segunda-feira, 13 de julho de 2015

Batalhões islâmicos repletos de chechenos ajudam Ucrânia contra rebeldes
Andrew E. Kramer - NYT

Sergey Dolzhenko/EPA/EFE
Ativistas de extrema-direita queimam pneus perto do prédio do governo ucraniano no centro de Kiev, em 3 de julho. Cerca de 2.000 combatentes voluntários protestaram nesta sexta para exigir que se declare guerra contra os combatentes separatistas a favor da Rússia e a libertação de territórios ocupados no leste industrial do antigo Estado soviético Ativistas de extrema-direita queimam pneus perto do prédio do governo ucraniano no centro de Kiev, em 3 de julho. Cerca de 2.000 combatentes voluntários protestaram nesta sexta para exigir que se declare guerra contra os combatentes separatistas a favor da Rússia e a libertação de territórios ocupados no leste industrial do antigo Estado soviético
Vestindo roupa camuflada, com uma barba grisalha espessa que vai até o peito e um facão pendurado à mostra no cinto, o homem passava uma imagem temível no restaurante quase vazio. Garçons rondavam apreensivos perto da cozinha, e por mais que tenha tentado, o homem que chama a si mesmo de "Muçulmano", um ex-general checheno, não conseguiu impedi-los de servir mais chá.
Mesmo para os ucranianos endurecidos pela guerra de mais de um ano contra os separatistas apoiados pela Rússia, o aparecimento de combatentes islâmicos, na maioria chechenos, nas cidades perto das linhas de frente é uma surpresa e tanto —-e para muitos ucranianos, uma surpresa boa.

