Reinaldo Azevedo - VEJA
Ai, ai, então vamos lá. Prestem atenção a esta frase, um clichê conhecido, mas agora com um acréscimo: “Pau que dá em Chico também dá em Francisco. Engaveta lá, engaveta aqui”. Quem a pronunciou foi Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. A que ele se referia? Vamos ver.
A Câmara
aprovou o Projeto de Lei 4.330, que estende a terceirização também às
chamadas atividades-fim das empresas privadas — as públicas e mistas
ficam fora da mudança. O projeto seguiu para o Senado.
Ocorre que
Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente da Casa, deu a entender que pode,
vamos dizer, fazer corpo mole e deixar a votação para a calendas. O
senador já deixou claro que vai combater o projeto, repetindo a ladainha
do PT e dos sindicatos, segundo a qual o texto cassa direitos dos
trabalhadores, uma tese absolutamente indemonstrável. Ao contrário!
Segundo o PL 4.330, a empresa contratante tem responsabilidade solidária
no cumprimento dos direitos trabalhistas — vale dizer: ela também pode
arcar com o custo caso a empresa contratada ignore as prerrogativas dos
trabalhadores.
Cunha não
gostou da ameaça feita por Renan e disparou, então, a tal frase. E
anunciou: “A convalidação na Câmara vai andar no mesmo ritmo que a
terceirização no Senado”. Explica-se: no dia 7, os senadores aprovaram a
validade de benefícios tributários concedidos pelos Estados à revelia
da lei em vigor. Cunha, em suma, está dizendo: “Aprovem o PL 4.330, e
nós apoiamos a convalidação”.
Eis aí.
Está tudo errado. O projeto de lei que regulamenta a terceirização é um
avanço para o país; já a convalidação aprovada no Senado não passa de
uma esbórnia a serviço da guerra fiscal mais canhestra. A Lei
Complementar aprovada permite a quebra da unanimidade do quórum do
Conselho Nacional da Política Fazendária (Confaz) para convalidar
incentivos fiscais já concedidos pelos Estados sem ratificação do
colegiado, como exige a Constituição. O projeto, aprovado por 63 votos a
favor, 7 contra e 1 abstenção, terá de ser submetido à Câmara dos
Deputados.
Então
vejam: em nome da racionalidade, a Câmara deveria vetar a Lei
Complementar provada no Senado, e o Senado, endossar o projeto de lei
provado na Câmara. Infelizmente, como se vê, não será assim. O preço da
aprovação da terceirização pode ser a aceitação de uma aberração fiscal.
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