terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O que deu em Jucá? Jucá responde
Estão querendo pregar em todos nós [os políticos] a cruz de Israel no peito, como os nazistas pregaram nos judeus que viviam na Alemanha
Ricardo Noblat - O Globo
Em discurso, ontem, no Senado, sobre a emenda que apresentou, e depois retirou, concedendo aos presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Triubunal Federal o privilégio de não serem processados por atos cometidos antes de assumir o cargo, Romero Jucá (PMDB-RR) disse a certa altura:
"Sabe o que que deu em mim, Ricardo Noblat? Preocupação. Sabe o que deu em mim, Ricardo Noblat? Inconformismo. Porque nós estamos em pleno século XXI. E sabe o que está parecendo que nós estamos vivendo? Está parecendo que estamos vivendo o período da Inquisição, quando alguém gritava "ele é um bruxo!", e, uma semana depois, estava na fogueira. E como se queimou gente na Idade Média!
Nós estamos vivendo também – outro comparativo com a História – o período da Revolução Francesa em que um "J'accuse" levava as pessoas sumariamente para um tribunal do povo e de lá para o cadafalso, para a guilhotina na Place de la Concorde. Bastava a acusação. Não bastava prova.
Bastava apontar o dedo e dizer: "J'accuse". Explico, para não confundir, porque pode ser que algum jornalista confunda "J'accuse" com a banheira. Não, "J'accuse" é "eu acuso" em francês. E as pessoas eram degoladas. Todo mundo sabe como terminou a Revolução Francesa. Robespierre começou guilhotinado, terminou guilhotinado e, depois, reassumiu o Imperador na França.
Ou nós podemos ir mais além um pouco no tempo, também pegando a História e dizer: "Nós estamos vivendo na época do Nazismo, do Fascismo". Diz-se a um político que ele é judeu. Então, a Gestapo, o grupo de extermínio, toma conta dele. Estão querendo pregar em todos nós a cruz de Israel no peito, como os nazistas pregaram nos judeus que viviam na Alemanha. E eu vou ficar calado com isso? Não vou, não vou.
Tanto é assim que a brilhante jornalista Vera Magalhães, no dia 19 de fevereiro, faz um artigo que diz o seguinte: "Carne queimada. Quem for marcado com a cruz escarlate da Lava Jato terá o destino traçado". Está aqui. Isso é a síntese do "J'accuse", da estrela de Israel, da denúncia de bruxismo no século XXI. A diferença é que a turba que apontava agora é outra.
A diferença é que o povo que aplaudia a guilhotina agora é parte da imprensa, que não dá chance a ninguém de se defender – não dá chance a ninguém; escolhe aleatoriamente e parte para o estraçalhamento, sem se preocupar com a verdade, sem se preocupar com a coerência, sem se preocupar com a família das pessoas, com a história de cada um, sem mesmo se lembrar das suas próprias memórias, porque dezenas de jornalistas, aqui e pelo Brasil, ouviram a minha fala de que o governo da Dilma estava acabando, de que o Brasil estava sangrando, de que a Dilma estava destruindo o País."

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