quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Sobre o insustentável
Celso Ming - OESP
O ajuste da economia vem sendo criticado pelas viúvas do fracassado sistema anterior, denominado de nova matriz macroeconômica.
Esses setores entendem que a política adotada pela presidente Dilma neste início do seu segundo mandato é recaída neoliberal, cujo resultado será o recuo das conquistas sociais, entendidas como tais, o aumento do emprego e de salários e a melhor distribuição da renda nacional.
Esses setores alegam que a retomada da ortodoxia pela nova equipe econômica adota a austeridade pela austeridade que, por sua vez, desemboca na estagnação, na queda do consumo e na queda do investimento.
Entendem que não se pode ter tudo. E desenterram pontos de vista dos anos 60, como o de que o desenvolvimento econômico produz inevitavelmente um efeito colateral, que é alguma dose de inflação. Repetem, assim, o argumento da raposa do Pequeno Príncipe, segundo o qual quem quer borboletas tem de tolerar os estragos provocados pelas lagartas.
No entanto, o fracasso da nova matriz macroeconômica colocada em prática pelo ex-ministro Guido Mantega e pelo ex-secretário do Tesouro Arno Augustin não se deveu à excessiva carga ideológica, como alguns afirmam. Fracassou porque provocou desequilíbrios. Foi incapaz de produzir o crescimento econômico. Ao contrário, esvaziou a indústria, colecionou resultados medíocres do PIB e, agora, uma provável recessão. Desembocou na inflação acima do teto da meta, no rombo (déficit nominal) das contas públicas de mais de 6% do PIB e no déficit das contas externas (conta corrente) de US$ 90 bilhões. A redução de postos de trabalho vem vindo aí não porque o ajuste seja desempregador, mas porque a política anterior é insustentável e tenderia a desintegrar-se por si só.
O ajuste não tem nada de ideológico. O equilíbrio das contas públicas é pressuposto de qualquer política econômica eficiente. Pode-se escolher entre dar prioridade à distribuição de renda e aos avanços sociais ou a qualquer outro choque capitalista. Qualquer que seja a escolha, é preciso ter os fundamentos em ordem. E, no entanto, o resultado dos experimentos colocados em prática nos primeiros quatro anos do governo Dilma foi bagunça econômica. Por que o governo persistiu no erro, apesar dos descarrilhamentos, é coisa que os historiadores têm agora para examinar.
A virada do início do segundo mandato Dilma não foi uma decisão do tipo tanto faz, assim como quem vacila entre pedir por sobremesa pudim de leite ou torta de chocolate. Foi decisão inevitável destinada a recolocar a economia nos trilhos. Sem essa operação, a deterioração seria inexorável.
Dilma continua vacilante porque seu discurso de campanha foi na direção oposta e está sendo acusada agora de estelionato eleitoral e de traição das causas populares. Um dos problemas destes dois primeiros meses de governo é o de que a presidente segue com o breque de mão puxado. Optou, sim, pelo ajuste, colocou à frente dele o economista ortodoxo Joaquim Levy, mas sente falta dos tempos da embriaguez provocada pela falsa fartura das despesas fáceis.

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