Lava-Jato impõe ao PT maior perda de filiados de sua história
Investigações também provocam danos sobre outras legendas, como PMDB e PSDB
Silvia Amorim - O Globo
Sob a Operação Lava-Jato, o PT acumula sua maior perda de
filiados na história, superior àquela sofrida após o escândalo do
mensalão. De 2016 até maio deste ano, o partido registrou uma redução de
7.458 integrantes, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE). A maior parte (3.875) deu-se nos cinco meses de 2017. Os dados
mostram também que o PMDB e o PSDB, embora há menos tempo no epicentro
das investigações, começam a sentir em sua base os efeitos danosos
causado pelas denúncias de corrupção.
As baixas no PT em 2016 e 2017 já são o triplo das ocorridas
em 2014, ano de conclusão do julgamento do mensalão. Naquele ano, a
redução de filiados havia sido de 2.514 e era a primeira vez em sua
trajetória que o partido não ampliava sua massa de apoiadores. No ano
seguinte, em 2015, pós-reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff, a
sigla conseguiu recuperar fôlego e simpatizantes, mas durou pouco. O PT
tem 1,5 milhão de filiados.
— Em 2015 e 2016, foi a fase da depressão dos petistas. É
provável que isso que estamos vendo com o PT veremos com o PMDB e PSDB
mais adiante — avalia o cientista político Carlos Melo, do Insper.
Até o ano passado, o PT estava isolado como a única legenda,
dentre as maiores, a reduzir o número de filiados. Este ano, o partido
ganhou a companhia do PMDB do presidente Michel Temer. A redução de
peemedebistas nos primeiros cinco meses de 2017 foi tímida, de 853
filiados, mas rompeu um ciclo forte de filiações que aconteceu em 2015 e
2016, quando cerca de 25 mil pessoas entraram na legenda por ano. A
sigla tem 2,4 milhões de pessoas em seus quadros.
O PSDB, também com lideranças abatidas na Lava-Jato, não
registrou até maio, segundo o TSE, redução de filiados. Mas o ritmo de
crescimento que vinha registrando desde a eleição de 2014 foi
interrompido este ano. Em 2015, eles ampliaram em 60 mil seu exército e,
em 2016, em 36 mil. Este ano, são apenas 4.275. O PSDB tem 1,4 milhão
de filiados.
Autora de um estudo sobre a relação entre partidos e
filiados no Brasil, a professora de Ciência Política Maria do Socorro
Sousa Braga, da Ufscar, afirma que a Lava-Jato mostrou na eleição de
2016 o potencial de estrago para partidos envolvidos em denúncias.
Naquele ano, o PT, até então o principal alvo das investigações, teve o
maior fracasso eleitoral desde a conquista da Presidência da República. A
sigla elegeu 254 prefeitos, menos da metade dos 635 de 2012. Para ela, o
impacto desse desgaste na base partidária é mais lento, mas se
concretiza.
— Na Lava-Jato, a tendência é que o impacto seja maior,
porque no mensalão o escândalo acabou ficando muito em cima do PT. O
impacto chega até o filiado porque o descrédito na política é
generalizado.
Carlos Melo diz que os dados precisam ser analisados mais pelo movimento da curva do que pelos números em si:
— Eles mostram que cada partido está num tempo diferente da própria crise.
As estatísticas do TSE não trazem o perfil das pessoas que
estão deixando os partidos. Para os especialistas, trata-se de dois
grupos distintos. De um lado, os desiludidos: pessoas que se filiaram
por identificação programática, mas sem participação ativa partidária.
De outro lado, os pragmáticos: políticos evitando que o desgaste do
partido atrapalhe seus planos eleitorais.
MOVIMENTOS DIFERENTES
Para
os especialistas, o PT já passou pelo auge do seu desgaste com a
Lava-Jato. O cenário pode piorar somente se o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva for preso. Já o PMDB e PSDB estariam no início dessa
travessia. Para Melo, no caso dos tucanos, a adesão ao governo Temer tem
sido algo ainda mais danoso para a sigla do que as suspeitas de
envolvimento de suas lideranças em esquemas de corrupção.
Maria do Socorro não acredita numa reação dos filiados do PMDB como houve no PT.
— Acho que filiados do PMDB não se surpreendem com o que tem
sido noticiado sobre suas lideranças. O que deve acontecer é cair o
ritmo de novas filiações. Mas não creio numa perda expressiva.
As direções nacionais dos partidos não se manifestaram.
Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostrou que o
PT recuperou eleitorado em meio à crise política. A legenda atingiu
este ano sua maior popularidade desde 2015, com a preferência de 18% dos
entrevistados. Após o impeachment de Dilma Rousseff, a preferência pelo
partido havia chegado a 9% em dezembro de 2016. Em maio passado, ela
alcançou 15% e agora 18%.
O PSDB seguiu caminho inverso. Em 2015, conforme o
Datafolha, 9% dos entrevistados declaram preferência pelo partido. Hoje o
índice é de 5% — um empate com o PMDB. A maioria absoluta dos
entrevistados, 59%, disse não ter preferência por partido.
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