quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Com base desorganizada, máquina eleitoral mantém fôlego de Temer 
BRUNO BOGHOSSIAN - FSP
Michel Temer transformou a estrutura do governo em uma máquina eleitoral para sobreviver no cargo.
Com ela, construiu uma ponte para atravessar os 14 meses que o separam do fim de seu mandato.
Cargos públicos e verbas federais tiveram peso especial na captação de apoio para enterrar a segunda denúncia contra o presidente.
Não é que Temer tenha saciado todo o apetite de sua base aliada, mas os 251 deputados que votaram a seu favor se alimentaram da expectativa de ter esses recursos a seu dispor em uma campanha com financiamento escasso.
O Palácio do Planalto foi objetivo em seus esforços para controlar uma base aliada indócil e dispersa: ministros e líderes governistas disseram aos parlamentares que apenas aqueles que votassem a favor do presidente seriam recompensados com o poder da máquina federal –que rende dividendos eleitorais desde que a política é política.
Diante da oferta, muitos deputados que gostariam de se distanciar de um governo impopular, considerado tóxico para a disputa de 2018, refizeram as contas.
Era claro desde o início que não haveria 342 votos para autorizar a abertura de um processo contra Temer e afastá-lo do cargo.
O presidente continuaria a despachar de seu gabinete e recarregaria a tinta de sua caneta. Seguindo a lógica política básica, seria mais inteligente estar a seu lado do que contra ele.
Cargos em órgãos federais, verbas públicas e inaugurações de obras são especialmente importantes para eleições parlamentares.
Os deputados direcionam dinheiro para municípios de suas bases e, em troca, os prefeitos usam suas próprias máquinas locais para ajudá-los a renovar seus mandatos nas urnas.
É essa engrenagem que dará ao governo Temer alguma estrutura para se manter relativamente forte depois de uma crise política violenta, em que emergiu um presidente da Câmara que seduziu parlamentares, empresários e investidores como alternativa a um Palácio do Planalto debilitado.
Na gangorra política, a fragilização de Temer significou a ascensão de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nas últimas semanas, ele passou a ser apontado como futuro protagonista da pauta do país e, em especial, da agenda econômica.
De fato, o governo está convencido de que precisará conter os atritos com Maia e compartilhar poder com o presidente da Câmara para ter chances de fazer avançar medidas que precisam de aval do Congresso.
A sessão desta quarta-feira (25) mostrou que a coalizão governista está desorganizada. O Planalto teve dificuldades até para atingir o quórum necessário para iniciar a votação.
Nesse cenário, Maia deve atrair para seu porto uma série de bancadas que parecem estar à deriva no plenário.
Vai oferecer pautas que têm apelo significativo em setores de grande influência na política, como os ligados à segurança pública, ao agronegócio e ao mercado financeiro.
Apesar do peso do Legislativo e da estatura conquistada por Maia, o regime presidencialista ainda dá algum fôlego a Temer.
Os projetos aprovados na Câmara podem até turbinar o discurso de parlamentares em suas campanhas, mas quem pode oferecer o que importa na política real estará sentado do outro lado da Praça dos Três Poderes.

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