Corine Lesnes - Le Monde
É o que poderia se chamar de emprego dos sonhos: crítico de maconha. Toda semana, William Breathes publica a resenha de suas degustações de cannabis na revista "Westword", de Denver, no Estado do Colorado. Ali descobrimos que não existe uma maconha, mas sim toda sorte de variedades de ervas que levam nomes exóticos: Pineapple Express, Purple Passion (não há "elefante rosa", mas sim "rinoceronte branco").
"Breathes" (nome fictício) foi em 2010 o primeiro crítico de maconha dos Estados Unidos. Na época se tratava de maconha medicinal, uma vez que o Colorado era um dos 18 Estados a autorizar a droga leve com fins terapêuticos. Em uma de suas primeiras críticas, William Breathes confessava seu próprio espanto por ser pago para "ficar chapado" e ter reembolso para seu consumo semanal. Mas o trabalho tem suas responsabilidades. "Ainda assim preciso escrever, cumprir prazos, e tenho chefe de redação", ele garante. Para o Natal, o jornalista fez uma lista de sugestões de presentes, entre elas: o baseado eletrônico, um inalador do tamanho de uma caneta (é possível encontrá-lo no site GotVapes.com).
A maconha medicinal foi um grande sucesso no Colorado, ainda que seja um Estado que não parece doente (o índice de obesidade é um dos menores do país). Mais de 107 mil "pacientes" obtiveram um cartão que lhes dá direito de consumir, e agora há mais clínicas de cannabis do que cafeterias Starbucks.
As vendas são estimadas em US$ 200 milhões (cerca de R$ 410 milhões) para este ano – sendo que vários milhões vão para a administração fiscal, agradando à Justiça ou não. Os produtores tiveram o cuidado de trabalhar com as autoridades para eliminar os indesejáveis (a licença custa US$ 18 mil e serve para financiar a divisão especial criada pelas forças de ordem).
Depois de ver o sucesso da "medicinal", o Colorado passou para a etapa seguinte e legalizou, no dia 6 de novembro (juntamente com o Estado de Washington), a posse de uma onça (28 gramas) de maconha. O referendo foi aprovado com uma maioria de 250 mil votos, ou seja, mais do que a vantagem de Barack Obama sobre seu rival republicano Mitt Romney nas eleições presidenciais.
O governador democrata, John Hickenlooper, acatou a decisão e promulgou a lei Regulamentar a Maconha como o Álcool, sem esconder que sua aplicação seria "complicada". "Segundo a lei federal, a maconha continua a ser uma droga ilegal," ele alertou. "Então segurem seus pacotes de Cheetos ou de Goldfish [os salgadinhos preferidos dos maconheiros]".
Desde então tem dominado uma certa dissonância. A polícia local lembrou que ela não é diretamente encarregada de colocar em prática as leis federais. Mas nos condados que votaram contra a legalização, as procuradorias se recusaram a abandonar os processos. Vários municípios tomaram a dianteira e proibiram os pontos de venda, ao mesmo tempo em que autorizaram os residentes a possuir 6 plantas em um recinto fechado. A administração Obama tem pisado em ovos. Em seu único comentário sobre o assunto, o presidente, ele mesmo um grande fumante durante sua adolescência no Havaí, não pareceu ter pressa em punir. "Temos mais com o que nos preocupar", ele disse. E os americanos concordam: 64% deles acreditam que o governo federal não deve interferir na legalização em nível local.
Em Denver já estão na etapa seguinte, a da regulamentação. Nos termos da lei, os compradores e usuários devem ter mais de 21 anos. Assim como no caso do tabaco, é proibido fumar em locais públicos. E, assim como para o álcool, é proibido dirigir sob efeito da substância (um projeto de lei determina o limite em 5 nanogramas de THC – tetraidrocanabinol, o principal componente psicoativo – por mililitro de sangue). No início de janeiro, a assembleia do Colorado vai começar a estudar os métodos de regulação do mercado. Talvez limitem a potência do THC autorizado. E o transporte? Os agentes de segurança aérea afirmaram que os viajantes podem tomar um avião com sua quantia para consumo pessoal, mas somente se estiverem indo do Colorado para o Estado de Washington.
A perspectiva de legalização levou a uma corrida para o "novo ouro verde". O mercado está aí, com seus empresários de terno e gravata e sua holding cotada na Bolsa. É a próxima bolha, diz a "Newsweek", que pôde visitar os galpões do subúrbio de Denver onde é cultivada a erva, com luz artificial (música clássica ou hard rock, dependendo do que funciona melhor com a planta). De hippie, o setor não tem mais nada. As variedades têm nomes de safras especiais. "Reserva Privada". As clínicas expõem a erva em jarras transparentes sobre balcões de azulejo branco. Em um desses "pot palaces", que são tanto centros de relaxamento quanto mercearias de luxo, podem-se comprar barras de chocolate e de cereais, cachorro-quente, tudo feito de cannabis. E uma bebida gasosa: Dixie Elixirs (oito sabores, desde pêssego até romã).
