segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Alguns livros bons, para aqueles que já estão de folga!
"Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosh" - Henry Miller
"On the Road" - Jack Kerouac
"Na Natureza Selvagem" - Jon Krakauer
"Conversa na Catedral" - Mario Vargas Llosa
"O Elogio da Sombra" - Jorge Luis Borges
"Viagem a Ixtlan" - Carlos Castanheda
"Poesia Completa" - T. S. Eliot
"Walden - ou a vida nos bosques" - Henry D. Thoureau
"Matrimônio do Céu e do Inferno" - William Blake
"Canções da Inocência e da Experiência" - William Blake
Sobre o Amor IV - Plotino
Aqueles que desejam aquela espécie de imortalidade que a natureza mortal comporta esses buscam o belo na perpetuidade das gerações, e, se seguem o caminho da Natureza, fecundam e procriam na beleza:assim, procriando em vista da perpetuidade, procriam no belo, devido à afinidade da perpetuidade com a beleza. De fato, o que perdura eternamente tem uma afinidade com a beleza. A Natureza eterna é a primeira forma de beleza; e as coisas que provêm dela também são belas.
Sobre o Amor III - Plotino
Aqueles que têm um amor puro pela beleza satisfazem-se com a contemplação da beleza, quer tenham ou não a reminiscência da beleza arquetípica.
Sobre o Amor II - Plotino
No caso do amor sexual há o desejo de procriar na Beleza, pois é absurdo supor que a Natureza, cujo desejo é produzir coisas belas, queira se produzir a feiúra.
É verdade que para aqueles que se sentem impelidos a procriar aqui embaixo basta possuir a beleza daqui debaixo: a beleza que está presente nos corpos. A beleza arquetípica lhes é estranha, embora seja ela que inspire neles o amor pela beleza terrena.
Sobre o Amor - Plotino
O Amor é um estado (pathos) de alma.
O estado de alma que corresponde ao amor, ninguém desconhece que ele nasce nas almas desejosas de se unirem a alguma coisa bela.
Não erraria quem estabelecesse como princípio e causa de estado de alma a tendência inata da Alma à Beleza em si, que se deve ao fato de originalmente a Alma conhecer a Beleza, ter afinidade com ela e ter consciência de tal afinidade, pois a feiúra é contrária à Natureza e a Deus. A Natureza cria tendo em vista o Belo, tendo em vista a proporção, que são aspectos provenientes do Bem.
A Natureza tem sua origem no alto, isto é, no Bem, e portanto, no Belo.
Sobre o Belo II - Plotino
O que faz com que a visão vislumbre a beleza do corpo e a audição seja tocada pela beleza dos sons? Por que tudo o que está relacionado à Alma é belo?
Sobre o Belo - Plotino
O Belo dirige-se principalmente à visão; mas também há uma beleza para a audição, como em certas combinações de palavras e na música de toda a espécie, pois a melodia e os ritmos são belos. As mentes que se elevam para além do reino dos sentidos encontram uma beleza na conduta de vida: em atos, caráteres, bem como a encontram nas ciências e nas virtudes.
domingo, 28 de novembro de 2010
Dicas de literatura
O prêmio Jabuti dado a C. B., e a polêmica criada em torno dele, acabou deixando um livro, muito bem escrito, do genial Edney Silvestre, "Se eu fechar os olhos agora", eclipsado. O que é uma grande injustiça.
Mas nesse país tão serviçal, não foi algo fora do normal.
A maior parte dos críticos, que conferiram o prêmio ao compositor de músicas (há quanto tempo ele não faz algo decente, digno da sua história), são escritores ressentidos com o surgimento desse novo valor, que sempre primou por ser uma grande conhecedor de literatura.
Ver, ouvir & entender Edney Silvestre é um prazer intelectual que me lembra o saudoso Paulo Francis.
Combate ao tráfico no Rio de Janeiro.
Muito me assusta, quando eu vejo alguém dizendo que foram os oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, o responsável pela situação vivida agora.
Mentira. Eu morei no Rio de Janeiro na década de 80 e via a degradação acontecer a olhos claros. Pichações, locais que não podiam ser visitados sem pagar "seguro".
O fato é que nenhum governador fez nada. Nem presidente. Dar chance para bandidos escolherem o que eles acham o que é melhor para eles?
Bandido bom é aquele que está morto.
Não é porque não tenho dinheiro é quea minha inserção no crime está, socialmente justificada.
Morte a todos esse criminosos. Tolos são vocês que acreditam na recuperação desses monstros!
Espere ele pegar um dos seus parentes. Depois, fale comigo.
Voltaremos a falar sobre isso.
Nova fraude no Enem
Leio, mísero caipira de Araçatuba, em exílio nas terras distantes, que há a possibilidade de uma nova fraude ocorrida na prova do Enem. Em Pernambuco (Petrolina). Se, um aluno de Petrolina (Pernambuco) ^conseguiu fraudar essa porcaria de prova governamental, algo deve ser mudado. Imediatamente. A minha geração já pôs o nariz de palhaço e ficou feliz. Na desejo que esta faça a mesma coisa. Pelo bem do país.
A democracia levou, por vias tortas, Atenas, tão bela, à ruina.
Atenas, no século V a. C., estendeu o voto aos cidadãos atenienses. Foi o início da sua ruína. Manipulada por políticos demagogos, que só diziam idiotices na Ágora, ela viu o seu sonho ruir.
Diante de uma bemformada Esparta, que mantinha, em certo nível, o mito das raças contado por Hesíodo.
Não é à toa, que Sócrates, Platão e Aristóteles desprezavam a democracia.
Hoje, faltam-me palavras.
Legislar em assuntos que são privados, como por exemplo o casamento entre homossexuais ou o aborto, não levará ao Brasil um grande desenvolvimento.
Enquanto isso, as riquezas da Nação, continuam a ser saqueadas.
O de sempre.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
EDUCAÇÃO: o Zimbábue é aqui III (educação, essa coisa inútil).
O "sinistro" da educação não foi para a África com o molusco.
Precisou ficar nesse país, que é a minha PÁTRIA, para explicar o que aconteceu com o Enem.
E nem (desculpe-me o trocadilho) ele sabe do que se trata.
