José Roberto de Toledo - OESP
A eleição do novo presidente da Câmara dos
Deputados virou manchete porque prenuncia um cenário de crise política
para Dilma Rousseff (PT). Dizem os entendidos de Brasília que o sonho da
oposição - o pedido de impeachment da presidente - teria atalhos sob a
direção de Eduardo "Deus mostrou o caminho correto" Cunha (PMDB). Mas
não se cassa um presidente sem pressão popular. E essa estrada passa
longe de Brasília.
Para continuar sonhando, a oposição precisa das condições
socioeconômicas certas (ou erradas, dependendo do ponto de vista). Só
assim teria chance de mobilizar a opinião pública. Inflação, desemprego e
desabastecimento costumam ser o tripé que eleva os ânimos perto do
ponto de ebulição. Na verdade, não são esses indicadores em si, mas a
percepção do público sobre eles. A "inflação do tomate", de abril de 2013, era uma alta sazonal dos preços dos alimentos, mas, graças às redes sociais digitais, ganhou ares de explosão inflacionária - mesmo que não fosse de fato. Se comunicação não é o que um diz mas o que o outro entende, a opinião pública não se molda apenas pelos fatos mas pela versão predominante dos fatos. É a guerra das expectativas.
E Dilma começou 2015 perdendo a primeira batalha dessa guerra. Sem que nenhuma pesquisa de avaliação de governo digna de nota tenha sido divulgada desde a posse da presidente, o indicador mais relevante sobre sua popularidade é a confiança do consumidor medida pelo INEC - uma série mensal de pesquisas do Ibope/CNI. Nenhum outro indicador tem correlação estatística mais forte com a popularidade presidencial, seja quem for o presidente. Soube-se, na sexta, que o INEC caiu 4,6% em janeiro.
Entre outros motivos, porque o pessimismo em relação à inflação aumentou 10%. Hoje, nada menos do que 85% dos brasileiros acham que os preços vão aumentar (45%) ou aumentar muito (40%) nos próximos seis meses. Também dois em cada três apostam no crescimento do desemprego (mais 6,1% em relação dezembro).
A confiança do consumidor só não está pior porque mais gente acha que sua renda pessoal vai aumentar do que diminuir - embora esse otimismo já tenha sido bem maior no passado. No fim das contas, o INEC caiu ao seu menor patamar em dez anos. Desde junho de 2004 ele não chegava ao número de 104, como agora.
É muito provável que o crescimento do pessimismo do consumidor se converta em criticismo do cidadão em relação a Dilma. As próximas pesquisas de avaliação do governo vão confirmar ou não essa hipótese. E, se confirmarem, é o que basta para a oposição voltar às ruas e tentar emplacar seus slogans?
É necessário, mas insuficiente.
As tentativas de mobilizar parte expressiva da sociedade contra o que quer que seja fracassaram nos últimos meses. Do "Fora Dilma" ao "Contra a tarifa", nenhuma manifestação reuniu mais do que a meia dúzia de sempre. Muitas vezes o número de policiais superou o de manifestantes. Em termos de empolgação, foram tão animadas quanto os blocos pré-carnavalescos paulistanos.
Isso não quer dizer que o quadro não possa mudar. Em maio de 2013, quase ninguém imaginava o vulto que os protestos populares alcançariam no mês seguinte. Quase ninguém porque cientistas de uma universidade dos EUA dizem ter previsto esses e outros distúrbios ocorridos na América Latina desde 2012.
Reunidos em torno de um programa batizado "Embers" (Early Model Based Event Recognition using Surrogates), eles monitoram uma pletora de dados eletrônicos, com ênfase nas redes sociais e, a partir de modelos matemáticos, elaboram "alertas" sobre a chance de um protesto virtual se tornar real. Fazem isso com 10 países latino-americanos, e sua maior taxa de acerto é com os alertas brasileiros. Para quem gosta de teoria da conspiração, o programa é financiado pelo governo norte-americano.
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