quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Crise na segurança do Espírito Santo é alerta para o país
A onda de violência na Grande Vitória deve servir de laboratório para autoridades estaduais e federais, de modo a impedir que o movimento se espalhe
O Globo
O caos e o medo que se espalharam pelas ruas de Vitória, no Espírito Santo, desde a madrugada de sábado, quando policiais militares em greve se retiraram das ruas, dando início a uma das maiores crises de segurança na história do estado, são um alerta para todo o país. Sem o policiamento ostensivo, logradouros públicos se tornaram terra de ninguém, transformando-se em terreno fértil para saques a estabelecimentos comerciais, arrastões, assaltos a pedestres e tiroteios, sem falar nos homicídios, que, até a tarde de ontem, já passavam de 75, segundo o Sindicato dos Policiais Civis. A onda de violência se refletiu diretamente na rotina da cidade: escolas, universidades e postos de saúde fecharam, ônibus pararam de circular, e o pânico se alastrou.
Chama a atenção que a crise de segurança aconteça num estado apontado como exemplo de equilíbrio nas contas públicas — diferentemente do que ocorre com outras unidades da federação, como Rio de Janeiro — onde policiais recebem salários com atraso —, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que pleiteiam ajuda federal para sair da crise. Entre outros pontos, os grevistas reivindicam reajuste salarial, auxílio alimentação, adicional por periculosidade e insalubridade, além de melhores condições de trabalho, o que inclui a melhoria da frota.
Por tudo isso, a situação na Grande Vitória deve servir de laboratório para autoridades estaduais e federais, de modo a impedir que o movimento se espalhe para outras regiões.
De imediato, como a crise local afeta também a segurança nacional, é preciso ter um protocolo de como agir em casos como esses. De fato, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, viajou para o Espírito Santo para acompanhar in loco os desdobramentos da crise. Além disso, autorizou o envio de 200 homens da Força Nacional e do Exército — estes últimos já estão patrulhando as ruas desde a tarde de segunda-feira. No entanto, essa presença ostensiva ainda não foi suficiente para controlar a situação e dar tranquilidade à população.
Numa outra frente, a Justiça decretou a ilegalidade da greve, determinou que os PMs retornem ao trabalho e estabeleceu multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.
Mas autoridades precisam ir além. É necessário identificar com rapidez os responsáveis pela baderna nas ruas e puni-los, para que atos semelhantes sejam desestimulados.
Outra conclusão que se pode tirar dos violentos episódios que sacodem as ruas de Vitória é que, embora a segurança pública seja responsabilidade constitucional dos estados, cada vez mais se impõe a presença da União nessa área, integrando-se com autoridades locais. Não só para reunir dados que permitam mapear os problemas, mas também elaborar planos de contingência para situações como a que está ocorrendo agora na Grande Vitória.

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