Ou se faz essa prova de novo, com iguais condições para todos, ou vamos aboli-la (por que parece que tem "treta" - adoro essa palavra, que os meus alunos diziam sempre).
Chuto, esculacho mesmo.
Mande o ministro da educação fazer essa prova.
Ele não será aprovado.
Lembre-se: quem ocupa cargo público está exposto a críticas...
Sinistro, muito sinistro...
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
EDUCAÇÃO: Zimbábue Now!
É deprimente, quando nós chegamos à segunda-fera, após dois dias estressantes de provas mal preparadas, mal formuladas e mal aplicadas pelo INEP(responsável pelo Enem). A educação continua sendo tratada pelo governo como lixo. O ministro da educação acompanha o presidente do G.R.E.S. Brasil à África, para fazer o quê? Copiar modelos de ensino? E como fica aquele que estudou com afinco para essa avaliação do Enem?
A nota emitida pelo INEP disse que os alunos que estão reclamando são aqueles que já haviam "dançado" nas provas e que agora queriam tumultuar o ambiente. E ameçava processar os estudantes por esse tumulto causado nas redes sociais. Ora, as redes sociais se transforaram na tábua de salvação de um país podre. Onde alguns poucos que, não possuindo o rabo preso, podem reclamar e espernear à vontade. Isso daqui ainda é uma DEMOCRACIA. E nós temos o direito de criticar, espernear e reclamar à vontade!
E esses milhões de reais, gastos com a aplicação dessa prova porca, onde foram parar?
Não prestei a prova, mas lecionei durante 25 anos e me identifico com as pessoas que prestaram. E é em solidariedade a elas e à Justiça que eu reclamo, protesto e percebo que vou ficar mais quatro anos baixando o sarrafo nesse "polvo" que se assenhorou do poder de decidir o futuro da Nação.
sábado, 6 de novembro de 2010
A MONTAGEM DO ESTADO TOTALITÁRIO.
Em 09/5/1991, no jornal O Estado de São Paulo, o jornalista Paulo Francis comentava: "Os efeito (da censura) sobre a educação universitária americana têm sido tétricos."
Ele reclava do abandono ou censura que alguns autores estavam sofrendo naquele país. Até em universidades como a de Stanford.
Há uma espécie de Index, relacionando livros "politicamente incorretos": a lista dos "dead white males", machos, brancos e mortos.
Costam Homero, Virgílio, Dante, Shakespeare, Volteaire, Molière, Racine, Melville, Mark Twain...
Herman Melville, teve o seu romance censurado por feministas e ecologistas, "Moby Dick": no baleeiro Pequod, do capitão Ahab, não há mulheres, só homens! As feministas queriam o quê? Uma mulher no comando do navio? Arpoadora? Zagueira, no time masculino do Timão?
Os ecologistas protestam contram o livro: o romance narra uma caça à baleia (Moby Dick).
Até que seria engraçado um baleeiro que não caça baleias...
Mark Twain escreveu o livro Hckleberry Finn. Foi taxado de racista. Huck foge com um amigo, escrevo, negro, chamado Jim. Várias vezes ele chama Jim de negro (não havia nenhum sentido pejorativo nisso). Mas foi o suficiente.
Hoje, o Conselho Nacional de Educação resolveu "censurar" a obra de Monteiro Lobato.
Isso acontece, graças à um "cerumano", que faz mestrado em Brasilia e viu nas venturas do Sítio do Picapau Amarelo, tons racistas, (a boneca Emília chama a Tia Nastácia de negra beiçuda, fala em pretura, etc). E o Pedrinho é um caçador (que crime!).
Enquanto isso, o Brasil apresenta um nível de qualidade na educação que o remete ao quarto mundo, sem escalas.
EDUCAÇÃO - O Zimbábue é aqui
Em tempos de Enem: no relatório da ONU (tem gente que acha que isso é nome de sabão em pó), a educação foi um fator que contribuiu para que o país não avançasse mais no ranking do IDH. Estamos entre os piores do mundo, fazendo parceria com o Zimbábue, o pior país em IDH do planeta.
O ministro da educação, Fernando Hadad, foi à imprensa dizer que não é bem assim. Claro que não é! É pior! Uma amiga que se formou recentemente em História, numa ótima faculdade, listou uma série de reclamações e não vê boas perspectivas no campo profissional.
Caminhamos a passos largos em direção às trevas.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Que falta o PAULO FRANCIS faz!
Lendo a entrevista dada pelo Arnaldo Jabor na "Playboy" e as suas crônicas na "Folha de São Paulo", as crônicas do Diogo Mainardi na revista "Veja" e as crônicas do Daniel Piza, no "O Estado de São Paulo", percebo que somos todos órfãos do Paulo Francis.
O que ele diria, nessa altura do campeonato, do Brasil e a sua política (tanto interna, quanto externa)?
Que política é uma coisa movediça, isso lá é verdade. Mas não precisava ser tão movediça!
O que acontece?
Agressões, denúncias sem fundamentos, dossiês fantasmas, estatais financiando propagandas políticas e se recusando a mostrar despesas...
Só espero que um senhor muito velho e barbudo venha logo construir uma enorme barca, pois pressinto a chegada do dilúvio e, gostaria de estar dentro dela quando ele chegasse.
BEIJOS - Curso avançado - quem precisa?
Beijar, agradar & não pegar sapinho.
A última Women's Health traz, numa matéria bem rápida, as formas mais sensuais de se beijar uma pessoa. Cool!
Funciona.
Na verdade, se feito com capricho não há ninguém que resista:
"Você poderia ter sido/qualquer uma para mim/Antes daquele momento/quando beijou os meus lábios/Aquele sentimento perfeito." Neil Young.
Mas a teoria deve ser comprovada pela prática. O que você está esperando? Mãos (ou lábios, oops!) à obra. Espero praticar muitas vezes as várias formas com a minha menina, Dominiquea.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Women's Health
Deusdocéu! (tudo junto que é para criar impacto).
A revista parece ser feita para um certo segmento de mulheres.
Não é.
Ela foi feita para as mulheres que querem o melhor para si. Saúde.
O bem mais precioso que trazemos conosco e, que às vezes, disperdiçamos sem dar o devido valor.
