na minha comunidade, é apenas para sobreviver", disse Jesus A. Paredes, 18, outro aluno do primeiro ano da Nova Faculdade Comunitária. "Ninguém realmente segue sua paixão. Ou se seguiram sua paixão, não deu certo." 
E assim, para sua aula de etnografia neste semestre, os estudantes se espalharam por Nova York para investigar o trabalho. Eles se sentaram em escritórios e registraram suas observações (como os trabalhadores se vestem, seu humor, como a autoridade era expressada). Eles entrevistaram advogados, assistentes sociais, técnicos. Elas mantiveram diários sobre suas próprias atitudes. O propósito era chegar a um entendimento mais profundo do que é o trabalho (o tema do relatório final deles) e como –como Mendoza buscava– conciliar o impulso de sobreviver com a própria paixão. 
"Trabalho é algo que as pessoas fazem e pela qual são remuneradas", escreveu uma estudante em seu relatório final. "O trabalho é a fundação do propósito", escreveu outro. 
Para Jeslyn Ruiz, 18, a matéria lhe deu a coragem para dizer para sua avó que, não, ela não será uma enfermeira; ela deseja ser uma diretora de iluminação de concertos. Sua avó, que chegou aos Estados Unidos vinda de Porto Rico, riu na cara dela. "Não, você será uma enfermeira", ela disse, não como uma ordem, mas apenas como uma previsão pesarosa. 
Sherine Smith, 21, chegou ao curso com a noção de que "eu tenho de ganhar o máximo de dinheiro possível" trabalhando o mínimo possível. Conhecer trabalhadores da vida real a convenceu de que dinheiro pode não proporcionar uma posição mais confortável e isso a forçou a reconsiderar. 
Dos nove alunos que se reuniram para conhecer um repórter, seis disseram que saíram do curso persuadidos de que emprego e paixão devem estar alinhados. Derek Norman, um músico de 22 anos que deseja entrar para o Corpo de Bombeiros e limitar sua música a trabalhos pós-expediente, falou em nome do campo de manter as coisas separadas: "Eu não sinto que seja preciso pegar os dois e uni-los". 
Alguns estudantes pareciam menos seguros sobre sua direção final, mas ainda estavam saboreando o semestre estranho e agitado. Para Paredes, um cidadão de uma das cidades mais verticais e cujo destino o manteve próximo do solo, o trabalho de entrevistar um advogado bem-sucedido lhe proporcionou a realização de um velho sonho: "Eu nunca estive em um 52º andar", ele disse. Ele gostou bastante lá de cima.   

Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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