quinta-feira, 31 de julho de 2014

Congressistas americanos questionam acordo nuclear com o Irã
David E. Sanger - NYT
Os membros do governo Obama envolvidos nas negociações nucleares com o Irã depararam-se com uma parede de ceticismo em duas audiências no Congresso na terça-feira (29), com os congressistas de ambos os partidos insistindo em uma votação para qualquer acordo final com Teerã e as autoridades do executivo insinuando que têm pouca intenção de fazê-lo.
As divergências surgiram após Wendy Sherman, subsecretária de Estado e principal negociadora dos EUA com o Irã, defender que a extensão de quatro meses nas negociações, acordada pelo governo juntamente com um modesto alívio das sanções adicionais, era justificada "por ter havido um progresso significativo na sala de negociação". Ela disse que esse progresso tinha ocorrido especificamente nas discussões sobre o redesenho de um reator de plutônio para que o Irã não possa produzir combustível para armas e a conversão da instalação subterrânea profunda de enriquecimento de urânio, chamada Fordow, para outra finalidade.
No entanto, Sherman também reconheceu que o Irã havia revelado poucos detalhes sobre seus esforços suspeitos para projetar uma arma, e ela foi vaga sobre a questão do tamanho necessário de redução da capacidade do Irã de enriquecer urânio para que um acordo fosse considerado aceitável.
Neste mês, o ministro das relações exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, em entrevista ao "The New York Times", propôs um congelamento capacidade de produção do país entre três e sete anos, seguido de uma permissão para a livre retomada da produção. Sherman insistiu que "qualquer acordo nuclear com o Irã deve ter uma duração muito longa". Segundo autoridades haviam dito anteriormente, a duração deveria ser de pelo menos uma década.
As diferenças mais acentuadas, entretanto, surgiram em torno da questão de quem teria a palavra final sobre como seria o acordo: o presidente Barack Obama ou o Congresso. A irritação fez parte da atual batalha em Washington sobre os esforços de Obama para contornar o Congresso em uma série de questões, desde a imigração à mudança climática, e sua insistência, similar à de George W. Bush, de que o presidente tem o poder de gerir as relações exteriores com mínima consulta ao Congresso.
No caso do Irã, Obama talvez possa evitar o Congresso pelo resto de seu mandato. Qualquer acordo, se houver, não será um tratado formal, de modo que o Senado não seria chamado a ratificá-lo. Um acordo de longa duração eventualmente exigiria a suspensão das sanções impostas pelo Congresso. Mas membros do governo disseram que iriam atrasar essa necessidade suspendendo ou anulando sanções específicas por ordem executiva - o que lhes daria o benefício adicional de poderem voltar a impor as sanções, caso o Irã não cumprisse a sua parte.
"Por anos, nós não teríamos necessidade de legislação por parte do Congresso em qualquer acordo", disse uma autoridade, falando com uma clareza que Sherman evitou enquanto tentava apaziguar os membros furiosos do Congresso. "As primeiras suspensões seriam por ação executiva", disse a autoridade.
Sherman tentou resolver as diferenças oferecendo garantias de que, se Obama agir unilateralmente para neutralizar qualquer sanção por ordem executiva, "não o faria sem conversar com o Congresso''.
O senador Bob Corker, republicano de Tennessee, tem sido um crítico consistente das negociações do governo Obama. Ele respondeu que, até agora, as conversas foram: "Isto é o que vamos fazer". E acrescentou: "Este é um lugar muito insatisfatório para nós estarmos".
Outros membros queriam que o acordo abrangesse questões que não estão incluídas nas negociações entre o Irã, os Estados Unidos e os cinco parceiros dos Estados Unidos: Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia. Alguns insistiram em limites para a capacidade de mísseis iraniana. Outros falaram em impedir o Irã de fornecer foguetes do Hamas. Sherman rapidamente reconheceu que o Irã foi a fonte de grande parte do poder de fogo do Hamas em seus ataques contra Israel.
Já David Cohen, subsecretário do Tesouro para terrorismo e inteligência financeira, disse que não poderia "dar garantias" ao Congresso de que os mais de US$ 2 bilhões em ativos fora dos Estados Unidos aos quais o Irã agora terá acesso sob o acordo de prorrogação não serão utilizados para ajudar o Hamas. Cohen, entretanto, insistiu que as sanções impostas pelos Estados Unidos e a Europa tinham sido tão eficazes que a economia do Irã tinha sido 25% menor do que deveria ser.
Os membros do governo enfrentaram seu momento mais difícil ao descreverem o objetivo final das negociações de longo prazo para o programa nuclear iraniano.
Zarif, o negociador iraniano, falou em entrevista que o Irã aguentaria as restrições por um determinado número de anos, e depois receberia permissão para construir uma infraestrutura nuclear tão grande quanto quisesse -como o Japão ou a Coreia do Sul. Sherman evitou discutir, pelo menos em sessão pública, a estratégia dos EUA para lidar com essa demanda iraniana, mas a realidade é que qualquer acordo terá um limite de tempo, e quando expirar, o Irã estará livre de maiores exigências além das inspeções internacionais.
As outras questões que as autoridades tiveram dificuldades em responder nas audiências do Comitê de Relações Exteriores da Câmara e da Comissão de Relações Exteriores do Senado foram sobre a quantidade de tempo necessária para o Irã produzir combustível suficiente para uma arma nuclear. No momento, disse Sherman, citando estimativas não secretas de agências não governamentais, esse tempo é de cerca de dois meses. O secretário de Estado John Kerry disse no início deste ano que ele gostaria que isso fosse estendido para um ano ou mais.
Sherman foi menos específica, mas disse que o atual prazo não permite antecedência suficiente para a defesa dos Estados Unidos e de Israel, entre outros, e precisa ser prolongado.
Tradutor: Deborah Weinberg

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