Uma amiga, que é um pouco mais "cheinha" e foge dos padrões da capa da revista, contou-me que não lê a revista, intimidada pela beleza das modelos que estampam mensalmente a capa.
Bobagem.
Leia a revista.
Emagrecer é uma questão de hábito alimentar.
Algumas vezes, é uma disfunção hormonal.
Em 99% dos casos a obesidade é causada pela má alimentação (junk food).
Se, no mês passado, ela me surpreendeu, a revista, não a minha Lioness, com um artigo sobre o comportamento sexual, agora ela traz um manual sobre como beijar um homem.
Só espero que isso não se torne uma coisa mecânica.
Sexo, antes era antecedido pela sedução.
Onde ela foi parar?
Mulheres - Nova
A revista consegue continua a ser a mais inteligente das revistas femininas.
A deste mês traz artigos interessantes.
O que fala sobre "Os seis tipos de mulheres para quem os homens não conseguem dizer não", é bem verdadeiro. Quem é homem, sabe que é verdade.
A verdade é que queremos ser seduzidos.
Consegui "encaixar" minha Lioness, num desses tipos citados pela revista.
Não vou contar para ela. Dominiquea.
O que me espanta é que, numa época onde a comunicação eletrônica nos permite estarmos tão próximos, nunca estejamos tão distantes.
Deve ser por isso que os relacionamentos, hoje em dia, se tornaram fugazes, como a fumaça de um cigarro.
Pena.
Macharia de plantão
Durante a "semana do saco cheio", fiz um encontro entre "um cínico e os três canalhas" (eu sou o cínico). Concluímos, que a melhor série de TV chama-se "Californication". Nem um pouco "politicamente correta", para variar.
Se ela fosse realizada no Brasil, seria um escândalo.
Os "intelectuais" da USP e outros "quintais" cairiam matando.
Mas ela foi feita nos EUA.
Podem dizer o que for dos norte-americanos, mas eles são os responsáveis pela democracia em todo o continente americano.
Já imaginou uma democracia à la Fidel Castro?
Ou à moda do chefete Chavez?
Descendo a profundezas abissais, Evo Morales?
O Marco Aurélio Garcia, braço direito de uma certa criatura do mar que tem sonhos de estadista, disse desconhecer o caso do chinês agraciado pelo prêmio nobel da paz.
Disse que o candidato dele era aquele índio da Bolívia!
Ok.
Nada contra os indígenas.
But...
Cada um na sua oca.
Droga!
Comecei falando da série Californication e acabei dizendo sobre política.
Política é sempre um assunto polêmico.
A eleição, na década de 50, do rinoceronte "Cacareco", e as mais recentes, do Clodovil (R.I.P.), do F. Aguiar (?), do Romário, do Tiririca, mostram insatisfação & ignorância.
Araçatuba não elegeu ninguém.
Tiririca teve nessa cidade 6.000 votos, me dizem.
No próximo ano ela não terá recursos do estado, porque não possui representantes no Legislativo. Li isso numa das vezes que estava em Ata, na "Folha da Região".
No dia 04/10 eu estava em Rio Preto e os jornais locais comemoravam os eleitos da cidade.
Bateu uma inveja...
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Dicta & Contradicta
A revista deste semestre começa entrevistando o maior poeta vivo do nosso país: Ferreira Gullar.
Os entrevistadores, Martim Vasques da Cunha, Guilherme Malzoni Rabello e Renato José de Moraes, demonstraram, pelo nível das perguntas realizadas, que conheciam o poeta e a sua obra.
Isso pode parecer num primeiro momento uma coisa óbvia. Mas em se tratando de Brasil, não é não.
Já perdi o número de vezes em que o entrevistador não sabe nada do entrevistado. Em que a matéria fica imprestável. E uma oportunidade interessante de se conhecer melhor o entrevistado acaba sendo desperdiçada em bobagens.
Chamou a atenção, de quem leu a entrevista, o fato do poeta ter feito um "mea culpa" quando aborda o tema referente à sua militância política no passado. Hoje, ele se arrepende de ter feito parte da "esquerda" e não só critica a si mesmo como critica também os seus "companheiros".
Concluiu, afinal de contas, que o socialismo desejado não levaria nada a lugar algum. Dá como exemplo as ditaduras de Cuba e da extinta União Soviética.
O caos implantando pelo socialismo foi inevitável. Os governantes tinham tudo e o povo passava fome.
O que me surpreendeu foi a sua abordagem do golpe que depôs o presidente socialista do Chile, Salvador Allende. Ele culpa a esquerda pela queda do presidente. Segundo ele, faltou bom senso, equilíbrio nas ações promovidas pelos socialistas no período que antecedeu o golpe.
Poucos homens no Brasil teriam a coragem de assumir os erros cometidos no passado como Ferreira Gullar fez.
A minha admiração, que já era grande (devido à qualidade da sua poesia), só aumentou.
Quando os anjos caem primeiro
Após um logo hiato provocado pela finalização, edição e publicação do meu livro, volto a escrever neste espaço novamente.
Nada como escrever sobre os assuntos que mais te apetecem.
Muitas pessoas perguntaram para mim, se aquilo que escrevi tem fundamento histórico ou tudo não passa de ficção.
Então me proponho a explicar isso agora.
eu não queria escrever um livro didático (não tenho saco para isso), no entanto, escrevi um livro real, orgânico, onde o personagem principal pode ser encontrado em cada um de nós.
Coloquei o Ashe, a Úrsula e o Rael em lugares belíssimos como Menorca, Veneza, Florença, Cinque Terre vivendo situações repletas de ação, de aventura. Os lugares, que eu já visitei, estão lá como descrevi no livro. Já as ações...
Não queria escrever sobre sertão nordestino, caatinga, pobreza e ignorância. Deixo a estética da pobreza para os pobres e ignorantes de espírito.
Escrevi sobre sexo.
Nada de politicamente correto. O politicamente correto matou a arte da sedução. Ashe & Úrsula formam um casal literalmente explosivo seja na cama ou na justiça que eles promovem por conta própria, pois a nossa é cega e está sempre atrasada...
Escrevi sobre ação.
