João Santana e mulher detalham ilícito em campanhas do PT desde 2006
Delação premiada de casal foi homologada ontem pelo ministro
FachinJailton de Carvalho / André Souza - O Globo
O publicitário João Santana e a mulher dele Mônica Moura denunciaram,
em acordo de delação premiada, movimentação irregular de dinheiro em
todas as campanhas eleitorais que participaram no Brasil e em outros
países da América Latina de 2006 até serem presos em fevereiro do ano
passado. Os dois relataram ilegalidades nas campanhas dos ex-presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva, de Dilma Rousseff, ambos do PT, na mesma
linha das acusações formuladas por ex-executivos da empreiteira
Odebrecht, segundo disse ao GLOBO uma fonte vinculada ao caso.
Santana foi o marqueteiro das três últimas eleições presidenciais do
PT: 2006, quando Lula venceu; e 2010 e 2014, quando Dilma Rousseff
ganhou a disputa. Eles teriam relatado irregularidades também nas
campanhas de Hugo Chavez, já falecido, e Nicolas Maduro, na Venezuela,
de Maurício Funes, em El Salvador, de Danilo Medina, na República
Dominicana e de José Eduardo dos Santos, em Angola. Nenhuma das
campanhas das quais participaram ficou de fora das delações. As
irregularidades estariam relacionadas aos pagamentos pelos serviços que
prestaram.
PGR AGIRÁ NA SEMANA QUE VEM
Os
acordos de delação de Santana, da mulher e de André Santana, que
trabalha com o casal, foram homologados ontem pelo ministro Edson
Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Depois de chancelar as colaborações, o ministro devolveu os autos à
Procuradoria-Geral da República. Caberá ao procurador-geral Rodrigo
Janot, que está em viagem à Coreia do Sul e ao Japão, definir os
inquéritos a serem pedidos a partir das delações. Janot deverá tomar as
providências a partir da próxima semana, quando já estará de volta ao
Brasil.
— Homologuei os acordos e mandei os documentos para a Procuradoria-Geral — disse Fachin ao GLOBO.
Em relação as campanhas de Lula e Dilma, os dois confirmaram as
denúncias de executivos da Odebrecht e, em alguns casos, acrescentaram
dados novos às investigações. As negociações começaram há um ano e só
foram encerradas recentemente, depois alguns avanços e retrocessos. No
início, Santana e Mônica tentaram obter um acordo com a informação de
que pagaram indevidamente um corte de cabelo e um teleprompter usado por
Dilma na campanha de 2014.
A sugestão foi recusada e os dois tiveram que puxar pela memória
novos fatos. As tratativas estavam em sigilo até terça-feira, quando, em
julgamento no Tribunal Superior Eleitoral, o vice-procurador-geral
eleitoral, Nicolao Dino, fez referência aos acordos. Os advogados
Juliano Campelo, Beno Brandão e Alessi Brandão confirmaram, em nota, a
homologação das colaborações. “Contudo não podem comentar sobre o teor
do acordo que está sob sigilo”, diz o texto.
Santana e Mônica foram presos em fevereiro de 2016. Em julho, os dois
admitiram ter recebido recursos do PT no exterior. Em agosto, foram
soltos após pagar fiança de mais de R$ 30 milhões.
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