A indústria do tabaco está atenta, pronta para se adaptar. A Philip Morris teria alugado armazéns no setor. Segundo uma pesquisa Gallup de novembro, o número de americanos favoráveis à legalização (46%) dobrou em quinze anos. O país permanece dividido, mas o fim da proibição está em andamento, a julgar pela experiência do Colorado.
(Tradução: Lana Lim)
"Breathes" (nome fictício) foi em 2010 o primeiro crítico de maconha dos Estados Unidos. Na época se tratava de maconha medicinal, uma vez que o Colorado era um dos 18 Estados a autorizar a droga leve com fins terapêuticos. Em uma de suas primeiras críticas, William Breathes confessava seu próprio espanto por ser pago para "ficar chapado" e ter reembolso para seu consumo semanal. Mas o trabalho tem suas responsabilidades. "Ainda assim preciso escrever, cumprir prazos, e tenho chefe de redação", ele garante. Para o Natal, o jornalista fez uma lista de sugestões de presentes, entre elas: o baseado eletrônico, um inalador do tamanho de uma caneta (é possível encontrá-lo no site GotVapes.com).
A maconha medicinal foi um grande sucesso no Colorado, ainda que seja um Estado que não parece doente (o índice de obesidade é um dos menores do país). Mais de 107 mil "pacientes" obtiveram um cartão que lhes dá direito de consumir, e agora há mais clínicas de cannabis do que cafeterias Starbucks.
As vendas são estimadas em US$ 200 milhões (cerca de R$ 410 milhões) para este ano – sendo que vários milhões vão para a administração fiscal, agradando à Justiça ou não. Os produtores tiveram o cuidado de trabalhar com as autoridades para eliminar os indesejáveis (a licença custa US$ 18 mil e serve para financiar a divisão especial criada pelas forças de ordem).
Depois de ver o sucesso da "medicinal", o Colorado passou para a etapa seguinte e legalizou, no dia 6 de novembro (juntamente com o Estado de Washington), a posse de uma onça (28 gramas) de maconha. O referendo foi aprovado com uma maioria de 250 mil votos, ou seja, mais do que a vantagem de Barack Obama sobre seu rival republicano Mitt Romney nas eleições presidenciais.
O governador democrata, John Hickenlooper, acatou a decisão e promulgou a lei Regulamentar a Maconha como o Álcool, sem esconder que sua aplicação seria "complicada". "Segundo a lei federal, a maconha continua a ser uma droga ilegal," ele alertou. "Então segurem seus pacotes de Cheetos ou de Goldfish [os salgadinhos preferidos dos maconheiros]".
Desde então tem dominado uma certa dissonância. A polícia local lembrou que ela não é diretamente encarregada de colocar em prática as leis federais. Mas nos condados que votaram contra a legalização, as procuradorias se recusaram a abandonar os processos. Vários municípios tomaram a dianteira e proibiram os pontos de venda, ao mesmo tempo em que autorizaram os residentes a possuir 6 plantas em um recinto fechado. A administração Obama tem pisado em ovos. Em seu único comentário sobre o assunto, o presidente, ele mesmo um grande fumante durante sua adolescência no Havaí, não pareceu ter pressa em punir. "Temos mais com o que nos preocupar", ele disse. E os americanos concordam: 64% deles acreditam que o governo federal não deve interferir na legalização em nível local.
Em Denver já estão na etapa seguinte, a da regulamentação. Nos termos da lei, os compradores e usuários devem ter mais de 21 anos. Assim como no caso do tabaco, é proibido fumar em locais públicos. E, assim como para o álcool, é proibido dirigir sob efeito da substância (um projeto de lei determina o limite em 5 nanogramas de THC – tetraidrocanabinol, o principal componente psicoativo – por mililitro de sangue). No início de janeiro, a assembleia do Colorado vai começar a estudar os métodos de regulação do mercado. Talvez limitem a potência do THC autorizado. E o transporte? Os agentes de segurança aérea afirmaram que os viajantes podem tomar um avião com sua quantia para consumo pessoal, mas somente se estiverem indo do Colorado para o Estado de Washington.
A perspectiva de legalização levou a uma corrida para o "novo ouro verde". O mercado está aí, com seus empresários de terno e gravata e sua holding cotada na Bolsa. É a próxima bolha, diz a "Newsweek", que pôde visitar os galpões do subúrbio de Denver onde é cultivada a erva, com luz artificial (música clássica ou hard rock, dependendo do que funciona melhor com a planta). De hippie, o setor não tem mais nada. As variedades têm nomes de safras especiais. "Reserva Privada". As clínicas expõem a erva em jarras transparentes sobre balcões de azulejo branco. Em um desses "pot palaces", que são tanto centros de relaxamento quanto mercearias de luxo, podem-se comprar barras de chocolate e de cereais, cachorro-quente, tudo feito de cannabis. E uma bebida gasosa: Dixie Elixirs (oito sabores, desde pêssego até romã).
A indústria do tabaco está atenta, pronta para se adaptar. A Philip Morris teria alugado armazéns no setor. Segundo uma pesquisa Gallup de novembro, o número de americanos favoráveis à legalização (46%) dobrou em quinze anos. O país permanece dividido, mas o fim da proibição está em andamento, a julgar pela experiência do Colorado.
(Tradução: Lana Lim)
Nenhum comentário:
Postar um comentário