Descrevi várias armas, da faca de arremesso, arco e flecha até armas de fogo sejam armas de mão, rifles e metralhadoras, até escopetas.
Todas essas armas existem de verdade.
Mas ambientei a ação em lugares bonitos, à exceção de havanha, é claro.
Nada de falar em morro, tráfico e favela. Quem gosta disso são os intelectuais de esquerda que se masturbam e têm orgasmos quando falam disso.
O próximo livro, The Peacemakers (Os Pacificadores) eu descrevo algumas ações do protagonista num morro do Rio de Janeiro. Mas em momento algum ele tenta "compreender" os bandidos. O objetivo do protagonista é um só: matá-los.
Não espere em momento algum dos livros uma moral do protagonista, pelo simples fato de que ele não possui moral alguma.
Leia e se divirta.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Letter I
SE você continuar me assediando, quero lembrá-la que isso é crime. Você liga para um celular que é só meu. Vou processá-la por assédio. Não tenho medo de "bruxas" e olha que você é feia! Calabreza, eu gosto de comer na pizza. Tô de saco cheio de escutar os teus telefonemas.
Se você, como professora que diz ser, está com tédio e não consegue ensinar para os alunos da faculdade onde você leciona, eu receito um remédio , pela palavras do Tom Zé, eu te recomendo o dedo médio. Caso ainda tenha a pachorra de me assediar, vou processá-la.
Você nasceu burra, ou aprendeu com a idade, não sei.
Há um provérbio, mas eu acho que vc não passa das novelas da Globo, eu sou capaz de "Se não posso mover os céu, moverei, então, o INFERNO".
Espero que seja a última vez que vc vai ligar para mim.
Ou vou começar dar nome às pessoas.
Você compreende, ou é estúpida demais para isso.. não sei.
terça-feira, 16 de março de 2010
La Petit Princesse des Tulipes II
Quase noite. Tomei três doses de dry martini, duas batidas de vodca e um conhaque. A tequila acabou na hora do almoço. Voltei para o apartamento. Fui até a caminhonete e peguei um cd player e uma pilha de cd's. Liguei o aparelho na tomada que servia para ligar o abajur no criado mudo. Comecei com Robin Trower tocando "Bridge of Sighs". Aí comecei a tocar todos os cd's, um por um. Pink Floyd tocando "Wish You Were Here", The Who, "Baba O'Riley", "Won't Get Fooled Again". Quando o cd do The Who terminou e eu me levantei da cama para colocar outro é que eu ouvi vozes na vandinha que havia na frente do meu quarto.
Abri a porta e dei de cara com uma manada de gente que estava curtindo as músicas que rolavam no cd player.
- E aí, old man! Só música boa! - Michelle falou.
- Antigas. As coisas mais antigas são as melhores. - respondi.
- Nunca tive um namorado mais velho do que eu.
- Estou falando de músicas.
- Ah! Parece que você gosta de tirar uma em mim.
- Você fala demais. Quem fala demais acaba dando bom dia a cavalo.
- Se você preferir ficar sozinho, nós vamos embora. Ou podemos ficar e fazer uma troca. Trouxemos "coisas". Mas o pessoal do hotel é careta. Queremos um lugar sossegado.
- Sem "brown sugar".
- A única coisa "brownish" sou eu e os meus olhos, querido.
- Tá ok, então. - falta só resolver a questão do seu namorado.
- Eu briguei com ele.
- No luau. - o resto da manada, que até agora não havia falado nada, se manifestou.
- Aliás, estou sem quarto. Ele me expulsou do dele. Espero que você me aceite como companhia.
- Isso implica em pagar os seus gastos no hotel, eu creio.
- Você não vai se arrepender. Imagine como se fosse um investimento.
- Ok. Traga as suas coisas para cá.
A manada fez uma cara de alívio.
Ficamos bebendo cerveja Skol e Heineken (que eles acharam muito amarga), um dos caras (Raul) trouxe um pequeno saco plástico com fumo e papelo para fazer nossos cigarros alternativos. Curtimos Joe Cocker cantando "With a little help from my friends" e nos animamos e cantamos também dos Beatles "Strawberry Fields Forever", aproveitei a deixa e toquei Siouxsie and the Banshees arrasando em "Christine - the strawberry girl" e "Happy house". As moças começaram a ficar "mais soltas". Com David Bowie veio a alucinação total: "Sweet Thing", "Alladin Sane", "All The Young Dudes" e "Rock'N'Roll Suicide". O niilismo tinha chegado ao topo. O som vinha, potente, da caminhonete, que levei até a porta do meu quarto.
Numa dessas horas entrei no banheiro o Raul (que trouxe o fumo) estava beijando um rapaz mais novo, chamado Murilo.
Michelle já estava muito doida. Levei-a para fora da varando, procurei a sombra cúmplice, longe de olhos e das luzes das lâmpadas da rua e a beijei. Subi minhas mãos
por debaixo e sua camiseta e seus pequenos seios empinados eram meus.
Após um tempo, ela pediu para dar uma entrada no quarto.
E isso se repetiu mais duas vezes. Levantei-me da lona que tinha improvisado para forrar o gramado e fui ver o que estava acontecendo: tinham colocado carreiras enfileiradas precariamente sobre o criado-mudo. Michelle estava cheirando uma.
- Sirva-se, querido. A mercadoria é da boa!
Cheirei uma, duas e voltei para a festa. Abri as garrafas de conhaque e levei uma comigo. O som que rolava era Jimi Hendrix: "Voodoo Chile", numa versão bem longa.
E eu me perdia entre solos de guitarra e o corpo de Michelle. Disse para mim mesmo: mantenha o ritmo. Morra, mas mantenha o ritmo!
Manti e não morri.
- Raul, põe pra tocar algo bem lisérgico, por favor!
- Tá Michelle, você e o seu namorado mandam hoje!
- Michelle. - falei.
- Diga querido!
- Quando o Raul falou em namorado, ele estava se referindo a mim... ou foi um mal entendido... - foi soltando as frases sem entonação.
A música começou e eu usei o nome dela para expressar a minha estranheza: "Feel Like a Stranger" - Grateful Dead.
- O meu universo é diferente do de vocês.
