Delações fundamentais
As delações premiadas do marqueteiro João Santana e
sua mulher Monica Moura, homologadas ontem pelo ministro Edson Facchin
no Supremo Tribunal Federal, vão esclarecer muitas coisas, e não apenas
sobre a campanha eleitoral de 2014, cujo julgamento de contas iniciou-se
ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mas foi interrompido para
que sejam ouvidas novas testemunhas, especialmente os dois novos
delatores, um dos cinco que receberam mais dinheiro ilegal da Odebrecht.
Quem
fez essa avaliação foi o ex-coordenador do departamento de operações
estruturadas Hilberto Mascarenhas, o homem que controlava o fluxo das
propinas. A primeira informação de que os responsáveis pela propaganda
política do PT haviam feito as delações veio do vice-procurador
eleitoral Nicolau Dino, durante a primeira sessão do julgamento do TSE.
Como
era um fato novíssimo, e certamente decisivos para esclarecer o uso de
dinheiro ilegal na campanha presidencial, ele pediu para que os dois
fossem ouvidos, reabrindo o processo. O novo prazo de cinco dias dado
para as alegações finais, aceito até mesmo pelo relator Herman Benjamim,
acabou ficando em importância secundária, já que os novos depoimentos,
inclusive do ex-ministro Guido Mantega, é que ditarão o novo ritmo do
processo.
Os depoimentos de João Santana e Monica servirão também
para reafirmar ou desmentir uma declaração de Hilberto Mascarenhas
feita em sua delação premiada. Mascarenhas, que a partir de 2006 se
tornou chefe da área de propinas da Odebrecht, afirmou que a empreiteira
evitava pagar propina em dólar e nos Estados Unidos.
"Não só
não pagava nos Estados Unidos como a gente propunha sempre a quem tinha
que receber dinheiro no exterior que recebesse em euro. É uma boa moeda e
não passa pelo Fed americano [banco central dos Estados Unidos]".
Até
onde se sabe, foram em paraísos fiscais todos os pagamentos feitos a
Feira e Xepa, codinomes dos dois responsáveis pelo marketing político do
PT no Brasil e nos países vizinhos, onde também a influência das
ilicitudes da Odebrecht está sendo questionada, por desvirtuarem as
eleições presidenciais, numa ação conjunta da empreiteira com o PT para
ajudar governos amigos.
Essa confirmação de que a Odebrecht não
usava o sistema bancário dos Estados Unidos para pagar seus subornos
pode desmentir a reportagem da revista Veja desta semana, que atribui
pagamento de propinas ao senador Aécio Neves em uma conta bancária em
Nova York em nome de sua irmã Andrea Neves.
O ex-diretor da
empreiteira Benedicto Junior, conhecido como “BJ”, teria feito a
denúncia, que ontem foi desmentida mais uma vez, agora da tribuna do
Senado, por um Aécio indignado. Sua irmã Andrea chegou a chorar em um
vídeo divulgado na internet. Alexandre Wunderlich, advogado de “BJ”,
porém, teria afirmado a Alberto Toron, defensor de Aécio, que seu
cliente não fez aquela afirmação em delação.
Hoje o presidente do
PSDB vai ao ministro Edson Facchin pedir que libere o sigilo da delação
de Benedicto Junior para que possa se defender. Curiosamente, a mais
grave acusação já feita ao senador Aécio Neves, pois contêm elementos
factuais claros – uma conta em um banco de Nova York no nome de Andrea
Neves – pode servir para inocentá-lo.
Basta que a denúncia não
faça parte da delação premiada do ex-diretor da Odebrecht, ou que não
exista a indicação do nome do banco e da conta em que o dinheiro foi
depositado. O próprio Benedicto Junior, na parte da delação em que fala
de João Santana, disse que todas as contas em que as propinas foram
depositadas foram entregues aos procuradores de Curitiba.
O mesmo
procedimento tem que ter sido seguido em relação ao senador Aécio
Neves, se é verdade que ele fez a denúncia nos termos em que a revista
divulgou.
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