Rodrigo Constantino
Faz tempo em que tento mostrar que
liberalismo não precisa ser sinônimo de libertinagem ou relativismo
moral, e que tampouco deve ficar restrito a uma defesa do livre mercado,
com foco totalmente econômico. Por conta desse esforço, fui acusado por
alguns “liberais” até de “reacionário”, tática que a esquerda costuma
usar em “debates”. Não ligo. Tenho a convicção de que luto a boa luta.
Edmund Burke, o “pai do
conservadorismo”, era um liberal Whig, mas teve o bom senso de perceber o
risco jacobino e pregar prudência, cautela. O liberal de hoje pode ter o
mesmo pragmatismo, entender que o pêndulo do “liberalismo” extrapolou
para um viés “progressista”, e se dar conta da guerra cultural em curso.
Um liberal moderno pode muito bem beber de fontes conservadoras para
uma síntese, sem se tornar reacionário por isso.
Ao ler o excelente artigo
de Flavio Rocha, dono da Riachuelo, publicado hoje na Folha, aplaudi de
pé. Rocha é não só um ícone do empreendedorismo no país, que tem
comprado brigas corajosas com o estado, como é associado ao movimento
liberal. Nem por isso ele ignorou o aspecto moral e a guerra cultural,
citando inclusive Gramsci. O liberal que achar que a esquerda ainda usa
métodos leninistas será facilmente sua presa. Diz Rocha:
Não me
interessa aqui discutir eventuais méritos artísticos. Não vou também
fazer a crítica moralmente conservadora. Meu respeito pela diversidade
não se resume a palavras: a Riachuelo é a empresa que,
proporcionalmente, mais emprega transgêneros no país e a primeira a
permitir que as pessoas sejam identificadas, no crachá, pelo nome social
que escolheram.
A questão
não é essa. Se venho a público, expondo-me à patrulha ideológica
infiltrada nos meios de comunicação, é para denunciar tais iniciativas
como parte de um plano urdido nas esferas mais sofisticadas do
esquerdismo -ameaça que, não se enganem, é tão mais real quanto elusiva.
Exposições
são só um exemplo. Há muitos outros: associação de capitalismo e
picaretagem na dramaturgia da TV; glorificação da bandidagem glamorosa;
vitimização do lúmpen descamisado das cracolândias; certo discurso
politicamente correto nas escolas.
São todos
tópicos da mesma cartilha, que visa à hegemonia cultural como meio de
chegar ao comunismo. Ante tal estratégia, Lênin e companhia parecem um
tanto ingênuos. À imensa maioria dos brasileiros que não compactua com
ditaduras de qualquer cor, resta zelar pelos valores de nossa sociedade.
Ele está certíssimo! Quando o MBL, um
movimento também liberal, compra a briga com Caetano e companhia, não é
por ser “reacionário”, mas por defender valores morais básicos que a
imensa maioria dos brasileiros concorda. Combater a pedofilia disfarçada
de “arte”, a agenda de degradação moral promovida pelos “progressistas”
e a ditadura do politicamente correto é defender o liberalismo.
Infelizmente, nem todos os liberais se
deram conta disso ainda. Gustavo Franco, quem admiro e que claramente
migrou mais para o lado liberal nos últimos anos, inclusive abandonando o
PSDB e integrando o quadro do Partido Novo, disse em entrevista recente
na IstoÉ Dinheiro que o liberalismo não pode ser confundido com a
direita ou o conservadorismo, e apresentou um argumento equivocado para
tanto:
As ideias liberais não são muitas vezes relacionadas a movimentos de direita, conservadores?
É importante
esclarecer que uma coisa não tem nada a ver com a outra. A maioria das
pessoas comprometidas com os ideais de economia do mercado não tem nada
que ver com o pensamento conservador. Nos Estados Unidos, a palavra
liberalismo se associa às pessoas que têm a cabeça pró-mercado e são
liberais nos costumes. É assim que vejo o Novo, com a ideia de liberdade
como seu principal eixo.
Nos Estados Unidos, faltou dizer, o conceito liberalismo foi usurpado pela
esquerda, e hoje temos até um socialista como Bernie Sanders se dizendo
um “liberal”. Os “liberais” americanos, como Obama e Hillary Clinton,
não defendem livre mercado, mas sim um intervencionismo crescente do
estado não só na economia como em tudo mais. Se o Novo for se inspirar
no Partido Democrata, então ele irá escorregar inevitavelmente para a
esquerda.
São “progressistas” que defendem algum
grau de livre mercado, e ponto. Entendo o receio de ser associado à
direita num país como o Brasil, onde a esquerda hegemônica faz lavagem
cerebral há décadas ligando direita ao regime militar, que foi
positivista e criador de estatais. Com base no monopólio da virtude, ser
de direita ou conservador virou sinônimo de ser “ruim” e defender
ditadura. Mas não é nada disso.
O máximo da “direita permitida” no
Brasil é o PSDB, que é… de esquerda! São todos “liberais” no sentido
americano, usam como fonte de informação apenas a CNN, o Washington Post
e o NYT, quando não a ultraesquerdista MSNBC. Defender os bons
costumes é coisa de “reacionário”, e todos morrem de medo da pecha. Daí a
postura defensiva.
A liberdade não sobrevive num vácuo de
valores morais. Quando o liberal entende isso, e percebe como a agenda
“progressista” vem minando deliberadamente esses valores, ele pode muito
bem comprar a briga cultural também, condenar os movimentos que falam em
nome das “minorias”, mas vendem no fundo socialismo mascarado. O
liberal não precisa ser um amoral, ou ficar indiferente diante da
perversão “progressista”.
E ofereço um argumento forte para que esses liberais saiam do armário quanto a isso: não importa o que vocês
falem, já serão acusados de qualquer jeito pela esquerda radical de
“reacionários” ou coisa pior, como “fascistas” ou “nazistas”. É o único
“argumento” deles. É o que restou a eles, e também parte da tática
gramscista: tudo aquilo que não for comunismo só pode ser fascismo.
Portanto, não tenham medo dos rótulos
dados por comunistas. Façam como eu, que fico até orgulhoso deles. É
sinal de que estou no caminho certo…
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