terça-feira, 30 de junho de 2015

Bruxelas bane os automóveis de seu centro
Laetitia Van Eeckhout - Le Monde
Julien Warnand/EFE
Os príncipes belgas, Emmanuel e Gabriel, andam de bicicleta com os pais, a rainha Mathilde e o rei Philippe, na Semana da Mobilidade, em setembro de 2014, em Bruxelas, na Bélgica Os príncipes belgas, Emmanuel e Gabriel, andam de bicicleta com os pais, a rainha Mathilde e o rei Philippe, na Semana da Mobilidade, em setembro de 2014, em Bruxelas, na Bélgica
Enquanto Paris se prepara para se tornar uma "zona de baixa emissão", de onde aos poucos serão excluídos os veículos poluentes, Bruxelas optou por banir os automóveis de seu centro. No domingo (28), desde a praça de Brouckère até a praça Fontainas, os bulevares e ruas adjacentes foram fechados definitivamente para a circulação de carros. Além dos 280.000 metros quadrados da área em volta da Grand-Place, patrimônio da Unesco, exclusiva para pedestres já há muito tempo, outros 220.000 metros quadrados foram fechados para os automóveis. A capital belga agora tem a maior zona para pedestres da Europa.
"Queremos devolver a cidade para os habitantes e os transeuntes, tornar o centro histórico de Bruxelas mais atraente e mais acessível para todos", afirma Yvan Mayeur, o prefeito socialista da cidade, que mal assumiu o cargo em janeiro de 2014 e já lançou esse projeto. Hoje a cidade fica congestionada pelo tráfego de carros, e os bulevares do centro, engarrafados o tempo todo, são barulhentos, poluem e são perigosos. Nem há mais horas de pico, e 40% do trânsito é de passagem". Mayeur, que é ex-presidente do Centro Público de Ação Social, pôde observar o avanço "considerável" das patologias associadas à má qualidade do ar.
Assim como Paris e Grenoble, que têm uma concentração média de partículas finas de 10 a 27 microgramas por metro cúbico, o centro de Bruxelas não respeita o limiar de poluição admitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 20 microgramas por metro cúbico. "Agora precisamos de uma ação incisiva para derrubar a lógica que consiste em criar espaços para fazer o tráfego fluir. E recolocar o carro em seu lugar, dissuadindo sua utilização e favorecendo as mobilidades não-motorizadas", afirma Yvan Mayeur.

Alteração no plano de circulação

A criação dessa zona de pedestres caminha de mãos dadas com uma profunda alteração no plano de circulação dentro do Pentágono, o bairro do centro da cidade. Cerca de 1.000 novas placas de sinalização de trânsito foram inauguradas no domingo. Em todo o Pentágono, a velocidade agora será limitada em 30 quilômetros por hora. Várias ruas terão seu sentido alterado e um anel de "serviço" em volta do espaço para pedestres será criado para que se possa ter acesso aos estacionamentos nos arredores da zona. Nesse anel a circulação se dará em sua maior parte em uma só via e em mão única, para impedir o tráfego de passagem. E 3 quilômetros de ciclovias serão criadas na área de pedestres e arredores.
Dentro da zona de pedestres, que será cercada por balizas automáticas, todas as vagas de estacionamento nas ruas serão eliminadas. Somente os residentes que tenham estacionamento privado poderão entrar de carro na zona. Os táxis poderão entrar, bem devagar, para deixar ou buscar algum passageiro, mas eles não poderão mais estacionar ali e esperar para serem chamados, nem transitar na área. Já os comerciantes, donos de restaurantes e bares, agora deverão receber suas entregas entre 4h e 11h da manhã.
A criação dessa zona de pedestres –-aprovada por unanimidade pelo conselho municipal-– teve uma ampla adesão, mas sua instauração está desagradando a alguns. O movimento "PicNic the Street", criado em 2012 justamente para exigir o fechamento do centro da cidade para carros, não baixou a guarda e continua se mobilizando para exigir uma zona de pedestres "inteligente".
"O anel de serviço pode acabar criando um mini-anel onde os carros serão prioritários. Ele só compensará o fechamento dos bulevares, mas sem para isso reduzir a pressão dos carros. E para quê criar mais estacionamentos, sendo que a oferta existente de estacionamento fora das vias públicas está longe de saturada?", questiona Joost Vanderbroele, um dos iniciadores do "PicNic the Street."

Estacionamentos polêmicos

De fato, há quatro novos estacionamentos em torno da zona de pedestres sendo projetados. "Os estacionamentos existentes são mal distribuídos entre os bairros ao redor da zona para pedestres, o que pode ser desvantajoso para os moradores", alega Els Ampe, encarregada de mobilidade e obras públicas de Bruxelas, que afirma que a prefeitura quer levar o tráfego o mais rápido possível para um estacionamento público. "Por isso estamos trabalhando na criação de painéis de sinalização dinâmicos [placas que indicam as vagas próximas ainda disponíveis]".
Esses argumentos não convencem Arnaud Pinxteren, deputado do Parlamento de Bruxelas e presidente do partido de oposição Ecolo Bruxelles. "Foram eliminadas 600 vagas de estacionamento nas ruas, mas 1.600 outras vagas de estacionamento serão criadas, onde está a lógica disso? Nada justifica esse aumento de capacidade, uma vez que conhecemos o caráter 'de aspirador de carros' dos estacionamentos", ele observa. "Sim, a zona para pedestres deve ser criada! Mas esse projeto não busca reduzir o tráfego, só canalizá-lo".
O gabinete do prefeito faz questão de ressaltar que o novo plano de circulação passará por uma fase de testes de oito meses, e portanto poderá ser ajustado. As obras definitivas de toda a zona só começarão em abril de 2016, com término previsto para outubro de 2018.Cicloativistas participam do "World Naked Bike Ride 2015
13.jun.2015 - Ativista pede menos carros nas ruas, durante "The London World Naked Bike Ride", neste sábado (13), na capital inglesa Ben Stansall/AFP

Nenhum comentário: