Dallagnol: 'Ministros do STF soltam e ressoltam corruptos poderosos'
Para procurador da Lava-Jato, dinheiro de propina continua circulando em malas
Dimitrius Dantas e Gustavo Schmitt - O Globo
O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, voltou a criticar nesta terça-feira as movimentações do Supremo Tribunal Federal (STF)
para rever entendimentos a favor de réus da operação. Segundo ele, os
ministros "soltam e ressoltam" corruptos poderosos. Para Deltan, a
postura de "ministros do STF" contribui para o desânimo da população em
relação à luta contra a corrupção.
— Dinheiro continua circulando em malas anos depois do início da
Lava-Jato. Regras são gestadas no Congresso Nacional para beneficiar
políticos. Ministros do Supremo soltam e ressoltam corruptos poderosos.
Regras estão sendo gestadas no Supremo Tribunal Federal que implicarão
enormes retrocessos na luta contra a corrupção — disse Deltan.
As declarações foram dadas no evento "Mãos Limpas e Lava Jato",
organizado pelo Centro de Debate de Políticas Públicas e pelo jornal "O
Estado de S. Paulo". Além de Deltan, também participam do encontro o
juiz Sergio Moro e dois ex-procuradores que atuaram na operação Mãos
Limpas, da Itália, que serviu de inspiração para a Lava-Jato.
O procurador negou que a força-tarefa adote um discurso
salvacionista. Segundo ele, a Lava-Jato é um ponto fora da curva no
combate à corrupção, já que, diz Deltan, 97 em cada 100 casos de
corrupção terminam impunes.
Para Deltan, "é preciso ir além da Lava-Jato". O procurador defendeu
abertamente que os eleitores escolham candidatos que apoiem um pacote
anticorrupção. Deltan chegou a citar que entidades civis estão se
organizando para criar uma nova série de propostas para mudar as regras
de combate aos crimes contra a administração pública.
ESCOLHA DE POLÍTICOS
— A estratégia não é mais
colher assinaturas. A estratégia agora é escolher senadores e deputados
federais que tenham um passado limpo, que tenham compromisso com os
valores democráticos e apoiem esse projeto anticorrupção — disse.
Deltan falou após dois ex-procuradores da Operação Mãos Limpas. A
operação é considerada uma inspiração para a Lava-Jato, que adotou
alguns dos métodos da Mãos Limpas, como a utilização de prisões
preventivas, acordos de colaboração premiada e publicidade processual.
A Operação Mãos Limpas, no entanto, terminou após políticos italianos
aprovarem leis que afrouxaram as regras de combate à corrupção, temor
dos procuradores do Brasil. Para Gerardo Colombo, que atuou como
promotor na Itália, a operação também perdeu apoio da população quando
crimes comuns de corrupção passaram a ser investigados.
— As provas nos levaram à corrupção de pessoas comuns, policiais,
fiscais. Encontramos não apenas corrupção entre os de cima mas também
entre os de baixo — disse Colombo, que concluiu: — O sentido da
impunidade se fortaleceu (com o fim da Mãos Limpas). Pelo menos antes
quem corrompia ou se fazia corromper pelo menos tinha vergonha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário