segunda-feira, 29 de junho de 2015

Contornando as leis, China monopoliza mercado de drogas ilícitas
Dan Levin - NYT
BBC/DEA
Barata e alucinógena, nova droga 'flakka' preocupa autoridades nos Estados Unidos. Versão sintética da catinona, é um estimulante similar à anfetamina, que causa excitação e euforia. A 'flakka' pode ser injetada, inalada, ingerida ou fumada. Alguns usuários a combinam com outras drogas, como a maconha, ou produtos farmacêuticos Barata e alucinógena, nova droga 'flakka' preocupa autoridades nos Estados Unidos. Versão sintética da catinona, é um estimulante similar à anfetamina, que causa excitação e euforia. A 'flakka' pode ser injetada, inalada, ingerida ou fumada. Alguns usuários a combinam com outras drogas, como a maconha, ou produtos farmacêuticos
Encomendar drogas ilegais da China é tão fácil quanto clicar com o mouse.
Em guidechem.com, mais de 150 companhias chinesas vendem o alfa-PVP, também conhecido como "flakka", um estimulante que é ilegal nos Estados Unidos mas não na China, e foi associado a 18 mortes recentes em um condado da Flórida.
O portal de e-commerce Qinjiayuan vende aparelhos de ar condicionado, trampolins e um alucinógeno proibido conhecido como "spice", que causou um aumento perturbador no número de visitas aos pronto-socorros nos EUA em abril.
O estimulante mefedrona, às vezes vendido como "sais de banho", é proibido na China, mas está disponível para venda no Nanjing Takanobu Chemical Co. por cerca de US$ 3 mil o quilo.
"Eu posso resolver isso para você de forma legal ou ilegal", disse um vendedor de empresa por telefone quando questionado sobre o envio do produto da China para o exterior. "Quanto você quer?"
Em um país que aperfeiçoou a arte de censura na internet, o mercado aberto de drogas pela rede é um exemplo gritante da relutância da China em entrar em ação, enquanto se torna um grande ator na rede mundial de fornecimento de drogas sintéticas, dizem policiais internacionais.
Embora a China afirme ter feito milhares de prisões e "juntado forças" com forças policiais estrangeiras, oficiais de vários países dizem que as autoridades chinesas têm demonstrado pouco interesse em combater seriamente o que consideram como um problema dos outros países com as drogas.
"Eles simplesmente não veem que precisam investigar suas próprias indústrias que exportam esses químicos", disse Jorge Guajardo, ex-embaixador mexicano na China.
As indústrias químicas e traficantes de drogas aproveitaram essa oportunidade, transformando o país em um importante produtor e exportador de drogas sintéticas, entre elas a metanfetamina, bem como os compostos usados para fabricá-las, de acordo com dados de apreensão e de rotas de tráfico compilados por forças policiais norte-americanas e mundiais.
A China hoje serve como fornecedora da maior parte dos ingredientes necessários para a produção de metanfetamina pelos traficantes de drogas mexicanos, que produzem 90% da metanfetamina consumida nos EUA, de acordo com o departamento antidrogas do país.
Várias autoridades dos EUA disseram que a China é a principal fonte de novas drogas sintéticas.
"Sem dúvida a China é número 1", disse um policial federal sem autorização para dar declarações públicas.
"Estamos vendo casos em todo o país e o foco sempre parece ser a China", disse Carla Freedman, assistente da promotoria de Nova York, que processou uma rede de tráfico de drogas com base em Xangai em 2013.
As autoridades chinesas dizem que o governo está comprometido com a cooperação internacional contra o tráfico de drogas.
"Nosso objetivo é ajudar e apoiar os outros países como pudermos", disse Liu Yuejin, o ministro-assistente de Segurança Pública, numa declaração pública.
Em resposta a perguntas enviadas por fax, o ministério das Relações Exteriores chinês negou quaisquer problemas de cooperação policial com o México.
Mas Hao Wei, membro do Comitê de Prevenção ao Abuso de Drogas Sintéticas do ministério, disse que os traficantes sempre encontram brechas.
"Eu não acho mesmo que só os governos devem ser responsabilizados por isso", disse ele numa entrevista por telefone. "Em vez de apontar o dedo uns para os outros, devemos enfrentar o problema e lidar com ele de uma forma abrangente e equilibrada."
A China respondeu à pressão internacional com várias prisões importantes. Em abril, as autoridades anunciaram a detenção de mais de 133 mil pessoas o confisco de 43 toneladas de narcóticos ilegais durante uma operação antidrogas de cinco meses.
Mas especialistas dizem que essas ações não conseguiram impedir os traficantes de forma significativa.
"A China quer que todos pensem que ela está no controle de tudo", disse um funcionário da ONU que pediu para não ser identificado para evitar repercussões políticas. "Mas no fim das contas eles têm uma indústria química enorme e o Estado não tem capacidade de monitorá-la e controlá-la."
Um relatório dos EUA no ano passado disse que a China está dando passos para se unir a iniciativas globais contra as drogas ilegais, mas acrescentou que essas iniciativas são "prejudicadas por processos de aprovação" que limitam a capacidade de investigadores norte-americanos trabalharem com os chineses. Em março, o departamento antidrogas dos EUA recorreu a um artifício para atrair um dos maiores fabricantes mundiais de drogas sintéticas, um cidadão chinês chamado Tian Haijun, até Los Angeles para prendê-lo.
Mesmo quando a China faz uma prisão, pode não ir muito além disso.
Por mais de uma década, Zhang Lei, um químico de 39 anos de Xangai, também conhecido como Eric Chang, produziu toneladas de drogas sintéticas para os compradores em 57 países, ganhando cerca de US$ 30 milhões só com as vendas para os Estados Unidos, dizem autoridades norte-americanas.
Durante anos, a polícia chinesa soube da existência de Zhang, e finalmente o prendeu em 2013 por acusações de fabricar ecstasy.
Em julho passado, o Departamento de Tesouro dos EUA penalizou Zhang, sua empresa e três sócios de acordo com a Lei de Designação de Chefes do Tráfico Estrangeiros, que congelou os bens deles nos EUA.
No entanto, a empresa de Zhang continua faturando. A sede da empresa em Xangai continua funcionando, e seu site em inglês, uma verdadeira Amazon de drogas sintéticas, promete entregas internacionais em três dias e reembolso total se os funcionários da alfândega apreenderem os produtos.
"Viciado": Série em quadrinhos mostra impacto do tráfico de drogas na África
O impacto do tráfico de drogas, fenômeno que conecta a América do Sul, o oeste da África e a Europa, é o tema da série em quadrinhos "Viciado". "Viciado" é uma produção do programa de TV Focus on Africa, BBC News Magazine e BBC NewsLabs. Criação e roteiro: PositiveNegatives. Artista: Tayo Fatunla. Produção: Naomi Scherbel-Ball e Jacqui Maher BBC
Tradutor: Eloise De Vylder 

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