- Nem tanto. Somos alunos e você é professor. Habitamos o universo escolar. - respondeu entre risadas. Vamos entrar, que eu quero ver se ainda tem cerveja gelada. Se não tiver das nossas eu vou pegar uma Heineken. - disse.
Quando nós entramos no quarto, percebi que todos nós estávamos muito doidos.
Começou uma outra música do Grateful Dead, eles estavam nús, dançando. A Michelle foi até num amontoado de mochilas e tirou algo que não pude ver o que era. Levou a mão à boca e veio na minha direção e disse:
- Me beije agora, rápido, com a sua língua.
Beijei-a do jeito que ela pediu. Sua língua atrevida deixou colado no céu da minha buca um selo triangular. A música que tocava chamava-se "Dark Star" e durante a sua execução de vinte e cinco minutos, viajei. Good trip. Muitas cores, pessoas prateadas, o corpo de Michelle, prateado, se enroscava ao meu. Fazíamos sexo.
A Semana passou rápido. Rápido demais.
Os funcionários do hotel-fazenda ficaram cismados com aquele povo que ocupou os quatro últimos quartos daquela estrada, lonje da sede, lonje dos salões.
Alguns tomavam café da manhã, mas não apareciam para o almoço, enquanto que outros só apareciam para o jantar. - Deviam ser todos drogados! - pensavam.
Michelle já havia montado acampamento no meu quarto. Seus gastos eram debitados junto com os meus, para horror de algumas beatas.
Na hora da partida, eles me abraçaram. Menos Michelle. Ela tinha sumido.
Felipe, o ex- da Michelle já tinha ido embora faz tempo. A Carla, a Viviane e a Andréia procuraram Michele mas não ensontraram. Foram embora assim mesmo.
Acompnhei-os até à entrada do hotel-fazenda. Voltei já saudoso do meu jovem caso. Andando lentamente, tentando me acostumar novamente à minha sobra como única companheira, comecei a cantarolar "The End Of A Love Affair", e, como a voz rouca iria me fazer falta. Subi os degraus da escada até o quarto e quando entrei, Michelle estava lá, nua, sobre os lençois da cama.
Simplesmente ela disse:
- Resolvi viajar com você.
- Mas nós moramos em lugares opostos no estado!
- Resolvi morar com você, seu tolo.
- Michelle, você não sabe o ue está fazendo!
- Eu sei sim. Vem me dar um beijo de língua, rápido, porque eu tenho uma coisa para você.
sábado, 13 de março de 2010
La Petit Princesse des Tulipes
Batia a ponta da cigarrilha e a cinza não caía. Pensei: ela só vai cair quando eu me levantar da poltrona. Cairá no carpete, ou tapete, não me lembro bem. Só sei que ela ia cair. E isso era inevitável. E era uma porcaria ela cair no carpete/tapete. Não gosto nem de carpetes e muito menos de tapetes. Ainda mais se eles estiverem sujos de cinzas. Da minha cigarrilha.
Um sujeito barrigudo entrou na sala sorrindo. Acrescentei mais um item na minha lista: não gosto de carpetes, de tapetes e de capachos.
- A nossa empresa garante uma viagem agradável e uma estadia no hotel-fazenda cinco estrelas e o senhor vai descansar bastante. Ou não me chamo Antônio Carlos.
Pensei: Nossa empresa, de quem, cara-pálida... A empresa era da Simone, amiga de trabalho. Em situações como essas, ajo, como São Paulo fazia diante dos tolos. Faço uma cara alegre.
Dias atrás, a Simone disse que eu estava muito tenso, que precisava relaxar. Talvez porque fosse final de semestre, o frio do inverno ou porque eu estivesse muito sozinho depois que a Sininho partiu.
Acabei dando-me por vencido.
E agora estava escutando um monte de asneiras de um capacho que não sabe fazer um "O" com um copo redondo. Depois de tudo o que ele falou, percebi que era uma ratoeira: se eu fosse com o ônibus da agência não teria como voltar caso o ambiente não me agradasse.Dispensei o ônibus e fui com a minha caminhonete. Sozinho.
A Simone tinha deixado tudo preparado. Era uma imensa construção térrea, com apartamentos perto das piscina, do restaurante, do saguão. Existiam, ainda, apartamentos não tão próximos do "agito" e, seguindo um pouco mais de um quilômetro, numa estrada de terra sombreada por fileiras de grandes árvores de ambos os lados, existiam quatro apartamentos, antigas baias que viraram quartos. De madeira escura e com camas king size, banheiro completo, e frigobar.
Não tinha televisão, nem telefone e não tinha antena para celular. Em volta existia uma floresta plantada pelos antigos donos, uma estufa e um jardim. Aproveiram o clima mais frio e plantaram tulipas.
Sexta-feira. O hotel só para mim. os outros hóspedes só vão chegar mais tarde. Fui até ao bar. Ele ficava perto da piscina, que era grande e tinha mesas, cadeiras e espreguiçadeiras em torno.
Sentei numa cadeira de uma das mesas próximas do bar. Essas mesas eram de madeira e estavam debaixo de um caramanchão com trepadeiras de flores amarelas, vermelhas e alaranjadas.
Pedi tequila.
O bartender informou:
- Nós só temos a Sauza comum.
- Então, sirva uma dose e, num pires, limão e sal.
Aos poucos, os hóspedes foram chegando e quando o ônibus da companhia de turismo chegou o sol já estava se pondo.
Fui para o meu apartamento tomar um banho. E enquanto estava lá, escutei as pessoas ocupando os outros três que restaram.
À noite fui dar uma sacada em que de interessante tinha chegado. Da minha faixa etária ninguém. Quando você chega na minha idade, é difícil encontrar alguém atraente.
Em compensação, tinha um grupo de jovens. A juventude é uma dádiva que só damos valor quando já a perdemos para o sr. Tempo.
Uma das moças veio até ao bar onde eu estava. Queria para comprar cigarros.
- Lamento, mas não vendemos cigarros, disse o bartender.
- Eu fumo cigarrilhas. Estendi na sua direção a carteira de metal pintada com cores quentes, onde lia-se Café Crème.
Ela pegou uma cigarrilha e eu a acendi com o meu isqueiro descartável.
