segunda-feira, 29 de junho de 2015

Estudantes suam para terminar o semestre nas escolas públicas de NY
Noah Remnick - NYT
Dave Sanders/The New York Times
Julian Marsano lê para seus alunos da 5ª Série em uma sala de aula na Escola Pública 124, no Brooklyn, em Nova York Julian Marsano lê para seus alunos da 5ª Série em uma sala de aula na Escola Pública 124, no Brooklyn, em Nova York
Quando Julian Marsano, professor de quinto ano da Escola Pública 124, no Brooklyn, chegou para começar a última semana de aulas, tinha uma programação extensa planejada para seus alunos.
Depois de uma manhã analisando "The One and Only Ivan", de Katherine Applegate, e "Wonder", de R.J. Palacio, Marsano e sua turma planejaram mergulhar fundo em sua unidade estudando dados, encontrando médias aritméticas e determinando pontos em gráficos lineares. Em seguida, ele checou o termômetro.
O ar-condicionado da sala de aula de Marsano estava quebrado há mais de três anos e, com as temperaturas chegando aos 32 graus na segunda-feira à tarde, ele sabia que teria de se contentar com uma aula mais lenta.
"Senti que o dia inteiro ia simplesmente escorrer pelas mãos em relação aos meus planos e objetivos", disse Marsano, que muitas vezes vê seus alunos ficando letárgicos e com mal-estar, e até mesmo desmaiando num calor tão sufocante.
Em Nova York, não há sinais mais claros da chegada do verão do que os banhistas em Sheep Meadow, filas nas barracas de cachorro-quente em Coney Island e crianças suando na reta final do ano letivo.
Muitas salas de aula das escolas públicas da cidade sofrem com aparelhos de ar-condicionado quebrados --isso quando eles existem--, queda na produtividade em sala de aula e emergências médicas ocasionais.
Regulamentos de segurança, obrigações contratuais e considerações de consumo de energia complicam as soluções rápidas, como ir a uma loja local e conseguir que um professor ou um pai habilidosos instalem algumas unidades. Os aparelhos de ar-condicionado precisam  cumprir as normas de eficiência, e devem ser obtidos de um fornecedor escolhido pela prefeitura e instalado pelo mesmo.
Jason Fink, vice-secretário de imprensa do Departamento de Educação da prefeitura, disse na terça-feira (23) que 74% dos espaços de instrução nas escolas da cidade tinham aparelhos de ar condicionado e, com a chegada dos cursos de verão, o departamento "está empenhado em garantir que todos os espaços de instrução usados nos cursos de verão tenham ar-condicionado".
Mas até mesmo as escolas que têm aparelhos de ar condicionado podem não fazer uso total deles. De acordo com o Centro para um Futuro Urbano, uma instituição de estudos de Nova York, 209 dos 1.179 prédios escolares da cidade foram construídos antes de 1920, e muitos deles não têm instalações elétricas adequadas para ter múltiplos aparelhos de ar-condicionado funcionando de forma segura.
"100% das nossas salas de aula têm ar-condicionado, mas apenas 70% deles estão funcionando", disse Annabell Burrell, diretora da Escola Pública 124, em South Park Slope, que foi construída por volta da virada do século 20. Burrell continuou, descrevendo os resultados: uma diminuição de 5% a 10% no comparecimento dos alunos nos dias mais quentes por causa de pais preocupados com as salas de aula muito quentes; cozinheiros trabalhando numa lanchonete sem ar no porão; e alunos com ataques de asma. Os alunos doentes não podem nem mesmo se refugiar na enfermaria: a sala também não tem ar-condicionado. A enfermeira da Escola Pública 124, Noemi Roman, foi hospitalizada por várias horas dois verões atrás, depois de ter dificuldades para respirar na sala, que tem um pequeno ventilador para fazer circular o ar úmido.
"Não é tão fácil corrigir a situação", disse Burrell, enumerando um labirinto enlouquecedor de departamentos da cidade que lidam com a fiação, a compra e a instalação dos aparelhos.
Outro impedimento à instalação de sistemas de ar-condicionado é que, de acordo com um documento do Departamento de Educação, os diretores devem trocar por outros gastos com energia, de modo que a instalação de ar-condicionado não custe nada para a conta de energia da escola.
O calor resultante deixa os estudantes mal-humorados, como é o caso de Ivan Gannushkin, aluno do primeiro ano na Escola Pública 124, cuja sala de aula não tem ar-condicionado.
"Parece que eu vou derreter", resmungou Ivan.
"Não consigo nem me concentrar", disse um colega de classe, Jalyis Cruz, com a testa pontilhada de suor.
No verão passado, vários membros do Conselho Municipal apresentaram uma resolução determinando que todas as escolas estivessem equipadas com sistemas de ar-condicionado e aquecimento adequados. A resolução, que ainda está na comissão, afirma que um levantamento de escolas nos Distritos 1 e 2 em Manhattan constatou que, das 26 escolas que responderam, metade relataram problemas com ar-condicionado. Os membros do conselho observaram que um dos principais pedidos feitos pelos eleitores foi de ajuda para conseguir a instalação de ar condicionado nas escolas.
Contudo, muitos professores e diretores acabam tirando do próprio bolso --como fazem frequentemente com outros materiais escolares-- para comprar ventiladores fora do orçamento. Burrell, diretora da Escola Pública 124, estima que já tenha gasto mais de US$ 500 (cerca de R$ 1.550) este ano com ventiladores para as salas de aula e um ar-condicionado para a secretaria da escola, que ela disse que podia ser instalado sem muito problema porque o escritório não é um espaço estudantil.
A Escola Pública 360, no Bronx, no entanto, tem um problema que seria motivo de inveja para diretores como Burrell: os pais recentemente foram aconselhados a mandar seus filhos para a escola levando blusas, porque com a chegada do calor, o ar-condicionado pode ficar muito gelado.
Tradutor: Eloise De Vylder 

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