sexta-feira, 21 de julho de 2017

Sinal de rádio vindo de Ross 128, estrela a 11 anos-luz de distância, intriga astrônomos
Salvador Nogueira - FSP
E o próximo número sorteado no imprevisível bingo da busca por inteligência extraterrestre é: Ross 128. No meio da semana passada, pesquisadores ligados ao radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, comunicaram a seus colegas a detecção de sinais de rádio estranhos vindos dessa pequena estrela anã vermelha a apenas 11 anos-luz da Terra.
Com isso, a bola foi passada também a outros cientistas, dentre eles os do Instituto SETI, na Califórnia, que estão usando o Allen Telescope Array para confirmar ao menos que o sinal existe mesmo e está vindo de Ross 128. O que não vai ser fácil — o único outro radiotelescópio no mundo que seguramente poderia detectá-lo é o chinês FAST, que, no entanto, ainda está em fase de calibração.
Esses são os fatos. Mas não, ninguém acha a essa altura que tenhamos detectado mesmo uma transmissão proveniente de uma civilização extraterrestre. Há possíveis explicações muito mais convincentes do que essa para o sinal.
“Nós não sabemos a origem desses sinais mas há três explicações principais”, diz Abel Mendez, da Universidade de Porto Rico, líder da descoberta. “Elas poderiam ser emissões de Ross 128 similares a erupções solares do tipo II, emissões de outro objeto no campo de visão de Ross 128, ou apenas um disparo de um satélite em órbita alta, já que satélites em órbita baixa se movem rapidamente para fora do campo de visão.”
Mendez aponta que cada uma das três explicações favoritas tem problemas. Erupções solares de tipo II normalmente ocorrem a frequências muito mais baixas, não há muitos objetos próximos no campo de visão de Ross 128 e nunca vimos satélites produzirem disparos de rádio como este. Ainda assim, ele ressalta, a hipótese de inteligência extraterrestre vem no pé da lista de possibilidades.
Por quê? Por duas razões. Primeiro, porque o sinal é tudo que não esperávamos de uma transmissão deliberada de alienígenas. Em vez de adotar uma banda estreita (como nossas transmissões de rádio, que se concentram numa única sintonia para usar melhor a energia disponível), o sinal tem uma banda larga, típica de fenômenos naturais. Ele também não está na faixa de frequências tipicamente associada à busca de inteligência extraterrestre (entre 1,42 GHz e 1,66 GHz) e sim na banda C, entre 4 GHz e 5 GHz. (Com efeito, os pesquisadores estavam colhendo dados para estudar atividade estelar e, com alguma sorte, detectar planetas, mas não procurar as transmissões de um Datena alienígena.)
Segundo, porque “inteligência extraterrestre” é, por padrão, sempre a hipótese menos provável. “Afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”, lembra? Para ETs entrarem no jogo, precisamos descartar todas as hipóteses mais mundanas.Detecção original foi feita com a antena gigante de Arecibo (Crédito NAIC)
O QUE EXATAMENTE FOI DETECTADO?
O sinal consistiu em pulsos quase-periódicos, observados em 12 de maio e descobertos nos dados somente duas semanas depois. “Esse sinal não só se repetia com o tempo, mas também ia descendo pelo sintonizador do rádio, algo como um trombone indo de uma nota mais alta para uma mais baixa”, descreveu o astrônomo Seth Shostak, do Instituto SETI. “Isso era estranho, de fato.”
Diante do mistério, novas observações foram feitas por Arecibo no último domingo (16), em parceria com o Telescópio de Green Bank e o já mencionado Allen Telescope Array. Mas ainda não foram emitidas quaisquer conclusões sobre essas novas observações.
Ross 128 já esteve na lista de diversos programas de “escuta” SETI no passado, e nunca algo suspeito foi encontrado. Provavelmente, há uma explicação natural para essa nova descoberta — ou talvez a “clássica” interferência de rádio artificial vinda da Terra, que já “sabotou” tantos sinais promissores no passado. Mas, em ciência, nunca se pode tomar uma probabilidade por uma confirmação. É preciso checar. E os cientistas não estão perdendo tempo para fazer isso. Prometem analisar os novos dados até o final da semana.
“Claro que é possível que Ross 128 vá perder seu anonimato e se tornar o primeiro sistema estelar a mostrar boas evidências de inteligência extraterrestre”, provoca Shostak. “Mas é provável — pelo menos com base em experiências passadas — que iremos encontrar outra explicação, menos romântica, para o mistério que no momento envolve este objeto. Essa é, claro, uma ocorrência frequente para qualquer um que conduza exploração, e dificilmente é causa para desencorajamento; é, sim, um incentivo para continuarmos a busca.”

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