Em dia de trabalho em loja de bijuterias na Saara, irmão de Bretas vê 'ameaça clara' de Cabral
Márcio Bretas, que trabalha há 30 anos com o pai, afirmou que juiz pediu atenção redobrada à família
Marcella Ramos - O Globo
Loja de bijuterias no SAARA da familia Bretas. A média de preços é R$ 5. - ANTONIO SCORZA / Agência O Globo 
No centro do bate-boca que levou à ordem de transferência de Sérgio Cabral para um presídio fora do Rio, a família do juiz Marcelo Bretas entendeu uma "ameaça clara" nas palavras do ex-governador. Em audiência na segunda-feira, Cabral disse que Bretas deveria saber que não é possível lavar dinheiro com compra de joias e que o juiz deveria saber disso, porque sua família atua no ramo de bijuterias. Depois disso, Bretas atendeu a pedido do Ministério Público para transferir o ex-governador. (ASSISTA AO VÍDEO DO BATE-BOCA)
Na manhã de terça-feira, um dia depois da discussão, a família de Bretas trabalhava normalmente na loja da família. Num prédio que ocupa dois andares numa das principais ruas do Saara, Márcio Bretas, irmão mais novo de Marcelo e responsável junto ao pai pela loja de artigos para bijuteria, está receoso a respeito do que pode ter significado a colocação do ex-governador, em tom de ameaça ao seu ver.
— Depois da audiência, o Marcelo enviou uma mensagem para os irmãos pedindo para mantermos a calma, mas redobrarmos a atenção — contou ao GLOBO.
— Quem está de fora pode não entender, mas a gente recebeu a menção como uma ameaça clara. Hoje eu estou olhando mais para os lados, estou receoso. Mesmo preso, ele ainda é poderoso. Talvez seja uma ameaça branca, mas não tem como saber.
Márcio ressalta que o maior receio é que Cabral possa ter outras informações pessoais da família, como o endereço residencial, por exemplo.Imitando ouro, arame dourado e argolas são vendidos por R$ 4,00 e R$7,50, respectivamente - ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
UMA JOIA COMPRA A LOJA TODA
No depoimento, o ex-governador do Rio afirmou que a loja era a maior do ramo no Estado do Rio. O patriarca da família, o senhor Adenir Bretas, mantém a loja naquele endereço há 14 anos. Márcio começou a trabalhar com o pai aos 15. Hoje, aos 45 anos, ri da afirmação de Cabral.
— Olha em volta, parece um negócio milionário? — pergunta, apontando para as altas prateleiras que dividem as peças diferentes em pequenos nichos.
— Com o valor de uma joia daquelas, ele consegue comprar a loja toda. Ficamos sem entender a comparação.
A loja reúne milhares de pequenos pacotes de plástico com miçangas e artigos para produção de peças de bijuteria. Os 20 funcionários são responsáveis por separar e empacotar as miniaturas que vêm em sua maioria da rua 25 de Março, em São Paulo. Os pacotes mais caros chegam aos R$ 30. Márcio indica os fios de bolinha de vidro que imitam cristais swarovski como um dos artigos mais valiosos. Os clientes, em sua maioria vendedores de feirinhas de artesanato, podem comprar cada um por R$ 9,90. O valor total das joias do casal Cabral que foram apreendidas pela Polícia Federal ultrapassa a faixa dos R$ 10 milhões.Valiosas. O fio com bolinhas de cristal é um dos artigos mais caros, pode ser comprado por R$9,90. - ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
TRÊS GERAÇÕES DE BRETAS
Aos 75 anos, o senhor Adenir, pai de quatro filhos, incluindo Márcio e Marcelo, começou a trabalhar na adolescência, assim como a prole. Márcio explica que o trabalho de comércio das pequenas peças é normalmente passado de pai para filho, por ter um alto teor de complexidade. O primogênito de Márcio, que já está na faculdade, também trabalha na loja com o pai e o avô, que, mesmo com idade avançada, ainda vai para a loja diariamente, mas já não mantém um horário fixo.

Ele conta que os filhos preferiram não preocupar Adenir com a afirmação de Cabral e que preferem não explicar direito algumas notícias sobre o filho famoso que o pai simplesmente não compreende. A mensagem pedindo atenção dobrada que Marcelo enviou não foi para o grupo da família no Whatsapp, só para os irmãos. Mesmo que orgulhosos do filho que realizou o sonho da mãe de ter um advogado na família, os parentes têm receio das ameaças que vêm junto com a profissão.
— Quem tá de fora sempre nos parabeniza e diz que devemos ser muito orgulhosos. Somos, mas ficamos com uma preocupação tão grande, que ela se torna muito superior ao orgulho.