- Obrigada.
- Não há de quê.
Ela olhou para o bartender e disse:
- Eu quero a mesma coisa que ele.
- Tequila, limão e sal.
- Para mim está ótimo.
A moça, morena bronzeada vestia um biquini preto. Cabelos curtos, castanhos, voz rouca como Billie Holiday nos seus melhores momentos.
Billie Holiday... lembrei-me de I'm A Fool To Want You. Fiquei com um tremendo nó na garganta. Para disfarçar a minha dor acendi uma cigarrilha e pedi outra dose de tequila. Billie Holiday estava certa. Eu estava errado.
Voltei à realidade quando a moça pôs a mão direita o meu braço esquerdo.
- Já sei. Estava me imaginando nua! Não tem importância, eles também ficam imaginando isso.
Disse isso e apontou seus amigos jogando uns aos outros dentro da piscina.
Não devo ter feito uma cara muito legal, porque ela falou:
- Desculpe. Era uma brincadeira tola.
- Tola. - repeti automaticamente.
- A propósito, meu nome é Michelle, com dois "L", como a música dos Beatles.
- O meu é Oliver.
- Diferente.
- Quando nasci, os meus pais moravam na Europa e estavam a passeio no Brasil.
- Que azar!
- Não entendi.
- Ter nascido no Brasil.
- É.
- Nós vamos fazer um luau. Está convidado. Você e a sua esposa.
- Não tenho esposa.
- Por isso que eu digo: casamento hoje não vale nada! As pessoas se separam do mesmo jeito.
- Ela morreu.
- Ah, tá. Tô sem graça agora.
- Me dá um beijo.
- Na boca..
- Na boca.
- Mas o meu namorado não...
Beijei-a antes que terminasse a frase.
- Agora, vá brincar com o seu namorado no luau.
Bonitinha, pensei.
No sábado, após o café da manhã, voltei para o meu apartamento.
Eu tinha carregado a caminhonete com seis embalagens com doze latas cada de Heineken e duas garrafas de conhaque Macieira.
Algumas cervejas já estavam geladas (foi a primeira coisa que fiz quando cheguei, colocar cervejas no frigobar).
Abri uma lata gelada. Olhei no relógio e ainda não eram onze horas, mas dane-se, estava de férias. A Heineken gelada desceu maravilhosamente bem.
No momento em que ia abrir a segunda lata, para a "primeira não ficar sozinha", a moça chamada Michelle apareceu.
Tinha acabado de acordar e tinha perdido o café da manhã. O namorado ainda estava dormindo. Ele passou mal e estava de ressaca.
- Formidável! - disse.
- É porque não foi com você! - choramingou.
- São vocês que estão no apartamento ao lado, eu creio.
- Nós dois.
Estendi uma lata de cerveja para ela.
- Não. Eu não tomei café da manhã.
- Nem vai tomar.
E fiz um gesto em direção ao frigobar.
- Espera! Eu quero. Afff! Você leva tudo tão a sério!
- Tá aqui. - dei-lhe a lata de cerveja.
- Ontem você me beijou na boca!
- Não foi nem de língua! Mais um pouco e você ia ver só!
- Você é doido! Se eu contasse para o meu namorado...
- Que está numa ressaca velhaca, é um moleque e não sabe beber.
- Mas você estava bêbado.
- Não estou de ressaca e tomei o café da manhã. E não contou para o namorado, porque você não gosta dele e porque foi gostoso beijar-me na boca.
- Tome, aqui está outra lata. Fique feliz e volte para o seus quarto para ver se o seu namorado não morreu de overdose.
quinta-feira, 11 de março de 2010
Sapos III
Na semana passada, fomos num bar chamado Madeleine que fica na rua da minha casa mesmo. Em plena agitação da Vila Madalena, caiu como um maná dos céus. Mesinhas redondas, jazz, comida boa e uma carta de vinhos decente. Ficamos numa das mesinhas próximas do bar e da banda de jazz.
Escolhi um vinho chileno, que foi servido na temperatura correta.
Conversamos sobre filosofia. O tema era a angústia do homem. Ela tinha lido alguma coisa, dava para perceber. Segurou a barra legal.
As suas mãos eram inquietas, pegavam a faca rabiscaba a toalha da mesinha com ela, tecendo figuras imaginárias.
Quando pedimos o prato, a conversa era outra Marcel Proust e as "madeleines".
Esticamos a noite e fomos num bar que ela conhecia e ficava na rua Pedroso Alvarenga, no Itaim.
O lugar parecia ter saído da década de vinte, do século XX. Pedi um uísque, e ela pedi um Bellini.
Já tínhamos nessa época um olhar de cúmplices. Ás vezes começávamos a falar juntos, olhando um para o outro, iniciando a frase com a mesma palavra que o outro usava para iniciar a sua própria frase. Tesão total.
Quando chegamos na rua Fidalga, ela me abraçou e disse que ia passar o resto da madrugada comigo.
Ela entrou na casa, subiu a escada. Disse para colocar um som enquanto ela tomava um banho.
Coloquei um LP do Humble Pie. Pousei a agulha numa faixa chamada "Live with me" e fui preparar algo para beber.
Ela desceu a escada devagar. Usava apenas apenas uma camiseta que ela pegou na gaveta do meu guarda-roupa.
A última coisa que ela falou foi:
- Som bom esse!
Dei-lhe um beijo na boca e tirei a sua camiseta.
Acordamos tarde. Eram 11h:30min quando fui até a cozinha fazer café e fumar uma cigarrilha.
Eu estava preparando as torradas e ia fazer os ovos no prato, com presunto di parma, mostarda antiga e pimenta-do-reino, e o som do Kraftwerk começou a rolar na sala: "The hall of mirrors".
Olhei-a e ela estava só de camiseta novamente. Estava fumando um dos seus cigarros "alternativos" e estendeu um outro para mim.
- Enrolei para ti.
Dane-se o café, pensei.
- Creio que você vai passar o domingo aqui.
- Vou. Volto para a minha casa só se você quiser.
- É que eu tenho umas coisas pendentes da faculdade a resolver e...
- Vou embora então.
- Não! Foda-se o trabalho. Quero você aqui, comigo.