"Nós gostamos de lutar contra os russos", disse o checheno, que se recusou a dizer seu nome verdadeiro. "Nós sempre lutamos contra os russos."
Ele comanda um das três batalhões de voluntários islâmicos de um total de cerca de 30 unidades de voluntários que estão combatendo agora no leste da Ucrânia. Os batalhões islâmicos são enviados para as zonas mais quentes do confronto, e é por isso que o checheno está aqui.
O combate está se intensificando em torno de Mariupol, um porto estratégico e um pólo industrial que os separatistas cobiçam há muito tempo. Monitores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa dizem ter visto desembarques noturnos frequentes de equipamentos militares russos numa linha de trem ao norte daqui. Recentemente, as autoridades ucranianas divulgaram fotos —-que disseram ter sido tiradas por um drone que voava ao norte da cidade-— mostrando um conjunto de armas pesadas, incluindo tanques e morteiros, no lado rebelde.
Prevendo um ataque nos próximos meses, os ucranianos estão felizes com qualquer ajuda que possam conseguir.
Do ponto de vista dos ucranianos, eles estão em desvantagem em relação aos separatistas porque os governos ocidentais têm se recusado a fornecer às forças do governo qualquer coisa semelhante ao apoio militar que os rebeldes têm recebido da Rússia. O exército, corrupto e sem dinheiro, tem sido extremamente ineficaz. Então, os ucranianos recebem de bom grado o apoio até mesmo dos militantes islâmicos da Chechênia.
"Estou neste caminho há 24 anos", desde o fim da União Soviética, disse o tchetcheno em uma entrevista. "A guerra nunca terminou para nós. Nunca fugimos de nossa guerra com a Rússia, e nunca fugiremos."
Os comandantes ucranianos temem que grupos separatistas planejem tomar as estradas de acesso a Mariupol e sitiar a cidade, que tinha uma população de cerca de meio milhão de pessoas antes da guerra. Para combater isso, a cidade vem contando com uma variedade de milícias islâmicas e de extrema-direita para a sua defesa.
O checheno comanda o grupo Sheikh Mansur, que leva o nome de uma figura da resistência chechena do século 18. Ele é subordinado ao Setor de Direita, uma milícia ucraniana.
Nem o grupo Sheikh Mansur nem o Setor Direito estão incorporados à polícia formal ou ao exército, e as autoridades ucranianas se recusam a dizer quantos chechenos estão lutando no leste da Ucrânia. Nenhum deles é remunerado.
Além do inimigo, estes grupos não têm muito em comum com os ucranianos —-nem tampouco com os aliados ocidentais da Ucrânia, incluindo os Estados Unidos.
O Setor de Direita, por exemplo, foi formado durante protestos de rua do ano passado em Kiev a partir de meia dúzia de grupos nacionalistas ucranianos marginalizados como o Martelo Branco e o Tridente de Stepan Bandera. O grupo Azov, por sua vez, é declaradamente neonazista, e usa o símbolo "gancho do lobo" associado à SS. Sem tratar da questão do símbolo nazista, o checheno disse que se dava bem com os nacionalistas, porque, assim como ele, eles amam a pátria e odeiam os russos.
Para tentar fortalecer as forças regulares ucranianas e reduzir a dependência de Kiev desses paramilitares, o Exército dos EUA está treinando a guarda nacional ucraniana. Os norte-americanos são especificamente proibidos de dar instruções aos membros do grupo Azov.
Desde a guerra do Afeganistão dos anos 80, Moscou acusou os Estados Unidos de incentivar os militantes islâmicos a lutarem contra a Rússia ao longo de sua fronteira vulnerável ao Sul, uma política que poderia resolver habilmente dois problemas —-conter a Rússia e distrair os militantes em relação aos Estados Unidos. O líder checheno, Ramzan Kadyrov, acusou o governo georgiano pró-ocidental de infiltrar radicais islâmicos no norte do Cáucaso, embora não tenha fornecido provas.
Na Ucrânia, as unidades Dzhokhar Dudayev e Sheikh Mansur são na maioria chechenas, mas elas incluem muçulmanos de outras antigas regiões soviéticas, como uzbeques e balcares. A terceira unidade, a Crimeia, é formada predominantemente por tártaros da Crimeia. Não há nenhum indício de qualquer envolvimento dos EUA com os grupos.
Na frente de batalha, cerca de 11 quilômetros ao leste, os batalhões se deslocam em carros civis, com fuzis AK-47 espetados para fora das janelas, enquanto o exército regular segura uma linha secundária de trincheiras de defesa.
Os chechenos, segundo todos os depoimentos, são soldados corajosos. Comandantes ucranianos elogiam suas habilidades como batedores e franco-atiradores, dizendo que eles entram numa terra de ninguém para patrulhar e lutar.
Os chechenos também são famosos por suas emboscadas e ataques hábeis. Nas guerras chechenas, os insurgentes tinham uma política de matar oficiais e soldados contratados que eram feitos prisioneiros, mas os soldados alistados eram poupados.
Na Ucrânia, dizem que os gritos de "Allahu akbar", ou "Deus é grande",  causam medo no coração dos russos.
Na entrevista, o comandante checheno disse que seus homens gostavam de lutar com pouco equipamento de proteção. "Vemos isso da seguinte maneira", disse ele: "Acreditamos em Deus, e portanto não precisamos de coletes à prova de balas".
Embora religiosos, acredita-se que os grupos chechenos no leste da Ucrânia adotem uma variedade mais nacionalista do movimento separatista tchetcheno, de acordo com Ekaterina Sikorianskaia, especialista em Tchetchênia no International Crisis Group.
Nem todo mundo está convencido disso. As autoridades francesas, incomodadas com o extremismo islâmico nas comunidades de imigrantes, prenderam dois membros do batalhão Sheikh Mansur este ano, acusando-os de pertencer ao grupo extremista Estado Islâmico, disse o checheno. Ele negou que os dois sejam membros do grupo.
"Toda a Europa está tremendo de medo dos russos", disse ele. "É bom para a Europa que nós estejamos lutando aqui como voluntários. Mas nem todo mundo entende."

Um comentário:

Maycon Paranhos disse...

Os Americanos são terroristas. Deixei de comprar produtos Americanos.