terça-feira, 3 de janeiro de 2012

INDÚSTRIA NACIONAL

O pessimismo da indústria 
O Estado de S.Paulo - Editorial
A economia brasileira vai crescer em 2012 mais que em 2011, promete a presidente Dilma Rousseff, mas há pouco motivo para otimismo na Confederação Nacional da Indústria (CNI). Seus economistas preveem mais um ano ruim para o setor fabril, incapaz de acompanhar a expansão da demanda interna. A previsão é especialmente preocupante, porque a atividade industrial continua sendo a principal fonte de empregos de qualidade e o mais importante foco de modernização tecnológica do Brasil.
Desindustrialização pode ser um diagnóstico exagerado, mas seria um erro menosprezar as dificuldades do setor manufatureiro. A economia brasileira ainda terá de avançar muito para atingir o chamado estágio pós-industrial. Além disso, mesmo nas economias já nesse estágio, a indústria ainda é objeto de cuidados e atenções dos formuladores de políticas. Ninguém despreza os empregos na área fabril.
No ano passado, a indústria de transformação deve ter produzido apenas 1,8% mais que no ano anterior, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido 2,8%, segundo estimativas divulgadas pela CNI. As projeções para 2012 apontam um quadro parecido, com aumento de 3% para o PIB e de apenas 2,3% para a produção das fábricas brasileiras. O fraco desempenho da indústria de transformação é em parte atribuível à crise internacional. O desemprego elevado afetou a demanda de importações nas economias mais desenvolvidas. As condições mais difíceis no mercado internacional tornaram a concorrência mais dura e até indústrias altamente competitivas têm perdido negócios. Mas, no caso da indústria brasileira, a estagnação no mundo rico apenas agravou e tornou mais sensíveis algumas dificuldades já conhecidas há vários anos e experimentadas mesmo na fase de prosperidade global.
As estimativas do Banco Central (BC) para 2011 e 2012 ajudam a perceber a natureza dos problemas. Segundo esses cálculos, a produção fabril cresceu 0,9% no ano passado, enquanto o PIB aumentou 3%. Do lado da demanda, o consumo das famílias expandiu-se 4,1% e o do governo, 2%. Os investimentos, medidos como formação bruta de capital fixo, foram 5,1% maiores que os do ano anterior. Uma parte importante dessa demanda vazou para o exterior e foi compensada por aumentos de importações.
De acordo com o BC, esse quadro ficará ainda mais bem definido em 2012. As projeções incluem crescimento de 3,5% para o PIB, 3% para o setor de transformação, 4% para o consumo das famílias, 3,2% para o do governo e 5% para o investimento. As exportações de bens deverão aumentar 4,3%, enquanto as importações deverão crescer 7%, com redução do superávit comercial de US$ 28 bilhões (resultado efetivo: US$ 29,8 bilhões) para US$ 23 bilhões.
A incapacidade da indústria de acompanhar o aumento da demanda interna ficará ainda mais patente - assim como a sua dificuldade para conquistar e até para manter espaços conquistados no mercado externo. O resultado comercial de 2011 só não foi pior graças aos bons preços dos produtos básicos, e não graças ao desempenho do setor manufatureiro.
Segundo o governo, a indústria ficará mais forte neste ano, quando estiverem valendo todos os benefícios previstos no Plano Brasil Maior, lançado em agosto. Por meio desse plano, o governo aumentou as barreiras de proteção ao setor automobilístico e estabeleceu benefícios fiscais para exportadores de manufaturados. O principal incentivo será a devolução de parte dos tributos. Foi programada, além disso, a desoneração da folha de salários de algumas indústrias.
Se depender desse esquema, o setor manufatureiro jamais voltará a ser competitivo. Barreiras podem preservar o mercado interno - isso nem sempre ocorre -, mas não tornam as empresas mais competitivas para exportar. Devoluções de impostos podem ajudar, mas são passíveis de contestação internacional, se os critérios não forem muito bem formulados. Nesse caso, a improvisação é evidente. Nenhum remendo substitui uma tributação funcional. As fraquezas do plano são ostensivas. Mas a indústria tem sido incapaz de propor uma discussão razoável e de cobrar uma política séria para redução de custos e aumento de eficiência.

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