Lecionava de quarta às sextas-feiras. O restante dos dias passava com ela. E a cada vez que nós nos encontrávamos ela trazinha um sapo de brinquedo. A família Sapo dava indícios que aumentaria, à medida que a nossa cumplicidade aumentasse.
Secamos uma garrafa de conhaque fumamos mais dois alternativos e escutamos o Keith Jarrett executar ao piano um show que ganhou formato de LP, em 1975. Ela nem tinha nascido. os LP's tocaram aquele domingo todo e nós dois sentados juntinhos, namorando. Toda vez que escuto o The Köln Concert ou vejo as dezenas de sapos espalhados pela casa (não os retirei, nem vou retirar - lembram a minha época de alegria e felicidade) lembro-me dela, dos seus cabelos e dos seus olhos cúmplices.
terça-feira, 9 de março de 2010
Sapos II
Ainda dava para ver o sol, quando a campainha tocou e eu fui quem poderia ser.
Era ela. Carregava uma caixa enorme de papelão. Abri o portão e ela entrou me cumprimentando. Entregou-me a caixa e disse:
- Trouxe-lhe um presente, mas não deu para embrulhar porque eu peguei as coisas escondidas do meu pai.
A caixa estava lacrada com fita adesiva. Era pesada.
Convidei-a para entrar e enquanto abria a caixa com o meu canivete, ela se serviu de vinho.
O presente consistia em litros de uísque, vodca, conhaque e tequila.
Três garrafas de Logan, quatro garrafas de vodca Wyborowa (duas puras e duas com sabor abacaxi), duas garrafas de conhaque Hennessy Paradis Extra e duas garrafas de tequila Don Julio Reposado.
Devo ter feito uma cara de surpresa, porque ela ria bem alto, chegando inclusive a se curvar na cadeira de tanta risada.
- Você acha engraçado, mas não tem idéia de quanto custa cada garrafa de conhaque dessas.
Seu pai vai ficar uma arara quando der pela falta dessas garrafas!
- Você fala engraçado! Ficar uma arara... minha vó que falava assim! Meu pai temmmmmmmmmmmmm muuuuuuuuiiiito dinheiro, não vai sentir falta dessas garrafas. Além disso, eu gosto de bebidas destiladas e pretendo vir mais vezes aqui.
E antes que eu pudesse falar qualquer coisa sobre roubo ela me calou com um beijo nos lábios.
Onde eu iria para com isso tudo eu não sabia, mas ela era a dona da bola, e talvez do jogo também.
Ela, numa petulância, que depois fui perceber, artificial, foi até o living e começou a mexer nos meus antigos vinis. Perguntou se o aparelho Gradiente funcionava. Disse-lhe que sim, mas não acreditava que ela fosse encontrar algo do gosto dela para escutar.
- Isso eu verei agora.
Meu Deus, pensei. De repente ela grita:
- Uau! David Bowie! Vou colocar pra tocar!
Escolheu a faixa, pôs a agulha e logo Bowie estava cantando:
- I/I will be king/ And you/You will be queen.
- Heroes, cara! FasequeBowiegravoudiscosantológicosemBerlim, ela falou assim, de uma vez só.
Não esperou resposta e cantou junto o trecho que dizia:
- We can be Heroes/Just for one day.
- Eu te acho assim, um herói. Um D. Quixote! Eu trouxe mais algumas coisas que estão na minha bolsa, se você não se importar com os meus cigarros alternativos, é claro. Se você quiser, eu vou embora, é só falar.
Ela estava esparramada no chão, sobre o tapete da sala, diante do aparelho de som. Seus cabelos volumosos esparramados pelos seus ombros e a minha vida esparramada pelo destino.
Seus olhos castanhos fazendo par com os cabelos se insinuavam.
Pensei: nunca vou deixar essa tigresa sair daqui. Nem se chamarem o resgate, bombeiros ou trouxerem o BOPE ela escapa das minhas mãos.
- Acenda o que você quiser, tigresa.
- Tigresa! Taí gostei da palavra. Geralmente os garotos da minha idade se referem a mim como potranca.
- Uau! Dessa vez fui eu que exclamei.
Ela se levantou passou por mim, resvalando seu corpo no meu, e foi até a cozinha pegar a sua bolsa que havia ficado numa das cadeiras da mesa.
Sapos
Quando vi não acreditei. Depois de um tempo, eles foram tomando conta de todos os cômodos. Grandes, pequenos, enormes, lisos, enrugados, doces ou de aspecto feroz. Sapos verdes claros, verdes mais escuros, bemmm escuros.
A casa, que ficava na rua Fidalga, estava tomada de sapos. E foi ela quem trouxe. Ela adorava esses sapos. colocáva-os sentados nos espoços vagos das estantes, na mesinha do centro da sala de estar, no nosso quarto, sobre a geladeira, enfim, em todo lugar que coubesse um sapo.
Essa coisa de sapo começou quando nos conhecemos. Eu lecionava. Tinha montado uma série de palestras com alunos de todos os anos. As aulas não eram obrigatórias. As palestras giravam em torno de Thoreau, Emerson e Whitman e a influência exercida sobre determinadas pessoas, contrapondo-os à sociedade voraz, que aqui está a devorar as nossas almas.
Ainda existia, para ilustrar o conjunto de palestras, o filme "Na natureza selvagem." A sala sempre enchia e uma outra palestra era marcada para quem ficou de fora.
Inevitavelmente o cheiro de maconha era tão normal quanto os alunos tomarem notas (poderiam com trabalhos sobre as palestras cobrir créditos que faltavam em outras matérias mais chatas).
Um dia, ela permaneceu após as aulas e pediu algumas explicações. Chamava-se Tânia, a moça.
Cabelos castanhos escuros, volumosos, deixavam uma boa impressão. Estavam em harmonia com os olhos castanhos e a face marcante, de lábios carnudos e carmesins.
Na terceira vez que ela ficou para falar comigo, a sua linguagem corporal já dizia tudo.
Terminou por convidar-me a passar o sábado (era terça-feira) na propriedade do pai dela, num condomínio fechado.
Aceitei.
Foi nesse dia que ganhei o meu primeiro sapo. Enorme, verde claro, olhões de sapo, eu creio.
Feito artesanalmente, ele tinha um metro de comprimento. Foi só gozação.
Na saída, enquanto recolhia algumas garrafas, roubou-me um beijo.
Depois, nos despedimos formalmente e eu peguei a estrada de volta para a Vila Madalena.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
S. ou No Se Puede Vivir Sin Amor
Uísque. Sim uísque Cutty Sark, depois foi a fase do Red Label e no final era o Jack Daniel's.
Nos primeiros dias ainda estava paralisado pelo choque: ela me deixou.
Nos primeiros dias não fazia nada, larguei tudo nesse mundo.
Nos primeiros dias bebia Cutty Sark com muito gelo. Depois era a fase do Red Label, delícia.
O Jack Daniel's veio no fim, no desespero.
A proporção do gelo no copo ia diminuindo enquanto a de uísque, essa jóia dourada, ia aumentando.
No fim, não colocava mais gelo para não atrapalhar o gosto da bebida.
No começo, chorava a partir da terceira dose. As lágrimas se misturavam com o uísque e com a saudade.
No início sempre deixava o computador ligado na esperança de um recadinho dela, dizendo: - Venha, querido, tudo não passou de um sonho ruim.
As esperanças se foram junto com as lágrimas. Não choro mais. O uísque permaneceu. Sem gelo e sem dor visível.
Dei para beber: um litro por noite. Os comprimidos para dormir vieram mais tarde.
A minha imobilidade só tinha fim para colocar mais uma dose ou para bater as cinzas em qualquer recipiente que fazia as vezes de cinzeiro, que transbordava de restos de cigarrilhas e lembranças.
Conheci S. fazia dois anos. Entrou na minha vida por acaso, pedindo uma lista de livros, uma biografia do "Che", algo para ela ler. Mandou uma letra do Pink Floyd, Eclipse, e eu respondi com uma letra do The Doors, The End. A sua luminosidade entrou por uma fresta que eu inadvertidamente deixei entrever.
Conectados de alguma maneira, ríamos um do outro. Não percebi a diferença de idade: eu 45 e ela 28. Nada disso importava. Estava muito feliz com essa amizade.
Numa segunda-feira, ela se declarou apaixonada por mim.
Eu tinha que falar numa palestra de filosofia sobre Platão.
A partir desse instante vivi para ela. Vendi propriedades, comprei propriedades, trabalhei como um louco, fiz dinheiro.
A levaria para morar comigo na Toscana. Pensei, sozinho, até na possibilidade de ser pai.
Tolice.
De repente, ou aos pouquinhos, não me lembro mais, ela se afastou.
nâo respondia mais os meus recadinhos, não atendia mais o telefone.
No final, eu fiquei envergonhado.
Lógico que ela não gostava de mim. Só eu que não vi.
Não passei de uma distração entre a composição e a estação.
No CD player passei a ser parceiro de Tom Waits e Billie Holiday.
E comecei a beber.
No se puede vivir sin amor. Essa frase ficou na minha cabeça. Não sei de um filme, ou letra de uma música ou então poema.
O dia que a campainha tocou, eu disse: - Hoje não.
Ou talvez não tenha dito nada, não lembro.
Pouco me interessa também.
Aos poucos fui deixando este mundo. Telefone, tv e computador desligados.
O médico vizinho, me deu mais quatro meses de vida.
Essa vida.
Tom Waits diz repetivamente: - The piano has been drinking (not me).
Sobre mesinha de centro, coloquei a minha magnun .44,carreguei com os seis projeteis. Acharei o fundo desse poço sem fundo.
Não tenho tempo para justificativas vãs, nem orações sem sentido. Vou de encontro ao fogo que me espera.
Com uma única verdade em mãos: "sí, nadie puede mismo vivir sem amor." Tomou o último gole que restava naquele copo, respirou fundo, apontou a arma contra si próprio, apertou o gatilho e encontrou a paz que desejava.
"Procuramos a morte na ponta de uma vela.
Estamos dependurados de ponta cabeça à beira do abismo,
estamos à procura de algo que já nos encontrou."
S. nunca foi identificada pela polícia. Os investigadores relataram que S. nunca existiu, não passando de um delírio do escritor.
Quanto àquela mulher vestida de preto, segurando as mãos de uma criança de sexo masculino, não foi encontrada. Mas nos depoimentos prestados por vários amigos do falecido ela é citada.
Sobretudo, pela sua risada cativante que ecoava nos ambientes que os dois frequentavam.
O laudo da perícia afirma que a arma disparou acidentalmente enquanto o escritor a limpava, às 04h:30min (isso se a estimativa da hora do acontecido estiver correta).
sábado, 27 de fevereiro de 2010
QOHÉLET - O PREGADOR
QOHÉLET
Overture:
O homem é o único animal que ri e chora,
porque é o único animal
a quem impressiona a diferença
entre o que as coisas são
e o que deveriam ser.
William Hazlit
A sabedoria
grande recompensa se torna
a quem que nada tem a perder.
Liberto de preconceitos,
livre por não estar atrelado penosamente
a formas de viver
e de pensar,
livre da cobiça do dinheiro, do poder
da conveniência, que muitos
sacrificam suas vidas
achando que viverão mais e melhor
aquilo que se acha sob o sol.
Por isso, vivo.
E nada há de novo sob o sol.
Eu, o Pregador,
Vi todas as obras que se fazem sob o sol;
eis que tudo é vaidade e aflição de espírito.
Aquilo que é torto não se pode endireitar;
aquilo que falta não se pode enumerar.
Assim como o mais doce dos frutos amadurecem
sob o calor do sol do verão,
nós só amadurecemos graças ao sol intenso
dos nossos sofrimentos,
porque é difícil abrir mão das ilusões,
ainda que saibamos que a realidade é
muito melhor
do que qualquer ilusão.
Nada mais tenho a perder,
se é
que algum dia tive algo
que pudessem me tomar.
Por isso, sou livre.
Contudo,
na grande sabedoria há grande pesar;
e aquele que cresce em saber,
cresce em dor.
Um último aviso, meu filho:
nunca se acaba de escrever
mais e mais livros,
e o estudo excessivo
desgasta
o corpo.
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